E vens tu com um sorriso
Como se fosses um amigo
Mascarado no teu brilho
A tua alma não a sinto
Queres ter o dedo no gatilho
E matar o teu próprio filho
Roubar o teu povo rico
Tu queres viver sozinho
Queres levar a emoção
Manipular a sensação
Censurar a paixão é opressão
Não vai ser assim
Isso não serve pra mim
Eu hei-de resistir em pé na luta até cair
E vens tu com o teu discurso
Mais um esforço é preciso
Metes a mão no meu salário
Viras o mundo ao contrário
Crias pobreza pra teu proveito
Queres um povo enfraquecido
Distraído, preocupado
Alienado ao teu estado
Tudo o que temos vai pró teu bolso
Comes a carne, deixas o osso
Estás metido até ao pescoço
És o culpado
Não vai ser assim
Isso não serve pra mim
Eu hei-de resistir em pé na luta até cair
Fazes a demagogia
Eu faço a revolução
Devolve-me a nação
Queres levar a emoção
Devolve-me a nação
Queres levar a sensação
Devolve-me a nação
Mascarar a visão
Devolve-me a nação
Censurar a paixão
Devolve-me a nação
Para além das aventuras vocais nos Xutos & Pontapés, Kalú tinha-se já aventurado no projecto "Voz & Guitarra". Aqui, acompanhado por Nuno Rafael, a sua versão de "Charlatão", de autoria de Sérgio Godinho e José Mário Branco. A título de curiosidade informo que para cumprir os requisitos do projecto, apenas voz e guitarra, Kalú recorre ao uso de botões para fazer percussão.
Numa ruela de má fama
faz negócio um charlatão
vende perfumes de lama
anéis de ouro a um tostão
enriquece o charlatão
No beco mal afamado
as mulheres não têm marido
um está preso, outro é soldado
um está morto e outro f´rido
e outro em França anda perdido
É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavra
sete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra
Na ruela de má fama
o charlatão vive à larga
chegam-lhe toda a semana
em camionetas de carga
rezas doces, paga amarga
No beco dos mal-fadados
os catraios passam fome
têm os dentes enterrados
no pão que ninguém mais come
os catraios passam fome
É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavra
sete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra
Na travessa dos defuntos
charlatões e charlatonas
discutem dos seus assuntos
repartem-se em quatro zonas
instalados em poltronas
P´rá rua saem toupeiras
entra o frio nos buracos
dorme a gente nas soleiras
das casas feitas em cacos
em troca de alguns patacos
É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavra
sete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra
Entre a rua e o país
vai o passo de um anão
vai o rei que ninguém quis
vai o tiro dum canhão
e o trono é do charlatão
Entre a rua e o país
vai o passo de um anão
vai o rei que ninguém quis
vai o tiro dum canhão
e o trono é do charlatão
É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavra
sete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra