quinta-feira, junho 28, 2012

Saudades




Das janelas da cidade
Amei-te como ninguém.
Foram tempos sem idade
Mas quem teve hoje não tem...

Saudades, triste fado
É tempo de te amar
Saudades, cantam fado
É tempo de voltar

Das janelas ao teu lado,
Tão antigas, que eu amei.
Vou cantar este meu fado
De viver o que sonhei...

Saudades, triste fado
É tempo de te amar
Saudades, cantam fado
É tempo de voltar

Saudades, triste fado
É tempo de te amar
Saudades, que serão fado
Se o tempo nos faltar...

sexta-feira, junho 22, 2012

É nosso, o S. João


Se houver um dia
em que a gente
vai de tudo num repente
não devia ser um dia de excepção
por isso o povo junto
pouco a pouco se faz muito
menos por mais igual a todo o S. João

Se ainda me socorro
do odor do alho porro
é p´ra não ver no martelo
só a plastificação
e verdade seja dita
o som que dele apita
é o eco da cabeça do meu S. João

É nosso, o S. João
isso, ninguém nos tira
tira todo o ar que houver
na tua respiração
Sopra a noite inteira
num balão de S. João
Atravessa a noite
É S. João!

Mas se houver um dia
em que a gente
negue tudo intimamente
e se preste à mais perdida confusão
que volte ao calendário
e, embora solitário
se junte à gente toda pelo S. João
É nosso, o S. João
isso, ninguém nos tira
tira todo o ar que houver
na tua respiração
Sopra a noite inteira
num balão de S. João
Atravessa a noite
É S. João!

Se houver um dia
em que a gente
sinta ao lado o seu parente
que se aperte nos seus laços a emoção
e carago!
contas à Porto, está tudo pago
quem desconta na factura é o nosso S. João

É nosso, o S. João
isso, ninguém nos tira
tira todo o ar que houver
na tua respiração
Sopra a noite inteira
num balão de S. João
Atravessa a noite
É S. João!

O São João







quinta-feira, junho 21, 2012

São João




Nas rusgas de Miragaia
vinham bruxas disfarçadas
traziam erva cidreira
e cantavam orvalhadas.

Bati os bailes da Sé
e acabei nas Fontainhas
mergulhado em vinho tinto
com pimentos e sardinhas

Percorri toda a cidade
de Ramalde a Campanhã
cheguei a casa tão tarde
era quase de manhã

Fiz depois o meu pedido
entre cravos e loureiros
pra que um dia fosses minha
e não perdesse o Salgueiros.

A minha sorte há-de vir
num vaso de manjerico
ainda não perdi a esperança
de um dia ficar rico.

Se a nossa vida não muda
e nos vai faltando o pão
vamos pedindo uma ajuda
ao brejeiro S. João

sexta-feira, junho 15, 2012

Noutro lugar




D'outra vez, noutro lugar
Ninguém espera junto ao cais
Sem razão, barcos que não voltam mais
Os dias vão sem te levar...

E tenho tanto a contar
Hey, tens tanto para ver
Tens ainda de aprender
Os nomes que te vou dar

Oh noutro lugar
Para todo o sempre
Oh há uma canção
Que faz partir
Oh noutro lugar
Para sempre, sempre
Oh há uma canção
Que está por descobrir
Vem...

D'outra vez, noutro lugar
Os anos passam sem pesar
Sem razão, vão em busca da canção
Que ficámos de cantar...

E tenho tanto por contar
Hey, tens tanto para ver
Tens ainda de aprender
Os nomes que dei ao mar

Oh noutro lugar...

quinta-feira, junho 14, 2012

Porto Santo




"Não temos leme nem existe porto"
D. H. Lawrence

Dum porto perdido
Um dia partiu
Meu amor perdido,
Quem será que o viu?

Eu conto a quem passa
Levou-te o mar...
Há festa na praça
Já não sei dançar...

Mas à noite há vozes aqui
São de longe, tão longe
E falam de ti

Um porto perdido
Um dia encontrou
Meu amor perdido
Que sempre voltou...

Eu conto a quem passa
A vida no mar
Já cantam na praça
E vamos dançar...

Mas à noite há vozes aqui
São de longe, tão longe
E chamam por ti

terça-feira, junho 12, 2012

Sete Mares




Tem mil anos uma história
De viver a navegar...
Há mil anos de memórias a contar...

Ai, cidade à beira-mar
Azul

Se os mares são só sete
Há mais terra do que mar...
Voltarei amor com a força da maré
Ai, cidade à beira-mar
Ao sul

Hoje
Num vento do norte
Fogo de outra sorte
Sigo para o sul
Sete mares

Foram tantas as tormentas
Que tivemos de enfrentar...
Chegarei amor na volta da maré
Ai, troquei-te por um mar
Azul

Hoje
Num vento do norte
Fogo de outra sorte
Sigo para o sul
Azul

12 de Junho - Dia Mundial contra o Trabalho Infantil




Acorda rapaz, o dia rompe
através do sono escuro
abriga o teu corpo de onze anos
tens que ir trabalhar no duro

No ano passado, neste tempo
ainda andavas tu na escola
mas a família cresce e tu és rijo
e aqui ninguém pede esmola

Hoje vais ser homem
por quase nove horas
sabes lá das horas ...
mas talvez amanhã seja domingo no mundo
e tudo bata certo nem que por um segundo
fogo de artifício se veria
se fosse assim p'ra sempre um dia

Cuidado
atenção
é proibido fazer lume
risco de explosão

Carregas canudos em caixotes
fazes fogos de artifício
misturas a pólvora às estrelas
e o arco íris ao bulício

Se chega o fiscal, faz-te de tolo
estás ali porque até gostas
deixa o patrão dar-lhe o envelope
e ficas logo grande, apostas?

Hoje vais crescer
p'ra lá do teu tamanho
o cansaço é tamanho ...
mas talvez amanhã seja domingo no mundo
e tudo bata certo nem que por um segundo
fogo de artifício explodiria
se fosse assim p'ra sempre algum dia

Cuidado
atenção
é proibido fazer lume
risco de explosão

Cuidado com o manuseamento
não te enganes tu também
olhas de soslaio o tipo ao lado
que três dedos a menos tem

Paras p'ro almoço e à sucapa
vês revistas de homens grandes
vais ter que acender o teu cigarro
nem que pelos ares te mandes

Ah, como é difícil
saber do amor
eu sei lá o que é o amor ...
mas talvez amanhã seja domingo no mundo
e tudo bata certo nem que por um segundo
fogo de artifício explodiria
se tu me amasses algum dia

Cuidado
atenção
é proibido fazer lume
risco de explosão

Na fábrica de fogo de artifício
houve, dizem, fogo posto
e um menino sonha a noite inteira
que perdeu no escuro o rosto