sexta-feira, dezembro 18, 2009

Benvindo Sr. Presidente

Soubera eu que o senhor vinha
e com certeza não me tinha
apanhado na cozinha
ovos mexidos com salsichas
batata frita de pacote
e o que sobrou de um happy-meal
três embalagens de ketchup

Soubera eu que no rastreio
eu tinha sido o escolhido
um caso típico do meio
teria pedido ao serviço
que à parte de me ter dispensado
que atribuísse qualquer verba
p´ra eu tratar do convidado

Não é casa que se mostre
não é casa que se mostre
a um visitante tão ilustre

Mas
Benvindo Sr. Presidente
do Consenso Capicua
sente sente
Vá! Aqui no sofá
a casa é sua!
um café? Cerveja já não há
a casa é sua!
vou buscar a vassoura e a pá
a casa é sua!
e um banco corrido para estes senhores
Como é que se chamam?
Ah! Assessores...
Soubera eu do seu programa
e teria pelo menos
recolhido o sofá-cama
foi lá que ressonei pesado
sonhei vinganças de ex-marido
e nem senti que a mãe e o puto
p´la manhã tinham fugido
mas isso agora não interessa
mas isso agora não interessa
fotos, poses, peça, peça

Benvindo Sr. Presidente
do Consenso Capicua
sente sente
Vá! Aqui no sofá
a casa é sua!
um café? Cerveja já não há
a casa é sua!
vou buscar a vassoura e a pá
a casa é sua!
e um banco corrido para estes senhores
Como é que se chamam?
Assessores...

Soubera eu desta visita
e não me tinha agora aqui
a queixar-me da desdita
do futuro um parasita
eu que quis vida bonita
a sua agenda é apertada
e a sua vida correria
posso já ficar sozinho
ou quer ainda que sorria?
o certo é que o senhor merece
o certo é que o senhor merece
esquecer o que me acontece

Benvindo Sr. Presidente...

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Capitão Romance

Não vou procurar quem espero:
Se o que eu quero é navegar!
Pelo tamanho das ondas
Conto não voltar.

Parto rumo à primavera,
Que em meu fundo se escondeu!
Esqueço tudo do que eu sou capaz:
Hoje o mar sou eu...

Esperam-me ondas que persistem,
Nunca param de bater!
Esperam-me homens que desistem,
Antes de morrer!

Por querer mais do que a vida,
Sou a sombra do que eu sou.
E ao fim não toquei em nada,
Do que em mim tocou.

Eu vi,
Mas não agarrei...

Parto rumo à maravilha,
Rumo à dor que houver pra vir.
Se eu encontrar uma ilha,
Paro pra sentir!

Dar sentido à viagem,
Pra sentir que eu sou capaz!
Se o meu peito diz coragem,
Volto a partir em paz.

Eu vi,
Mas não agarrei...

quinta-feira, dezembro 10, 2009

terça-feira, dezembro 08, 2009

Hoje quem

Nuno Prata
in: Todos os dias fossem estes/outros

Hoje quem acordou na minha cama,
hoje quem é que eu sou?
Já é manhã mas esta noite ainda não passou.

Que força tenho quando me tenho só a mim,
de quem mais eu preciso para respirar?
A minha cara faz-me sempre lembrar alguém…
E os meus olhos são de quem?

Eu queria ser como tu.
Eu queria crer como tu.

Eu queria ser como eu
mas dos meus sonhos acorda outro alguém.
Eu queria ser como quem?

Hoje quem acordou na minha carne
e que sonhos roubou
na madrugada de um dia que já passou?

Todo o tempo é tempo de acreditar.
Mas tanto tempo já passou
sem que a fé encontrasse em mim lugar…
(Estava sempre onde eu não queria estar.)

Eu queria ser como tu.
Eu queria crer como tu.

Eu queria ser como eu
mas dos meus sonhos acorda outro alguém.
Eu queria ser como quem?

Hoje quem acordou na minha cama,
hoje quem é que eu sou?
Já estou a pé e o dia ainda nem chegou…

Isso foi antes

De: Nuno Prata

Em tempos fui feliz.
Em tempos fui
um rapaz tão afável.

Em tempos fui —
mas isso foi antes
de descrer de tudo.

(Foi muito antes
de descrer
de tudo.)

Em tempos foi feliz.
Em tempos foi
uma rapariga adorável.

Em tempos foi —
mas isso foi antes
de desistir de si.

(Foi muito antes
de desistir
de si.)

Em tempos fomos felizes.
Em tempos fomos
criaturas tão prestáveis.

Em tempos fomos —
mas isso foi antes
de sairmos ao mundo.

(Foi muito antes
de sairmos
ao mundo.)

segunda-feira, dezembro 07, 2009

Nó Cego

"A cerveja já está choca
e o café quase a fechar,
tenho a cabeça tão oca,
Estou mesmo a flipar

Hoje quase não dormi
E o rádio não liguei
Para não pensar em ti,
Bebi Rum e até drunfei

E no meu quarto fechado,
num terrível abandono
Senti-me um macho falhado
Deixei de ser teu dono.

Nó cego, foi o que deste em mim rapariga!

Nó cego! deste-me cabo da vida!

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Uma aventura em Angra do Heroísmo - Parte 10


Solar da Madre de Deus


Exemplo de casa solarenga dos séculos XVII/XVIII, típica das zonas mais altas das cidades portuárias portuguesas das ilhas e do Ultramar.



Isto precisa é de um referendo em cada esquina


Eu, canhoto confesso, aplaudo de pé este texto do RAP.

Guilherme Rietsch Monteiro




O casamento entre pessoas do mesmo sexo deve ser referendado caso a caso. Se o objectivo é metermo-nos na vida dos outros, façamo-lo com o brio que essa nobre tarefa merece.

in: Visão


Confesso que não sei se as pessoas nascem com essa característica ou se optam por adoptar o comportamento desviante que a Bíblia, aliás, condena - mas, na minha opinião, os canhotos não deveriam poder casar. Nem adoptar crianças. Um casal de pessoas, digamos, normais, acaricia a cabeça dos filhos como deve ser, da esquerda para a direita. Os canhotos acariciam da direita para a esquerda, o que pode ter efeitos perversos na estrutura emocional das crianças. Na verdade, sou contra a adopção por casais heterossexuais em geral, sejam ou não canhotos. Atenção: não tenho nada contra os heterossexuais. Tenho muitos amigos heterossexuais e eu próprio sou um. Mas não concordo que possam adoptar crianças. Em primeiro lugar, porque é contranatura. Quando olhamos para a natureza, não vemos casais de pardais ou de coelhos a adoptarem crias de outros. Pelo contrário, esforçam-se por colocar as suas crias fora do ninho ou da toca o mais rapidamente possível. Ou usam as suas próprias crias para produzir novas crias. Mas não adoptam. Provavelmente, porque sabem que é contranatura. Por outro lado, a adopção por casais heterossexuais pode condicionar a sexualidade das crianças. Todos os homossexuais que conheço são filhos de casais heterossexuais. A influência de heterossexuais tem, por isso, aspectos nefastos que merecem estudo cuidadoso. Por fim, há a questão do estigma social. Suponhamos que uma criança adoptada por um casal heterossexual é convidada para ir a casa de um colega adoptado por um casal de homens. Como é que o miúdo que foi adoptado por heterossexuais se vai sentir quando perceber que a casa do colega está muito mais bem decorada do que a dele?

Quanto ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, mais do que ser a favor de um referendo, sou a favor de vários. Creio que o casamento entre pessoas do mesmo sexo deve ser referendado caso a caso. O Fernando e o Mário querem casar? Pois promova-se uma grande discussão nacional sobre o assunto. A RTP que produza um Prós e Contras com cidadãos de vários quadrantes que se posicionem contra e a favor da união do Fernando e do Mário. Organizem-se debates entre o Mário e os antigos namorados do Fernando, para que o povo português possa ter a certeza de que o Fernando está a fazer a escolha certa. E depois, então sim, que Portugal vá às urnas decidir democraticamente se concede ao Mário a mão do Fernando em casamento. E assim para todos os matrimónios. Se o objectivo é metermo-nos na vida dos outros, façamo-lo com o brio que essa nobre tarefa merece.

Defendo, portanto, uma abordagem especialmente cautelosa desta questão. Sou muito sensível ao argumento segundo o qual, se permitirmos o casamento entre pessoas do mesmo sexo, teremos de legalizar também as uniões dos polígamos. E sou sensível porque, como é evidente, não posso negar que me vou apercebendo da grande movimentação social de reivindicação do direito dos polígamos ao casamento. Parece que já temos entre nós vários muçulmanos, grandes apreciadores da poligamia. E eu não tenho homossexuais na família, nem entre os meus amigos, mas polígamos, muçulmanos ou não, conheço umas boas dezenas. Se toda esta massa poligâmica desata a querer casar, receio que os notários fiquem com as falangetas em carne viva, de tanto redigirem contratos de união civil. Mas, felizmente, confio que os polígamos sejam, também eles, sensíveis à mais elementar lógica: a poligamia é uma relação entre uma pessoa e várias outras de sexo diferente. A reivindicarem a legalização das suas uniões, fá-lo-iam a propósito do casamento entre pessoas de sexo diferente, com o qual têm mais afinidades. A menos que se trate de poligamia entre pessoas do mesmo sexo. Mas, segundo o Presidente do Irão, parece que entre os muçulmanos não há disso.

domingo, novembro 29, 2009

Uma Aventura em Angra do Heroísmo - Parte 9


Palácio Bettencourt


Edifício de arquitectura barroca, construído nos finais do séc. XVII, princípios do séc. XVIII, com algumas alterações posteriores que não afectaram a beleza arquitectónica do edifício.



Na fachada principal podemos admirar um rico pórtico lavrado em cantaria da região, constituído por duas colunas, salomónicas encimadas por capitéis compósitos e arquitrave, e uma ampla cartela que envolve a pedra de armas da família que aqui viveu - a família Bettencourt.



Bom exemplo das casas solarengas de Angra.

quinta-feira, novembro 19, 2009

Estes gaj@s enervam-me!


Estes gaj@s enervam-me mesmo!
Como é possível, com o número super reduzidíssimo de mortes com gripe A, andarem a fazer tanto alarido, nunca referenciando o número de mortes que houve no mesmo período com gripe comum, e agora, quando já morreram 3 fetos por causa da vacina, virem dizer que todos os anos morrem 300 fetos...
Que interesses obscuros há aqui por trás?! Como é que esta gente vem falar, e afirmar coisas que não sabem?! Que ganham com isso?! Não sei, mas têm que ganhar alguma coisa de certeza, é impossível serem tão incompetentes e ignorantes, para dizerem o que dizem, sem andarem a mamar!
Este pânico, esta gripe e esta vacina, servem apenas aos interesses laboratoriais de uma qualquer farmacêutica (aconselho vivamente a leitura e/ou o visionamente de "O Fiel Jardineiro"). A vacina foi feita às 3 pancadas. Começou a ser distribuída há semanas, e vêm dizer "se foi por causa da vacina, é o primeiro caso em todo mundo...", como se quer o vírus, quer a vacina existissem há uma eternidade! Se é tudo novo, é natural que as coisas só aconteçam agora, ou não?! Como é possível defenderem algo sobre a qual não têm responsabilidades, em vez de aconselharem prudência, pedirem averiguações, até haver provas do que verdadeiramente aconteceu? Não havendo conclusões, falar claramente a todos nós, explicando que não se pode dizer porque aconteceu. Agora, virem tão rapidamente dizer que está tudo bem, e já vamos no 3º caso (morrem mais depressa fetos de mães vacinadas, do que pessoas com gripe A), só pode significar coisas muitas obscuras por trás... Até alguém desvendar a face oculta...

sexta-feira, novembro 13, 2009

Recordando Guerra Junqueiro

Descobre as diferenças entre o antes e o agora!

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (...)

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...)

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do país, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre - como da roda duma lotaria. A justiça ao arbítrio da Politica, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos (...), sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...)"


Guerra Junqueiro, in "Pátria", escrito em 1896

Conta-me histórias



A argamassa alegórica dos muros metafóricos



Somos um povo de construtores civis da metáfora, de patos-bravos da figura de estilo - o que não tem mal nenhum

in: Visão


As carinhosas irmãs vicentinas que me educaram até à quarta classe suportaram o meu ateísmo sem o mais pequeno queixume. E suportaram-me a mim com o mesmo silêncio, o que é ainda mais notável. O facto de não terem tentado sequer convencer-me a fazer ao menos o baptismo revela um respeito tão firme pela liberdade religiosa que chega a comover-me. Por outro lado, pode dar-se o caso de não terem querido oferecer um sacramento ao pecadorzinho pertinaz que, sem dúvida nenhuma, perceberam que estava ali a despontar. Também comove: senhoras que viviam em reclusão, com pouca experiência do mundo real, conseguiam mesmo assim topar um selvagem aos seis anos. Mas, mesmo não tendo desperdiçado proselitismo que lhes fazia falta para salvar almas mais merecedoras da salvação, ainda assim ensinaram-me canções religiosas. Esta semana, recordei uma que se chamava Os muros vão cair.

É interessante quando certos pormenores da biografia do cronista se adequam ao tema tratado na crónica, não é? Ficamos com a sensação de que o tempo passa pelo mundo e pelo cronista do mesmo modo, que deixa em ambos a mesma marca, e sobretudo que o mundo e o cronista têm a mesma importância, o que é especialmente agradável. (Para o cronista. Para o mundo, é relativamente desprestigiante.) Por isso, sempre que posso invento um facto biográfico que se relacione com os principais acontecimentos da semana. Desta vez, não precisei de fazê-lo. As freiras ensinaram-me mesmo a música político-religiosa Os muros vão cair, que falava de muros metafóricos em geral para falar do muro de Berlim em particular.

A esta distância, constato que as vicentinas tinham duplamente razão: dez anos depois, o muro de Berlim caiu mesmo, e 20 anos depois da queda as metáforas sobre muros continuam pujantes. Quando, na passada segunda-feira, se comemorou o aniversário da queda do muro, ficou claro que as metáforas com muros estão para o muro de Berlim como a pergunta "Queria, já não quer?" está para os clientes dos cafés que, por educação, fazem o pedido no pretérito imperfeito. A queda do muro é uma efeméride que, ano após ano, ouve sempre as mesmas piadas. Todos, mas mesmo todos os comentadores lembraram outros muros que, à semelhança do de Berlim, devemos derrubar. O muro da intolerância, o muro da injustiça ou o muro da desigualdade social foram alguns dos muros mais citados. E todos, mas mesmo todos, apontaram a seguir as pontes que devem ser construídas nas ruínas dos muros. A ponte da esperança e a ponte do entendimento entre os povos foram as duas infra-estruturas metafóricas mais referidas. Se juntarmos a estes muros e pontes as auto-estradas da informação, percebemos que as metáforas sobre obras-públicas são, sem dúvida nenhuma, as mais populares do espaço público português. Somos um povo de construtores civis da metáfora, de patos-bravos da figura de estilo - o que não tem mal nenhum. Estou só a observar um fenómeno sem o julgar. Por favor, não me enfiem no túnel da incompreensão.

domingo, novembro 08, 2009

Uma aventura em Angra do Heroísmo - Parte 8



Igreja do Santíssimo Salvador da Sé




Edificada por ordem do Cardeal D. Henrique, a partir de 1570, sobre a anterior igreja paroquial construída por Álvaro Martins Homem (cerca de 1461). Nela está sepultado, entre outros, o provedor das Armadas Pero Anes do Canto.





De estilo renascentista e "chão", foi seu mestre de obras Luís Gonçalves. Voltada a Norte, contraria o costume antigo das igrejas com capela-mor virada a Jerusalém.
Do primitivo altar-mor conservam-se os painéis da vida de Cristo (pintura sobre madeira, séc. XVI).
A estante de leitura ao estilo indo-português, em jacarandá do Brasil com marfim de baleia, e executada nos Açores é um testemunho precioso dos Açores como pólo de encontro de culturas.
O frontal em prata do altar do Santíssimo, feito entre 1702 e 1720 por Manuel Carneiro de Lima para a Confraria do Santíssimo, é um rico exemplo de ourivesaria terceirense.

domingo, novembro 01, 2009

Uma aventura em Angra do Heroísmo - Parte 7



Palácio dos Capitães Generais




No lugar onde antes existiam as casas da família Távora, construíran os Jesuítas um colégio com um Pátio de Estudos (onde é agora o parque de estacionamento) e Igreja.
Em 1776, o 1º Capitão General dos Açores, D. Antão de Almada, propõe e começa a adaptar o edifício a palácio.
Por duas vezes foi Paço Real (1832 - D. Pedro IV, 1901 - D. Carlos I).
O templo, rico em talha dourada, azulejaria e imagens, reflecte a Igreja da reforma e, simultaneamente, a influência do gosto pelos motivos decorativos das Índias.
O edifício ainda conserva estruturas dessa época.

sexta-feira, outubro 30, 2009

Sobreviver à doença, escapar da cura



Primeiro, houve o pânico provocado pela gripe A. Agora, há o pânico provocado pela vacina contra a gripe A. A doença gera pânico; a cura gera ainda mais

in: Visão


Já se demitiram ministros por causa de anedotas relacionadas com a saúde pública portuguesa, mas isso não foi suficiente para que a saúde pública portuguesa deixasse de parecer uma boa anedota. Talvez seja útil fazer um pequeno resumo das últimas e intrigantes ocorrências no âmbito da nossa sempre divertida saúde. Primeiro, houve o pânico provocado pela gripe A. Agora, há o pânico provocado pela vacina contra a gripe A. A doença gera pânico; a cura gera ainda mais. O medo é tanto que eu tomaria uns calmantes, se não tivesse medo de os tomar. Bem disse o filósofo José Gil que os portugueses tinham medo de existir: entre deixar de existir, por causa da gripe, ou continuar a existir, graças à vacina, vacilamos. Na dúvida, receamos as duas. Não é fácil ser doente - e deve ser ainda mais difícil ser médico, que tem de confortar o paciente quando contrai a doença e confortá-lo mais ainda enquanto lhe administra a cura.

Visto de fora, desde que se descobriu o novo vírus da gripe os portugueses passaram a correr para um lado gritando "Fujam, vem aí a doença!", e depois passaram a correr para o outro gritando "Fujam, vem aí a cura!" A fugir, estamos sempre. Só muda o perseguidor.

Qual é, afinal, o mais grave? O vírus da gripe ou o vírus da vacina? Até ver, são ambos relativamente inofensivos. Um é curado por profissionais de saúde, o outro é transmitido por profissionais de saúde. A gripe A é mais fraca do que a gripe vulgar e a vacina provoca os mesmos efeitos secundários que qualquer outra vacina. Nem a gripe nem a vacina são particularmente perigosas para o homem. No entanto, ambos os vírus são letais para o meio ambiente. Temo que não haja árvores suficientes para abastecer os jornais do papel necessário para todas as notícias, publicadas e por publicar, sobre os malefícios da gripe A e os ainda maiores malefícios da vacina da gripe A. Não admira: a toda a hora surgem novas informações. Receava-se que houvesse vacinas a menos. Agora, uma vez que ninguém as quer tomar, receia-se que sobejem. Também causa dano. Suspirou-se por uma vacina. Agora, suspira-se por uma vacina contra a vacina. A ciência que resolva este problema. Já começamos a habituar-nos ao pânico da vacina. Precisamos urgentemente de outra coisa relacionada com a gripe A para recear.

terça-feira, outubro 27, 2009

Uma aventura em Angra do Heroísmo - Parte 6



Paços do Concelho




Angra teve três casas da Câmara. A primeira, com uma pequena praça defronte. Depois, o comércio das Índias e a importância da cidade levaram à construção de uma praça maior e de edifícios sucessivamente mais dignos até ao actual, construído já no séc. XIX e inspirado nos antigos Paços do Concelho do Porto. Possui um dos maiores e mais dignos salões nobres do País.





segunda-feira, outubro 26, 2009

Uma aventura em Angra do Heroísmo - Parte 5



Praça Velha




Praça é um conceito "repescado" da Antiguidade Clássica, quase sem uso durante a Idade Média.





Esta é, talvez, a primeira praça portuguesa desenhada para servir de ponto de encontro de dois arruamentos, de acordo com os ideais urbanos do Renascimento.






domingo, outubro 25, 2009

Queixa das almas jovens censuradas

Letra: Natália Correia
Música: José Mário Branco
in: Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crâneos ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte

Uma aventura em Angra do Heroísmo - Parte 4



Rua Direita




Primeira rua principal de Angra, conduzia "direitamente" do cais à praça e à casa do Capitão Donatário.





Marca a construção da primeira cidade moderna e aberta ao mar por um povo até aí habituado a outros modelos urbanos.

sexta-feira, outubro 23, 2009

E o Porto aqui tão perto


Três Cantos: José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto no Campo Pequeno [texto + fotos]




Quando soube deste concerto, que também se irá realizar no Coliseu do Porto, ainda era Agosto. Corri de imediato ao Coliseu e comprei bilhete. Na altura ainda só havia uma data, 31 de Outubro. A procura forçou a mais um espectáculo, quer em Lisboa, quer no Porto.
Infelizmente, quis o destino que tivesse de vir trabalhar para Angra do Heroísmo, e tive que vender o bilhete.
Fico muito contente por saber que vai haver um DVD, e de algum forma não ter perdido tudo!

Guardo ainda a consulação de a 25 de Setembro ter estado no Coliseu do Porto, no maior comício que o Bloco de Esquerda já realizou na cidade do Porto!

Guilherme Rietsch Monteiro


Texto: Lia Pereira
Fotos: Rita Carmo/Espanta Espíritos
in Blitz


Duas horas de paixão e partilha na primeira noite do espectáculo Três Cantos. Só canções, foram três dezenas... Saiba como correu o concerto.

Muita coisa mudou desde a primeira vez que José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto pisaram o mesmo palco - foi em 1974, um mês após a Revolução de Abril, e os concertos onde também José Afonso e Adriano Correia de Oliveira marcavam presença aconteciam em recintos como o actual Pavilhão Carlos Lopes, não numa reabilitada praça de touros com centro comercial nas imediações. Outras coisas, porém, mantêm-se inalteradas e, a adivinhar pela idade média daqueles que ontem encheram o Campo Pequeno, em Lisboa, muitos admiradores nunca abandonaram este trio de sobredotados, cujas carreiras se desenvolveram de forma plenamente autónoma, mas cuja raiz musical e ideológica continua suficientemente próxima para justificar noites especiais como a de ontem.

À entrada da sala, enquanto as câmaras registavam imagens e depoimentos para o DVD que há-de sair deste espectáculo, ouvimos a um espectador que acabava de se cruzar com amigos da sua geração: "Isto hoje é o Parque Jurássico!". E de facto o público maduro era mais numeroso do que o jovem, nas bancadas e na plateia do Campo Pequeno. Apesar de ruidosas queixas acerca do som, por parte dos que ficaram mais longe do palco, a rendição ao conceito Três Cantos seria total. Ao longo das duas horas de concerto - sem grandes pausas, se exceptuarmos as saídas previstas de alguns dos protagonistas da noite em certas canções - o povo esteve sempre do lado de José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto, que souberam retribuir com uma prestação generosa e inspirada.










Foi por volta das 21h45 que os cerca de 20 músicos que pisaram o palco do Campo Pequeno começaram a ocupar os seus lugares; para trás ficavam cinco meses de preparação, pela frente a equipa encarava a responsabilidade de estrear em grande um espectáculo que, nos próximos dias, repete nesta mesma sala e no Coliseu do Porto. "Guerra e Paz", de Sérgio Godinho, foi o primeiro passo numa longa e prazeirosa viagem; sentados de guitarra ao colo, os três homens da noite dividiram democraticamente a voz, num momento pausado, quase de aquecimento. À terceira música, contudo, já os ânimos se exaltavam com a chegada de "Como um Sonho Acordado", de Fausto, reconhecido aos primeiros segundos por uma plateia em êxtase. Apesar da grande quantidade de músicos em palco, esta e outras canções puderam respirar e expor o seu esqueleto, raras vezes afogado por instrumentação ou arranjos excessivos. Com bateria ribombante e o contraponto dos coros femininos, "Como Um Sonho Acordado" foi, a par de "O Primeiro Dia", "Ser Solidário", "Que Força É Essa" ou "Inquietação", um dos momentos que mais emocionaram o público.

Teria sido fácil transformar o conceito Três Cantos numa bajulação colectiva, suportada pelo estatuto dos três artistas em palco. Mas José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto souberam evitar a armadilha e foram especialmente económicos na chamada "troca de galhardetes"; aliás, só após o terceiro tema, "A Barca dos Amantes", José Mário Branco se dirigiu ao público para afiançar, com comoção e simplicidade: "Estou tão contente!". O entusiasmo era partilhado pelos muitos espectadores que, durante canções como "Eis Aqui o Agiota" ("Cada vez mais actual", apresentou Fausto), o clássico de Godinho "Casimiro (Cuidado com as Imitações)" ou "Mudam-se os Tempos Mudam-se As Vontades" não resistiam a entoar as letras, bater palmas ou marcar, alegremente, o ritmo dos temas com as mãos nos joelhos.












Tendo dividido com parcimónia o tempo de palco (cada músico teve direito a cantar sozinho, em dupla e em trio), os nossos heróis brilharam ainda quando, ao invés de uma "big band" atrás de si contaram apenas com a sua voz, guitarra e alma. Dedilhadas e contemplativas, "Não Canto Porque Sonho", de Fausto, ou "O Charlatão" de Sérgio Godinho foram dois exemplos desse "menos é mais" que tão bem resultou ontem à noite.

Tal como prometido, entre as 30 músicas do alinhamento houve espaço para um inédito - a frenética "Faz Parte (ou o Retorno das Audácias)" - e para uma versão de José Afonso, "De Não Saber o que se Espera". A primeira despedida chegou com "Maré Alta" e mereceu aos três bravos três cravos vermelhos entregues em mão. Mas foi no segundo encore que a euforia se instalou definitivamente e o Campo Pequeno em peso se levantou para participar na celebração em curso. Em palco, mais de 20 músicos munidos de bombos, baquetas e um adufe (ao colo de Sérgio Godinho) serviram um final catártico para o concerto, elevando "Na Ponta do Cabo", de Fausto, a ponto de exclamação de uma noite com poucas reticências. Mais poderoso do que mil efeitos especiais, o tema de Crónicas da Terra Ardente foi o remate perfeito para um concerto onde, mais do que a personalidade e os feitos individuais de cada músico, se celebrou o cancioneiro colectivo de José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto, bem como uma certa ideia de música portuguesa - tradicional mas com os olhos postos no futuro, combativa, quando não interventiva, e sempre fiel a si mesma.






quinta-feira, outubro 22, 2009

Portugal, rabejador da Europa



Será sensato que um país com o tamanho do nosso se aventure para fora da cauda da Europa? É importante não esquecer que é com a cauda que se enxotam as moscas. E que a cauda consegue enxotar tudo, menos o que está na cauda

in: Visão


Quando eu nasci, Portugal estava na cauda da Europa. Veio o PREC, e Portugal continuou na cauda da Europa. Depois chegou alguma estabilidade, e aí Portugal continuou na cauda da Europa. Entrámos na CEE, e permanecemos na cauda da Europa. Vieram os governos de Cavaco Silva, mais os milhões comunitários, e - então sim - Portugal continuou na cauda da Europa. Nisto, o PS voltou ao poder. E Portugal manteve-se na cauda da Europa. A seguir, o PSD regressou ao governo. E Portugal na cauda da Europa. Depois, mais governos do PS até hoje. E Portugal firme na cauda da Europa. Onde fica Portugal? Na cauda da Europa. Não se sabe que bicho é a Europa, mas lá que tem uma cauda é garantido. E não há dúvidas nenhumas de que Portugal está nela sozinho.

Nem sempre foi assim. No princípio, Portugal estava na cauda da Europa acompanhado. Nos anos 70, Espanha estava taco a taco connosco na cauda. Ora valia mais o escudo, ora valia mais a peseta. Primeiro, nós íamos ao El Corte Inglés fazer compras baratas. Entretanto, o El Corte Inglés veio para cá fazer vendas caras. De repente, os espanhóis meteram uma abaixo e começaram a galgar pela Europa acima - e nós ficámos na cauda com a Grécia. Nisto, os gregos também amarinharam. Abriu-se a União Europeia a países que estavam igualmente na cauda, como a Irlanda, e todos foram abandonando a cauda a caminho, suponho, do lombo da Europa.

Como se explica este fenómeno da nossa longa estada na cauda da Europa? Creio que só pode ser uma opção. E, sendo uma opção, tem de ser estratégica. É muito raro uma opção não ser estratégica. Já tivemos vários governos e regimes, e todos, sem excepção, optaram por nos manter na cauda. Deve haver um plano. Outros países, que não têm coragem de permanecer na cauda, foram avançando para a garupa. É lá com eles. Mais fica de cauda para nós.

A verdade é que alguém tem de ficar na cauda. E, no que diz respeito a caudas de continentes, a estar nalguma que seja na da Europa. Temos a experiência, o talento e, pelos vistos, a vocação para estar na cauda. Seria uma pena desperdiçar décadas e décadas de prática. Será sensato que um país com o tamanho do nosso se aventure para fora da cauda da Europa? É importante não esquecer que é com a cauda que se enxotam as moscas. E que a cauda consegue enxotar tudo, menos o que está na cauda. Os pessimistas dirão: temos o último lugar garantido. Os optimistas hão-de notar que, ao menos, é um lugar. E que está garantido. Já não é nada mau.

domingo, outubro 18, 2009

Uma aventura em Angra do Heroísmo - Parte 3



Estaleiro Naval




Vindos de Malaca, Goa, Cartagena, Havana ou Porto Rico, entre outros, os navios das Índias passavam por Angra a caminho de Lisboa, Cadiz ou Sevilha.





Cidade portuária, Angra tinha instalado no areal, cujos restos ainda existem, o seu estaleiro de construção e reparação naval.

terça-feira, outubro 13, 2009

Uma aventura em Angra do Heroísmo - Parte 2



Igreja da Misericórdia



Neste lugar fundou-se o primeiro hospital dos Açores, baseado em compromisso da Confraria do Santo Espírito, datada de 15 de Março de 1492.







Um dos fundadores foi João Vaz Corte-Real, Capitão de Angra e descobridor da Terra Nova.






A Misericórdia, que veio depois, associando-se à Confraria já existente, mandou construir o actual templo (séc. XVIII), onde se destacam, frente a frente, os altares do Espírito Santo, à esquerda, e do Santo Cristo das Misericórdias, à direita.
No séc. XIX mudou-se o hospital para o Convento das Concepcionistas, à Guarita.

sábado, outubro 10, 2009

Uma aventura em Angra do Heroísmo - Parte 1


Outeiro da Memória
A D. Pedro IV


Neste outeiro mandou construir João Vaz Corte-Real a primeira fortaleza dos Açores (cerca de 1474).
Longe do mar, espelha a ideia ainda medieval, continental e mediterrânica de uma defesa em acrópoloe.
A pirâmide eleva-se, desde meados do séc. XIX, "à memória" da presença do rei D. Pedro IV na ilha Terceira, durante a preparação do desembarque das tropas constitucionais no Continente.

segunda-feira, setembro 28, 2009

Pano Cru

Ouve, meu amigo
põe a máquina a gravar
queria só explicar aqui
que eu sou como o pano-cru
como pano-cru
eu ainda estou por acabar
e como o linho vem da terra
assim viemos eu e tu
e como tu eu faço e amo
e luto e dou
e como tu eu estou
entre aquilo que já fiz
e aquilo que eu fizer
eu sou de pano-cru

Memórias de um beijo

Luís Represas

Lembras-me uma marcha de Lisboa
Num desfile singular,
Quem disse
Que há horas e momentos p´ra se amar
Lembras-me uma enchente de maré
Com uma calma matinal
Quem foi
Quem disse
Que o mar dos olhos também sabe a sal

as memórias são
Como livros escondidos no pó
As lembranças são
Os sorrisos que queremos rever, devagar

Queria viver tudo numa noite
Sem perder a procurar
O tempo, ou o espaço
Que é indiferente p´ra poder sonhar

as memórias são
Como livros escondidos no pó
As lembranças são
Os sorrisos que queremos rever, devagar


Quem foi que provocou vontades
E atiçou as tempestades
E amarrou o barco ao cais
Quem foi, que matou o desejo
E arrancou o lábio ao beijo
E amainou os vendavais

quinta-feira, setembro 24, 2009

Os argumentos mais comuns em defesa da praxe e os contraargumentos de quem a combate.


1 - A praxe cria laços de amizade
Este é, segundo os praxistas, um dos principais objectivos da praxe. Contudo, acreditamos que a verdadeira amizade se constrói mais facilmente num ambiente mais propício ao convívio, tendo para isso de ser abolidas todas as práticas cujo objectivo é apenas a humilhação gratuita.

2 - A praxe é uma tradição
A praxe só surgiu no Porto na década de 80, década na qual quase tod@s nós nascemos, logo não se pode afirmar como tradição secular. Mas, mesmo que o fosse, isso não seria motivo para a perpetuar de forma acrítica, não olhando à evolução da sociedade. A preservação das tradições só faz sentido quando somos capazes de as reinventar constantemente, não permitindo que se tornem num entrave ao progresso.

3 - A praxe integra
Apesar de concordarmos com a importância da integração, defendemos que cada um/a deverá decidir por si mesmo como se quer integrar e em quê. Pelo contrário, na praxe estas escolhas são prédeterminadas:
a única integração legítima é a integração pela praxe (através do rebaixamento dos novos alunos) e no mundo da praxe.

4 - A praxe é uma escola de vida
Efectivamente, a praxe veicula um estilo de vida. Uma vida de excessos, limitados no tempo, mas ordeira. Nos dias de catarse colectiva, @s estudantes transformam-se em “foliões”, apropriando-se do espaço público e regredindo, através das músicas e das coreografias, à infantilidade. Para o resto da vida, aprendem a ser submiss@s face aos poderes instituídos. Sobretudo, aprendem a ter medo de dizer não.
@s estudantes ficam assim “empacotad@s”, formatad@s numa cultura retrógrada que se baseia no rebaixamento da mulher “fácil” e do homem “maricas”, na não contestação da ordem estabelecida e no corporativismo inerente à luta entre faculdades.

5 - Só vai à praxe quem quer
Se isto é verdade então porque é que os “guardiões da tradição” esperam @s nov@s alun@s à porta das salas de aula? Para quê todo o jogo de intimidação colectiva e de exibição de poder inerente à praxe?
Na realidade, existem mecanismos de coacção que, embora subtis, são suficientemente eficazes para que @s alun@s do primeiro ano se sintam “obrigad@s” a participar nos rituais praxistas. Ao mesmo tempo que @s praxistas afirmam que tod@s são livres de ir ou não à praxe, ameaçam quem quiser optar por não ir com a ostracização e a segregação académica. A escolha coloca-se assim entre ir à praxe e ser “da malta” ou não ir e ser “anti-praxe”, como se entre o preto e o branco não existisse uma infinidade de cores.
A confusão afectiva d@s nov@s alun@s serve o mesmo objectivo, havendo uma oscilação constante entre momentos de camaradagem (nomeadamente nas festas) e de humilhação. Por outro lado, quando algum/a alun@ do primeiro ano mostra vontade de sair da praxe,
@s que outrora @ humilharam transformam-se subitamente em seus/suas amig@s, situação que se reverterá num futuro próximo.

6 - Na praxe, todos são iguais e o traje académico é o símbolo dessa igualdade
As diferenças sociais, culturais e económicas que existem entre @s estudantes não podem ser resolvidas por uma operação de mera cosmética. Sendo assim, não é por pormos toda a gente a vestir-se da mesma forma que anulamos essas diferenças. Para mais, o uso de insígnias variadas como forma de sinalização da posição ocupada na hierarquia da praxe anula qualquer propósito de criação de uma farda uniforme para os estudantes.
Por outro lado, o traje tem como finalidade principal a diferenciação d@s estudantes (@s “doutores/as”) face ao resto da população (“@s futricas”), num acto de corporativismo elitista próprio de uma sociedade onde o Ensino Superior é ainda encarado como um privilégio.
Digam-te o que disserem, tu podes dizer não à praxe, pois vives numa democracia. A melhor forma de o fazeres, contudo, não é declarando-te anti-praxe perante os “Veteranos”. Quando o fazes, reconheces a legitimidade dos organismos de praxe. O que estás a fazer é pedir autorização aos/às praxistas para não seres praxad@, quando eles não devem ter qualquer tipo de autoridade sobre ti. Se no teu dia-a-dia não deixas que ninguém te subjugue e pense pela tua cabeça, também não o deves aceitar na praxe.
A recusa da praxe pode não parecer uma opção fácil, é certo. Mas também é certo que ninguém te poderá impedir de fazer amig@s, frequentar festas ou participar em qualquer actividade que não esteja ligada ao mundo da praxe.
Contra esta pseudo-tradição bolorenta e ultra-antiquada, na qual serás tratad@ como um número e não como uma pessoa, defendemos uma recepção alternativa baseada no divertimento de igual para igual. Não pretendendo apresentar uma “receita feita” para esta recepção, tal como acontece com a praxe, defendemos antes que sejam @s própri@s alun@s a construí-la de acordo com as especificidades da sua faculdade.
Como jovens, queremos ser agentes de mudança. Rejeitamos o conservadorismo de quem se submete cegamente à tradição e queremos construir uma faculdade integradora, democrática e aberta ao mundo.

Antípodas – Movimento anti-praxe

Procuram-se voluntários


A Reviravolta é uma Associação sem fins lucrativos com o objectivo de promover o Comércio Justo e Solidário. É suportada pelo trabalho de voluntários.

O Comércio Justo é uma das ferramentas chave para combater a pobreza. Como afirma Peter Mandelson, Comissário Europeu do Comércio «(...) Nem todos os consumidores olham para as prateleiras de supermercado e pensam qual o café que fará mais por tornar o mundo um lugar melhor. Mas muitos pensam. Não penso que seja um exagero dizer que isto se deve, em grande parte à iniciativa voluntária, ao empenho e ao entusiasmo do movimento de Comércio Justo.»

Para sermos agentes de mudança na erradicação da pobreza devemos procurar realizar mudanças no nosso quotidiano que se pautam por uma prática continuada de consumerismo.

Colabore das mais variadas formas com o Comércio Justo e estará, entre outras coisas, a combater a pobreza!

Procuram-se voluntários!
info@reviravolta.comercio-justo.org

MUTO a wall-painted animation by BLU



quarta-feira, setembro 23, 2009

Entrevista a Joana Amaral Dias



Comissão Nacional de Eleições



Análise aos analistas



Mr. Shirt Molhada



Consternação entre candidatos



Reflexão sobre as escutas



Escutas... até ver imaginárias...



Silêncio de Cavaco



terça-feira, setembro 22, 2009

Entrevista a Paulo Rangel



Manuela Ferreira Leite e o estrangeiro



Quatro candidatos do PS



Explicação para as escutas



Acusações



Escute, veja as sondagens



Entrevista a Francisco Louçã



Tempo de Antena do PPM



Comitivas do PS e PSD



Arqueologia Política



O Portugal de Salazar



Índice PSD20



Ao que parece...



Fala-se de compra de votos no PSD



Explicação para "esquerda possível"



Esquerda possível



Entrevista a Jerónimo de Sousa



Explicação sobre o discurso político



Tim une discursos



Palácio de Belém



Alegadas escutas



Alegre a favor do PS



segunda-feira, setembro 21, 2009

Saiu para a rua

Saiu decidida para a rua
Com a carteira castanha
E o saia-casaco escuro
Tantos anos tantas noites
Sem sequer uma loucura

Ele saiu sem dizer nada
Talvez fosse ao teatro chino
Vai regressar de madrugada
E acordá-la cheio de vinho

Tantos anos tantas noites
Sem nunca sentir a paixão
Foram já as bodas de prata
Comemoradas em solidão

Pôs um pouco de baton
E um leve toque de pintura
Tirou do cabelo o travessão
E devolveu ao rosto a candura

Saiu para a rua insegura
Vagueou sem direcção
Sorriu a um homem com tremura
E sentiu escorrer do coração
A humidade quente da loucura

Hello, I Love You

Hello, I love you
Won't you tell me your name?
Hello, I love you
Let me jump in your game
Hello, I love you
Won't you tell me your name?
Hello, I love you
Let me jump in your game

She's walking down the street
Blind to every eye she meets
Do you think you'll be the guy
To make the queen of the angels sigh?

Hello, I love you
Won't you tell me your name?
Hello, I love you
Let me jump in your game
Hello, I love you
Won't you tell me your name?
Hello, I love you
Let me jump in your game

She holds her head so high
Like a statue in the sky
Her arms are wicked, and her legs are long
When she moves my brain screams out this song

Sidewalk crouches at her feet
Like a dog that begs for something sweet
Do you hope to make her see, you fool?
Do you hope to pluck this dusky jewel?

Hello, Hello, Hello, Hello, Hello, Hello, Hello
I want you
Hello
I need my baby
Hello, Hello, Hello, Hello

quinta-feira, setembro 17, 2009

Beibi ai la(m)biu

Subi puràbenida ondas gaijas da bida,
assobiabu à passaige desta minha procheta
Mordi a tua cena, a pinta de Madalena
mirei no decote essas mamas pra jugarà ruleta.
Dançamos um tango - ou seria o Fandango?
Só me recordo do ardore das palabras qu't'oubi...

Beibi Ai Labiu Beibi Ai labiu
Beibi Ai labiu, Ai lambiu



O teu bigodinho ruçaba o meu bigodom,
pensei quera indício da tua imancipaçom!!...
O ritimo forte i a batida de morte,
o Discussaunde, a niu-heibe, aquecem-mu curaçom.
Àrderem paixom saquei a tua mom...
I repeti as palabras qu't'oubi...

Beibi Ai Labiu Beibi Ai labiu
Beibi Ai labiu, Ai lambiu

Tempo de Antena 3 - Legislativas 2009 - Bloco de Esquerda



O que é que têm em comum?