sexta-feira, outubro 28, 2011

Pensámos em nada

O novo disco de Jorge Palma, Com todo o respeito conta com uma letra do José Luís Peixoto, ou como diria Saramago, José Luís Pacheco! ;-)

PENSÁMOS EM NADA

Pensámos tanto em nada. Despenteados,
caçámos fantasmas de elefantes
na casa desarrumada, de estores fechados,
milionários esbanjadores de instantes,
piratas de tesouros enterrados, ilhas distantes,
sorte parada. Pensámos demasiado em nada.
Cobertos por farrapos de tempo,
arame farpado de tempo, cheiro a terra
molhada, um momento, outro momento,
a memória inteira emparedada, e nós,
sem desculpas, astronautas, centauros,
entre o sexo e o medo, presos na piscina
vazia e abandonada, no centro de tudo,
pensámos apenas em nada.

(por José Luís Peixoto)

segunda-feira, outubro 24, 2011

Os homens do largo

Não interessa o frio, já é hora das trindades
Tosse ao desafio com os cães
Colado à brancura da parede dos quintais
Ainda mal se vê já aí vem

Uma bucha dura, navalhinha de cortar
Venha mais um copo p'ra aquecer
Tem a alma fria de tanto tempo passar
Lá vem mais um dia p'ra esquecer

Sentado num banco, espera sempre o vento norte
O sol posto dita a sua sorte
Já não espera mágoas nem dá danos a ninguém
Dorme e já não volta amanha

sexta-feira, outubro 21, 2011


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Ideia: Teresa Tudela e Betina Campos Neves

H2omem




A gota caiu na poça
A poça caiu na lagoa
A lagoa caiu no mar
e aqui se fez
a pessoa
a pessoa caiu na outra
a outra caiu na outra
a gota caiu na gota
e o mar se fez
da garoa
Agá dois homem
pra dentro da boca da boca da boca do rio
correndo escorrendo pra dentro do copo vazio
e do copo cheio transbordando, embalando o navio
chovendo, jorrando, enxurrando, enchendo o cantil
Agá dois homem
pra beber e tomar banho
Agá dois homem
pra nadar e fazer sopa
Agá dois homem
pra molhar a plantação
contra a cabeça pedra
contra a cabeça ferro
contra a certeza inquestionável
Agá dois homem
pra lavar a roupa suja
Agá dois homem
pra furar a pedra dura
Agá dois homem
pra chover sobre o sertão







quarta-feira, outubro 19, 2011

Corda bamba



No Nordeste, Ilha de São Miguel, Açores
Não estava lá, mas sei quem esteve! ;-)

A vida é como uma corda
De tristeza e alegria
Que saltamos a correr
Pé em baixo, pé em cima
Até morrer
Não convém esticá-la
Nem que fique muito solta
Bamba é a conta certa
Como dança de ida e volta
Que mantém a via aberta
Dançar na corda bamba
Não é techno, não é samba
É a dança do ter e não ter
É a dança da Corda Bamba
Salta agora pelo amor
Ele dá o paladar
Mesmo que a tua sorte
Seja a de um perdedor
Nunca deixes de saltar
Se saltares muito alto
Não tenhas medo de cair (baby)
De ficar infeliz
Feliz a cem por cento
Só mesmo um pateta feliz
Dançar na Corda Bamba
Não é techno, não é samba
É a dança do ter e não ter
É a dança da Corda Bamba



Um a um

Arnaldo Antunes / Marisa Monte / Carlinhos Brown
in, Tribalistas

Não, não quero ganhar
Só quero chegar junto
Sem perder
Eu quero um a um
Com você
No fundo
Não vê
Que eu só quero dar prazer
Me ensina a fazer
Canção com você
Em dois
Corpo a corpo
Me perder
Ganhar você

Muito além do tempo regulamentar

Esse jogo não vai acabar
É bom de se jogar
Nós dois
Um a um
Nós dois
Um a um
Nós dois
Um a um
Pouco a pouco
Me perder
Ganhar você

Contato Imediato

Arnaldo Antunes / Marisa Monte / Carlinhos Brown

peço por favor
se alguém de longe me escutar
que venha aqui pra me buscar
me leve para passear

no seu disco voador
como um enorme carrossel
atravessando o azul do céu
até pousar no meu quintal

se o pensamento duvidar
todos os meus poros vão dizer
estou pronto para embarcar
sem me preocupar e sem temer

vem me levar
para um lugar
longe daqui
livre para navegar
no espaço sideral
porque sei que sou

semelhante de você
diferente de você
passageiro de você
à espera de você

no seu balão de São João
que caia bem na minha mão
ou numa pipa de papel
me leve para além do céu

se o coração disparar
quando eu levantar os pés do chão
a imensidão vai me abraçar
e acalmar a minha pulsação

longe de mim
solto no ar
dentro do amor
livre para navegar
indo para onde for
o seu disco voador

Loja de Porcelanas

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O que fazia um elefante
na tua loja de porcelanas
sei que não me vais dizer

foi por ele que tu me trocaste
e eu nunca soube porquê
nem nunca virei a saber

às vezes a beleza dói
quando o olhar reflecte
o que o coração inventou

o que fazia um elefante
na tua loja de porcelanas
sei que não me vais dizer

entrou e saiu pela frente
deixou tudo em pantanas
e tu voltaste a sofrer

e quando o ideal cai
tudo aquilo que promete
nunca acontece

segunda-feira, outubro 17, 2011

Conta-me histórias




Agora que pousas a cabeça
Na almofada e respiras satisfeita
Quero teu amor
Sem sentido nem proveito
Agora que repousas
Lentamente sinto a curva do teu peito
Procuro o segredo do teu cheiro
Do teu cheiro
Juntos fomos correndo lado a lado
Juntos fomos sofrendo ter amado
Amas a vida e eu amo te a ti

Conta-me histórias daquilo que eu não vi (3x)
Conta-me histórias que eu não vi

Logo juntas a tua roupa
E dizes que a vida está lá fora
Passou a minha hora (3x)

Juntos fomos correndo lado à lado
Juntos fomos sofrendo ter amado
Amas a vida e eu amo-te a ti

Conta-me histórias daquilo que eu não vi (3x)
Conta-me histórias que eu não vi...
Que eu não vi... (4x)



domingo, outubro 16, 2011

Espectáculo




Quando
tu me vires no futebol
estarei no campo
cabeça ao sol
a avançar pé ante pé
para uma bola que está
à espera dum pontapé
à espera dum penalty
que eu vou transformar para ti
eu vou
atirar para ganhar
vou rematar
e o golo que eu fizer
ficará sempre na rede
a libertar-nos da sede
não me olhes só da bancada lateral
desce-me essa escada e vem deitar-te na grama
vem falar comigo como gente que se ama
e até não se poder mais
vamos jogar
Quando
tu me vires no music-hall
estarei no palco
cabaça ao sol
ao sol da noite das luzes
à espera dum outro sol
e que os teus olhos os uses
como quem usa um farol
não me olhes só dessa frisa lateral
desce peça cortina e acompanha-me em cena
vamos dar à perna como gente que se ama
e até não se poder mais
vamos bailar
Quando
tu me vires na televisão
estarei no écran
pés assentes no chão
a fazer publicidade
mas desta vez da verdade
mas desta vez da alegria
de duas mãos agarradas
mão a mão no dia a dia
não me olhes só desse maple estofado
desce pela antena e vem comigo ao programa
vem falar à gente como gente que se ama
e até não se poder mais
vamos cantar
E quando
à minha casa fores dar
vem devagar
e apaga-me a luz
que a luz destoutra ribalta
às vezes não me seduz
às vezes não me faz falta
às vezes não me seduz
às vezes não me faz falta



GTI (GENTLE, TALL & INTELLIGENT)



Concerto no dia em que fiz 31 anos, 24 de Agosto de 2007, no Palácio de Cristal, no Porto, claro que estava lá!

Letra: Carlos Tê

O sonho dos meus amigos
é ter um GTI
não importa de que marca
de que cor
o sonho dos meus amigos
é ter um GTI
não importa se inglês ou japonês

eu ando pensativo
porque não tenho esse sonho
ando a pensar qual o motivo
porque não sonho com um GTI

o sonho dos meus amigos
é ter um GTI
não importa de que marca
de que cor
o sonho dos meus amigos
é ter um GTI
não importa se inglês ou japonês

os meus amigos riem-se de mim
por ser feliz assim sem sonhar com um GTI
eles não sonham que me basta ter-te a ti
a sonhar comigo desde que te conheci

o sonho dos meus amigos
é ter um GTI
não importa de que marca
de que cor
o sonho dos meus amigos
é ter um GTI
não importa se inglês ou japonês

desde que seja um GTI
desde que seja um GTI
p'ra que quero um GTI
se me basta ter-te a ti
eu não quero um GTI
deita fora o GTI
p'ra que quero o GTI
só me basta ter-te a ti



domingo, outubro 09, 2011

Caubói Solidário




Eu estive neste concerto! ;-)

Venho do deserto
do reino dos cactos
lá onde brota a virtude
e a pureza dos actos
sou um caubói solidário

venho salvar a cidade
puxo do meu breviário
e vou pregar a verdade
o que me prende ao humanos
é a salvação dos maus
prefiro o cheiro do gado
e o silvo dos lacraus

caubói, caubói solidário
faz chegar a toda a parte
o longo braço da moral

atravesso o rio Bravo
e na rua principal
da cidade perdida
travo um duelo mortal
com o egoísmo reinante
com os agentes do mal
e sem olhar para trás
com medo da estátua de sal
digo adeus à mulher
salva da perdição
que me pede o meu amor
mas eu nem lhe dou atenção

ele é um caubói solidário
faz chegar a toda a parte
o longo braço da moral
caubói, caubói solidário
faz chegar a toda a parte
o longo braço da moral

parto sem recompensa
sem conferência do imprensa
no meu cavalo lendário

sou um caubói solidário
sou muito mais que rotário
não quero ficar na história
quero voltar ao deserto
sem a gordura da glória
para o conforto dos cactos
para os escorpiões
se precisarem de mim
eu ouço as vossas orações