sexta-feira, maio 29, 2009

ESQUERDA.NET | 2º Tempo de Antena - Eleições Europeias 2009



Quando eu for grande quero ser carregador de pianos

Letra: Manuela de Freitas
Música: José Mário Branco
in, Correspondências

Quando eu for grande (carta aos meus netos)

Quando eu for grande quero ser
Um bichinho pequenino
P'ra me poder aquecer
Na mão de qualquer menino

Quando eu for grande quero ser
Mais pequeno que uma noz
P'ra tudo o que eu sou caber
Na mão de qualquer de vós

Quando eu for grande quero ser
Uma laje de granito
Tudo em mim se pode erguer
Quando me pisam não grito

Quando eu for grande quero ser
Uma pedra do asfalto
O que lá estou a fazer
Só se nota quando falto

Quando eu for grande quero ser
Ponte de uma a outra margem
Para unir sem escolher
E servir só de passagem

Quando eu for grande quero ser
Como o rio dessa ponte
Nunca parar de correr
Sem nunca esquecer a fonte

Quando eu for grande quero ser
Um bichinho pequenino
Quando eu for grande quero ser
Mais pequeno que uma noz

Quando eu for grande quero ser
Uma laje de granito
Quando eu for grande quero ser
Uma pedra do asfalto

Quando eu for grande...
Quando eu for grande...

Quando eu for grande quero ter
O tamanho que não tenho
P'ra nunca deixar de ser
Do meu exacto tamanho

Intervenção na apresentação, no Porto, do livro "Andanças pela liberdade", de Camilo Mortágua

Não conhecia o Camilo até hoje, nem tive ainda a oportunidade de ler o livro, por isso, o que me trás aqui?!
Para melhor explicar, vou ler-vos o último capítulo de "O Estranho Caso do Cadáver Sorridente", do Miguel Miranda:

"- Deixa cair o corpo sobre a cama, e concentra-te apenas na minha voz...

Viajo na voz de Ofélia, com a pressa de quem deixou algo por fazer. Voz de mel, língua de veludo que me percorre o corpo que se entrega à sua hipnose húmida. Quero regressar ao passado, a ver se ainda vou a tempo. Desta vez, não vamos falhar. Não sei se acerto na espira certa do tempo, estas coisas da hipnose não sei se acontecem à medida dos desejos. Ofélia, ajuda-me a regressar àquela noite do vinte e cinco de Novembro, onde estávamos todos reunidos numa cave. Tu não sabes, Ofélia, nunca poderás saber a força que nos unia, eu, o Gato, o Alegria, o Mau Tempo, o Quim Comandos, o Professor, a Adélia, o Cofres, o Tono da Viela, o Leonel, a Lisa, a Elsa, o Dílio Bailarino, o Hiroxima, o Vagamente, o Beto Doutor, o Poeta, espalhados em silêncio esperando pelas armas pesadas que vinham de Lisboa. Tu nunca poderás ter a noção de como foi dura a espera, como a nossa força se transformou em desespero, pela madrugada dentro, quando nos convencemos de que as armas não chegariam nunca.


- Concentra-te na minha voz, tu tens muito sono...

Sim, sinto uma vontade irresistível de adormecer, e acordar noutro tempo. Desta vez nada vai falhar, iremos a Maceda buscar os arsenais de reserva, não ficaremos eternamente à espera. Cortaremos a Ponte da Arrábida e o Viaduto de Santo Ovídio na noite de vinte e quatro para vinte e cinco, abriremos caminho à bala e à granada, morreremos se preciso for, para que a noite não acabe. Para não voltarmos a acordar de manhã com os sonhos todos desfeitos. Revolução ou morte, será o nosso grito. Talvez ainda haja tempo para fazer com que não tenha acontecido o que aconteceu. Talvez possamos salvar a Revolução, repito vezes sem conta, enquanto escorrego na voz de Ofélia direito ao passado com a certeza de ter uma missão a cumprir. Como se caísse num poço sem fundo, sem certeza de regresso.

Desta vez, nada vai falhar."

E foi exactamente nesta noite, ou nas imediatamente a seguir, que os meus pais, companheiros de luta quer do Camilo, quer das personagens do texto que acabei de ler, me amaram pela primeira vez, e me trouxeram para a luta (uma vez que nasci 9 meses depois), porque de facto, a história e aquela noite ainda não acabaram.

Com 15 anos, em 1991, deixo-me fascinar pelo Francisco Louçã e pela campanha do PSR. 5 anos mais tarde tornava-me militante, no Porto, tendo chegado a ser dirigente nacional dos jovens do PSR, e tendo participado em movimentos anti-racistas, anti-praxe e nas lutas estudantis que se viveram no final da década de 90, do século passado. É por isso pois, que tenho o maior orgulho de, em 1999 ter tido a oportunidade de me pronunciar, e ter respondido afirmativamente quanto à construção do Bloco de Esquerda. Hoje, mais afastado da militância partidária, mas não totalmente desligado, continuo a lutar por aquilo em que acredito e actualmente, sou dirigente de uma associação de Comércio Justo.

Por isso, quer a minha simples existência, quer aquilo que hoje sou, devo-o a este passado, aos meus pais  e a estas pessoas, Camilo Mortágua, Palma Inácio, e outros, que felizmente com eles se cruzaram. 

Para terminar, as palavras do Luís Represas (que com o Manuel Faria, do Trovante, também andou pela LUAR):

“Fecho a fronteira p’ra lá de mim
olho-me em ti p’ra me ver
juro que a paz não faz parte de um sonho
espero por ti p’ra vencer” 

Guilherme Rietsch Monteiro

quinta-feira, maio 28, 2009

Tratado à nossa porta



Interrogatório a um precário



Férias na cabina de voto


in Visão

 



Quando o Presidente da República apelou aos cidadãos para que não fossem de férias no fim--de-semana das eleições europeias, cheguei a pensar que, tomado pelo espírito europeu, Cavaco Silva estivesse a falar na qualidade de Presidente de outro país da União Europeia. No nosso, o pedido vai fazendo cada vez menos sentido: os desempregados, por definição, não têm férias; para os trabalhadores da Qimonda e da Auto-Europa, em princípio, a opção de tirar férias não será prudente; e os precários, os temporários e os endividados, provavelmente, não têm o desafogo financeiro que as férias, mais ou menos, requerem. O mais provável é que não haja assim tanta gente de férias no dia 7 de Junho. Infelizmente, também não é provável que haja muita gente a ir votar.
O problema é que os cidadãos, na altura das eleições europeias, costumam fazer férias da democracia. Quase seis milhões de pessoas votaram nas últimas legislativas, mas apenas cerca de três milhões foram às urnas nas últimas europeias. Ou as agências de viagens oferecem pacotes menos apelativos nos fins-de-semana das eleições nacionais, ou os portugueses não se interessam especialmente pelas eleições europeias - o que não deixa de ser uma atitude estranha. A opinião geral dos cidadãos sobre os políticos é má, pelo que não se compreende que desdenhem da oportunidade de mandar 24 deles lá para fora. Quando se esperava que houvesse longas filas à porta das secções de voto, os portugueses preferem ficar em casa. Vá lá uma pessoa compreender o eleitorado.

As eleições europeias começam, por isso, com dois incidentes políticos inquietantes: o primeiro, é o apelo absurdo do Presidente da República; o segundo foi a ausência de Paulo Portas da Feira do Queijo de Godim. No mesmo dia em que Cavaco pediu aos portugueses para não irem de férias, Portas anulou a ida à Feira do Queijo de Godim por, naquele dia, não haver queijo nem feira em Godim. Havia duas barracas de farturas e uma de algodão-doce, mas o presidente do CDS optou por não desenvolver, junto dos fritos e das guloseimas, uma campanha que estava programada para ser feita na presença de lacticínios. Esta é a segunda vez, num período de tempo razoavelmente curto, que o queijo faz uma desfeita a Paulo Portas: primeiro o limiano, agora o de Godim. É evidente que, mais do que se privarem de fazer férias, os portugueses devem obrigar-se a realizar feiras. Não há boas campanhas sem feiras, e uma campanha esclarecedora e informativa é o melhor contributo para que, no próximo dia 7, os cidadãos tenham todos os elementos necessários para, em consciência, se absterem de votar.

quinta-feira, maio 14, 2009

Recentrar a questão do Bloco Central

Eu por mim, prefiro o Bloco de Esquerda!

Guilherme Rietsch Monteiro


in Visão

 




A ideia de que o Bloco Central é uma solução sensata, por oposição às propostas irrealizáveis dos partidos dos extremos, dá vontade de rir: pois, pois, o comunismo é utópico, mas a coabitação leal e pacífica de Sócrates e Ferreira Leite é simples bom senso. Está bem. Contem-me outra.

Desejar um governo de Bloco Central é como ser do Benfica e do Sporting. Trata-se de uma aberração política que merece, evidentemente, o mais profundo desdém. Ou, no caso da comunicação social, a mais elevada atenção, mesmo que a proposta não passe de uma fantasia que ninguém leva especialmente a sério. O destaque que os media têm dado à hipótese de constituição do Bloco Central é o equivalente jornalístico da actividade daqueles cães que correm um quilómetro seguido a ladrar a um pneu. É possível, no entanto, que os cães se atirem às rodas com um pouco mais de argúcia. O que acabo de expor é uma das razões que me levam a pretender recentrar a questão do Bloco Central. A outra razão é o encanto que reside no acto de recentrar. Já se recentrou mais na política portuguesa. Recentravam-se, sobretudo, debates. Em determinado ponto de uma discussão, um dos intervenientes manifestava a intenção de recentrar o debate. Essa atitude dizia tanto sobre o debate como sobre o interveniente: sobre o debate, mostrava que, devido à acção dos outros participantes, se tinha descentrado; sobre o interveniente recentrador, revelava que tinha não só o discernimento de perceber a descentralização actual do debate, como a capacidade de o recentrar devidamente. A recentralização do problema do Bloco Central passa pela explicação da impossibilidade do Bloco Central. Uma tarefa, apesar de tudo, fácil: o leitor que conte os casos de militantes que trocaram o PCP pelo PS, e de militantes do CDS que se juntaram ao PSD. São inúmeros. Mas são muito mais raros aqueles que trocaram o PSD pelo PS e vice-versa: de facto, são os partidos mais distantes um do outro, justamente porque acabam por estar no mesmo sítio. Não faz sentido trocar um pelo outro. É como trocar o nosso carro por um exactamente igual, com o mesmo número de quilómetros e o mesmo barulho na panela de escape. É evidente que aquela gente não se pode ver. Eles têm exactamente a mesma visão do País e as mesmas soluções. A razão pela qual uns são poder e os outros oposição é realmente incompreensível, e eles revezam-se a invejarem-se e a lamentar a própria sorte.
A ideia de que o Bloco Central é uma solução sensata, por oposição às propostas irrealizáveis dos partidos dos extremos, dá vontade de rir: pois, pois, o comunismo é utópico, mas a coabitação leal e pacífica de Sócrates e Ferreira Leite é simples bom senso. Está bem. Contem-me outra. Mais depressa faz sentido, portanto, um governo de Bloco Lateral. PCP e CDS unidos num executivo coeso, que pugnasse pelas melhores condições para os trabalhadores e também pelo máximo de direitos para os patrões. Ora aqui está uma ideia com valor. Vejam como, escassos minutos depois de recentrar o problema, a solução se apresenta.

segunda-feira, maio 11, 2009

A verdade, toda a verdade, e nada mais que a verdade


Terrorismo Pictures, Images and Photos

Este filme está dividido em 3 partes. Parte I - Sobre religião (História comparada das Religiões); Parte II - Aborda concretamente o 11 de Setembro e os recentes atentados terroristas e o que não foi revelado, assim como as dúvidas suscitadas pelos relatórios oficiais; Parte III - Analisa o poder da economia e dos Bancos Centrais, nomeadamente o dos E.U.A.