quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Pelos caminhos de Portugal






Se José Sócrates tivesse tanto talento para elevar os índices de crescimento do País como tem para fazer crescer o PS nas sondagens, Portugal era a Noruega. Por outro lado, mesmo com o País mergulhado na crise e o Governo atolado em escândalos, as sondagens continuam a ser antipáticas para o PSD. É possível que os cidadãos estejam descontentes com o Governo, mas uma vez que a orientação política deste PS é tão semelhante à do PSD, talvez os eleitores fiquem na dúvida sobre quem devem penalizar. Creio, aliás, que a grande divergência entre o PSD e o Governo não é política. Aquilo que os sociais-democratas não perdoam é isto: o que José Sócrates fez ao País não se compara com o que fez ao PSD.
Tirando Sócrates, há dois ou três factores que podem explicar o divórcio entre o povo e o PSD. O primeiro é que, para o PSD, não existe povo. Manuela Ferreira Leite não diz a palavra «povo». A presidente do PSD dirige-se sempre às «populações». Talvez as populações votem no PSD, mas o povo não parece especialmente interessado em fazê-lo. E, enquanto Portugal tiver mais povo do que populações, isso pode constituir um problema grave.
Em segundo lugar, parece evidente a razão pela qual o PSD não consegue agradar aos portugueses: o PSD tem dificuldade em agradar aos militantes do PSD. Manuela Ferreira Leite não satisfaz os críticos, mas isso é habitual: enquanto um líder partidário não está no poder, aqueles que se lhe opõem no seio do próprio partido abominam todas as suas opções. Só quando o líder forma Governo é que os críticos começam paulatinamente a descobrir fortes pontos de convergência nos quais nunca tinham reparado. Não surpreende, por isso, que, por enquanto, Passos Coelho e Luís Filipe Menezes discordem das sistematicamente opções de Manuela Ferreira Leite, incluindo da opção de dizer «Bom dia». Mais surpreendente é que sejam os próprios apoiantes de Ferreira Leite a discordar dela. Marcelo acha que a presidente prejudica o partido e está a levá-lo para o abismo, e Pacheco Pereira deplora a escolha de Santana Lopes para a Câmara de Lisboa, embora seja certo que Pacheco Pereira deplora quase tudo o que se passa em todo o lado.
Em todo o caso, é particularmente irónico que os sociais-democratas vivam tempos tão difíceis precisamente na altura em que se encontra na política activa aquele que é, porventura, o mais bem sucedido político de sempre do PSD. Só é pena que ele seja secretário-geral do PS.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Família Virtual

Despe & Siga
Letra: Luís Varatojo
Música: Luís Varatojo / J. San Payo / Nuno Rafael / Sérgio Nascimento / J. Cardoso e Gui
in:Espanta Espíritos

Ele é 100%
Pleno de andamento
Vive sem demora
Rende 100 à hora

Ela é super bem
Aparece onde convém
Passeia o pedigree
Nos chás da society

O meu irmão motard
Usa mastercard
Arromba o orçamento
Do homem 100%

A vóvó ao domingo
Vai à missa do bingo
E a mana tão pequena
Já navega no sistema

Somos 100%, somos super 100
Somos super sumo, somos super bem
Somos super homem, somos super boy
Somos 100%

É a família top
Gasta tv shop
Passam-se no BM
Fazem, sexo p'lo modem

Eu sou Audio-visual
Filho virtual
E aos 17
Sou feliz na internet

Somos muito unidos
Estamos convertidos
Ao espírito global
Da família virtual.

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Há dias

João Monge

"Há dias
Em que não cabes na pele
Com que andas
Parece comprada em segunda mão
Um pouco curta nas mangas


Há dias
Em que cada passo e mais um
Castigo de Deus
Parece
Que os sapatos que vês
Enfiados nos pés
Nem sequer são os teus


À noite voltas a casa
Ao porto seguro
E p'ra sarar mais esta corrida
Vais lamber a ferida
Para o canto mais escuro


Já vi
Há dias em que tu
Não cabes em ti


Avança
Na cara desse torpor
Que te perde e te seduz
A espada como a um
Matador
Com o gesto maior
Do seu peito andaluz
Avança
Com a raiva que sentes
Quando rangem os dentes
Ao peso da cruz


Enfim,
Há dias em que eu
Também estou assim
Parece que pagamos
Os pecados deste mundo
Amarrados aos remos
De um barco que está no fundo."