1 - A praxe cria laços de amizade
Este é, segundo os praxistas, um dos principais objectivos da praxe. Contudo, acreditamos que a verdadeira amizade se constrói mais facilmente num ambiente mais propício ao convívio, tendo para isso de ser abolidas todas as práticas cujo objectivo é apenas a humilhação gratuita.
2 - A praxe é uma tradição
A praxe só surgiu no Porto na década de 80, década na qual quase tod@s nós nascemos, logo não se pode afirmar como tradição secular. Mas, mesmo que o fosse, isso não seria motivo para a perpetuar de forma acrítica, não olhando à evolução da sociedade. A preservação das tradições só faz sentido quando somos capazes de as reinventar constantemente, não permitindo que se tornem num entrave ao progresso.
3 - A praxe integra
Apesar de concordarmos com a importância da integração, defendemos que cada um/a deverá decidir por si mesmo como se quer integrar e em quê. Pelo contrário, na praxe estas escolhas são prédeterminadas:
a única integração legítima é a integração pela praxe (através do rebaixamento dos novos alunos) e no mundo da praxe.
4 - A praxe é uma escola de vida
Efectivamente, a praxe veicula um estilo de vida. Uma vida de excessos, limitados no tempo, mas ordeira. Nos dias de catarse colectiva, @s estudantes transformam-se em “foliões”, apropriando-se do espaço público e regredindo, através das músicas e das coreografias, à infantilidade. Para o resto da vida, aprendem a ser submiss@s face aos poderes instituídos. Sobretudo, aprendem a ter medo de dizer não.
@s estudantes ficam assim “empacotad@s”, formatad@s numa cultura retrógrada que se baseia no rebaixamento da mulher “fácil” e do homem “maricas”, na não contestação da ordem estabelecida e no corporativismo inerente à luta entre faculdades.
5 - Só vai à praxe quem quer
Se isto é verdade então porque é que os “guardiões da tradição” esperam @s nov@s alun@s à porta das salas de aula? Para quê todo o jogo de intimidação colectiva e de exibição de poder inerente à praxe?
Na realidade, existem mecanismos de coacção que, embora subtis, são suficientemente eficazes para que @s alun@s do primeiro ano se sintam “obrigad@s” a participar nos rituais praxistas. Ao mesmo tempo que @s praxistas afirmam que tod@s são livres de ir ou não à praxe, ameaçam quem quiser optar por não ir com a ostracização e a segregação académica. A escolha coloca-se assim entre ir à praxe e ser “da malta” ou não ir e ser “anti-praxe”, como se entre o preto e o branco não existisse uma infinidade de cores.
A confusão afectiva d@s nov@s alun@s serve o mesmo objectivo, havendo uma oscilação constante entre momentos de camaradagem (nomeadamente nas festas) e de humilhação. Por outro lado, quando algum/a alun@ do primeiro ano mostra vontade de sair da praxe,
@s que outrora @ humilharam transformam-se subitamente em seus/suas amig@s, situação que se reverterá num futuro próximo.
6 - Na praxe, todos são iguais e o traje académico é o símbolo dessa igualdade
As diferenças sociais, culturais e económicas que existem entre @s estudantes não podem ser resolvidas por uma operação de mera cosmética. Sendo assim, não é por pormos toda a gente a vestir-se da mesma forma que anulamos essas diferenças. Para mais, o uso de insígnias variadas como forma de sinalização da posição ocupada na hierarquia da praxe anula qualquer propósito de criação de uma farda uniforme para os estudantes.
Por outro lado, o traje tem como finalidade principal a diferenciação d@s estudantes (@s “doutores/as”) face ao resto da população (“@s futricas”), num acto de corporativismo elitista próprio de uma sociedade onde o Ensino Superior é ainda encarado como um privilégio.
Digam-te o que disserem, tu podes dizer não à praxe, pois vives numa democracia. A melhor forma de o fazeres, contudo, não é declarando-te anti-praxe perante os “Veteranos”. Quando o fazes, reconheces a legitimidade dos organismos de praxe. O que estás a fazer é pedir autorização aos/às praxistas para não seres praxad@, quando eles não devem ter qualquer tipo de autoridade sobre ti. Se no teu dia-a-dia não deixas que ninguém te subjugue e pense pela tua cabeça, também não o deves aceitar na praxe.
A recusa da praxe pode não parecer uma opção fácil, é certo. Mas também é certo que ninguém te poderá impedir de fazer amig@s, frequentar festas ou participar em qualquer actividade que não esteja ligada ao mundo da praxe.
Contra esta pseudo-tradição bolorenta e ultra-antiquada, na qual serás tratad@ como um número e não como uma pessoa, defendemos uma recepção alternativa baseada no divertimento de igual para igual. Não pretendendo apresentar uma “receita feita” para esta recepção, tal como acontece com a praxe, defendemos antes que sejam @s própri@s alun@s a construí-la de acordo com as especificidades da sua faculdade.
Como jovens, queremos ser agentes de mudança. Rejeitamos o conservadorismo de quem se submete cegamente à tradição e queremos construir uma faculdade integradora, democrática e aberta ao mundo.
Antípodas – Movimento anti-praxe
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