terça-feira, julho 17, 2012

Samba do Acordo Ortográfico




Cadê você, morena?
Onde é que estás miúda?
Nina eu quero te encontrar
Precisamos conversar
Pra gente se entender.
Cadê você, morena?
Onde é que estás chabala?
Nina eu quero te encontrar
Precisamos conversar
Sobre o modo de escrever.
Eu não sei como vou fazer!
Tiro o H e aonde é que o vou meter?
Será que isto tem algum nexo?
Vão matar o acento circunflexo!
(e o galego?)
(refrão)
Eu não sei onde é que tu tá!
O acento grave para onde irá?
Eu não sei onde é que tá tu!
E o hífen depois do prefixo co!
(e o galego?)
(refrão)

Cantigas do Maio




Eu fui ver a minha amada
Lá prós baixos dum jardim
Dei-lhe uma rosa encarnada
Para se lembrar de mim

Eu fui ver o meu bemzinho
Lá prós lados dum passal
Dei-lhe o meu lenço de linho
Que é do mais fino bragal

Eu fui ver uma donzela
Numa barquinha a dormir
Dei-lhe uma colcha de seda
Para nela se cobrir

Eu fui ver uma solteira
Numa salinha a fiar
Dei-lhe uma rosa vermelha
Para de mim se encantar

Eu fui ver a minha amada
Lá nos campos eu fui ver
Dei-lhe uma rosa encarnada
Para de mim se prender

Verdes prados, verdes campos
Onde está minha paixão?
As andorinhas não param
Umas voltam outras não

Refrão Popular:

Minha mãe quando eu morrer
Ai chore por quem muito amargou
Para então dizer ao mundo
Ai Deus mo deu ai Deus mo levou

segunda-feira, julho 16, 2012

A volta ao mundo




O amor imaginário
De um homem solitário
Sem lugar a compromisso
Até ao fim e depois disso

Tem a idade do Universo
E tão breve quanto um verso
Do tamanho deste mundo
E não passa de um segundo

Começar desde o princípio
No vazio no precipício
Sem temor e sem saudade
Enfrentar a liberdade

Quem conhece o Universo
A medalha o seu reverso
Quem não deu a volta ao mundo
Numa noite num segundo

Nem do céu nem desta terra
A razão que o amor encerra
O amor é um estandarte
Que flutua em toda a parte

Quem conhece o Universo
A medalha o seu reverso
Quem não deu a volta ao mundo
Numa noite num segundo

sexta-feira, julho 13, 2012

GNR contra o acordo ortográfico desde 1992


Rui Reininho, Toli



Ação ator ato
Ponta-pé traves-tu barato

Bem-me-quer o Pedralvares cordato
Que era súbito direto de fato

Ótimo ou caricato
É um acordo ou é um buraco

Quem no quer esse muro concreto
É político mas analfa beto

A corda bamba da cultura
A ponte pênsil no ar
Acorda muda de figura
..."O Petróleo não é só Jr.!!!"...
("oil ain't all, Jr!!!")
(Anónima acunpuntura)

quinta-feira, julho 12, 2012

O canto e o gelo




No seu olhar um rosto a arder
No seu olhar
Que eu não sei ver

Tão é cedo é tarde
O canto e o gelo
Tão cedo parte
Vem o degelo

E quando o frio passou
Só me ficou o canto do meu medo
E quando o frio passou
Só me ficou o encanto de um segredo

Tão cedo é tarde
No seu olhar
Tão cedo parte fica o cantar

Levou assim
O canto e o gelo
Deixou em mim
A noite e o medo

quinta-feira, julho 05, 2012

Bíblias de um Deus Ateu




No caule
da efémera flôr
cresce firme o amor
Meu Deus! Alá!
Há lá maior contradição?

Eram
dois estrantes
tipo flores brotantes
crescendo dentro da tenda
dos festivais de verão

Sucumbe-se aos
cheiros floridos do caos
sustendo as pétalas e a respiração

(É que) Em matérias do amor
rega-flor, pisa-flor
estamos sempre adolescendo
espesso livro vamos lendo
e coitados!
Somos sempre uns iletrados
estamos sempre adolescendo

Escreve o meu livro
e eu escrevo o teu
biblias de um deus ateu
flor seca às vezes já marcou
o que o mau olhado leu
Acreditou? Já descreu
artificial natural podes crer
que ao amor
vera flor vera flor
já cresceu podes crer
já cresceu
androceu gineceu

E tudo
o que o amor souber
é para desaprender
gatos
que sobre os tectos
noite fora miarão

Quando é
que o amor felino
ganha tento e ganha tino
e afasta as unhas
de perto do coração?

E fora do vaso
a pétala puxada ao acaso
um pouco not at all beaucoup
abre o seu Sésamo ou não?

Em matérias do amor
rega-flor, pisa-flor
estamos sempre adolescendo
espesso livro vamos lendo
e coitados!
Somos sempre uns iletrados
estamos sempre adolescendo

Escreve o meu livro
e eu escrevo o teu
biblias de um deus ateu
flor seca às vezes já marcou
o que o mau olhado leu
Acreditou? Já descreu
artificial natural podes crer
que ao amor
vera flor vera flor
já cresceu podes crer
já cresceu
androceu gineceu

E depois
regressa-se aos
moldes rombos de outro caos
ordem na sala
e junto à porta
a mala no chão

Enfim: metaforizando
a flor abre-se até quando?
e quando, depois de murchar
volta à lapela em botão?

(É que) Em matérias do amor
rega-flor, pisa-flor
estamos sempre adolescendo
espesso livro vamos lendo
e coitados!
Somos sempre uns iletrados
estamos sempre adolescendo

Escreve o meu livro
e eu escrevo o teu
biblias de um deus ateu
flor seca às vezes já marcou
o que o mau olhado leu
Acreditou? Já descreu
artificial natural podes crer
que ao amor
vera flor vera flor
já cresceu podes crer
já cresceu
androceu gineceu