terça-feira, outubro 26, 2010

Dia Mau




Não quis guardá-lo para mim
E com a dimensão da dor
Legitimar o fim
Eu dei
Mas foi para mostrar
Não havendo amor de volta
Nada impede a fonte de secar
Mas tanto pior
E quem sou eu para te ensinar agora
A ver o lado claro de um dia mau

Eu sei
A tua vida foi
Marcada pela dor de não saber aonde dói
Mas vê bem
Não houve à luz do dia
Quem não tenha provado
O travo amargo da melancolia
E então rapaz então porquê a raiva
Se a culpa não é minha
Serão efeitos secundários da poesia

Mas para quê gastar o meu tempo
A ver se aperto a tua mão
Eu tenho andado a pensar em nós
Já que os teus pés não descolam do chão
Dizes que eu dou só por gostar
Pois vou dar-te a provar
O travo amargo da solidão

Tenho andado a pensar em nós
Já que os teus pés não descolam do chão
Dizes que eu dou só por gostar
Pois vou dar-te a provar
O travo amargo da solidão

É só mais um dia mau, mau, mau
É só mais um dia mau, mau, mau
É só mais um dia mau (3x)


sábado, outubro 23, 2010

Saúde e Fraternidade - Viva a República

in Sata Magazine

Quem viveu o período revolucionário em Portugal após o 25 de Abril, compreende bem o sentido desta mensagem enviada do Porto para Angra do Heroísmo: "Saúde e Fraternidade - Viva a República". Vivia-se ainda a euforia da queda da monarquia e as esperanças de uma vida melhor circulavam na mentes dos portugueses. A luta ideológica marcava então o quotidiano, com reformas profundas no sector do ensino ou na relação entre o Estado e a Igreja.

Passaram 100 anos e esses valores e ideias continuam presentes na sociedade portuguesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade, a trilogia da Revolução Francesa, que tem servido de estandarte a muitas revoluções contemporâneas, mantém-se como uma ambição da Humanidade em busca de um mundo mais justo e perfeito. (...)

quinta-feira, outubro 21, 2010

Figuras Tristes




Pára! Porque insistes
em ouvir quem não te quer falar?
Pára de fazer figuras tristes!
Pára!, deixa em paz quem nunca se vai ver no teu lugar.
Que mania tu tens de nos pôr todos a pensar
como se nos preocupássemos uns com os outros!

Eu sei, é difícil resistir se nos sentimos sós,
mas sozinhos entendemos bem o que buscar.
No meio de tanta confusão
é natural tentar forçar quem não nos percebe
a gostar de nós
e a dizer-nos que o esforço vale a pena.

Eu cá vou bem, não me dói demasiado.
Só dava o que tenho pra ver alguém do meu lado.

O que ontem foi
hoje tu já não consegues mudar.
Porque continuas a tentar?
Dá-te gozo imaginar aquilo que seria teu
se tivesses feito o que não fizeste,
e o que serias se não fosses o que realmente és?

Eu cá vou bem, não me dói demasiado.
Só dava o que tenho pra ver alguém do meu lado.

sexta-feira, outubro 08, 2010

Nuno Prata com novo disco a 25 de Outubro


Deve Haver , o segundo disco a solo de Nuno Prata, chega às lojas a 25 de outubro.

Produzido por Hélder Gonçalves, músico dos Clã e Humanos, além de produtor dos Virgem Suta, Deve Haver tem em "Essa Dor Não Existe (Tu Isso Sabes, Não Sabes?)" o primeiro single.

B Fachada, que atuou ao vivo com Nuno Prata na Livraria Trama, em Lisboa, e a vocalista dos Clã, Manuela Azevedo, participam no coro da música "Mais um Belo Dia".

De título inspirado num antigo "livro de caixa" trazido de casa do avô do músico, Deve Haver inclui ainda uma versão, em português, de "Used To Be", de Gordon Gano, chamada "Isso Foi Antes". Os Violent Femmes de Gano eram a banda favorita dos Ornatos Violeta, onde Nuno Prata tocava baixo.

Nuno Prata, Nico Tricot e Hélder Gonçalves tocam todos os instrumentos no álbum, que sucede a Todos os Dias Fossem Estes/Outros .

Fonte: Blitz

O que há num Sócrates

Ricardo Araújo Pereira
in Visão



O que começa por ser curioso na comparação entre o Sócrates grego e o Sócrates português é o facto de as próprias diferenças os aproximarem. Repare: o Sócrates grego nunca disse ser sábio. Ao Sócrates português, até lhe atestaram a sabedoria ao domingo


"O que há num nome?", perguntou Shakespeare pela boca de Julieta - prática que, a propósito, parece ser extremamente anti-higiénica. Uma rosa, dizia a rapariga que, certamente por perfeccionismo, primeiro fingiu matar-se e só depois se matou mesmo, teria igual beleza e o mesmo cheiro caso tivesse outro nome. É verdade. Se a rosa se chamasse, digamos, bidé, seria igualmente bela, por muito que pudesse ser um pouco embaraçoso oferecer a alguém um lindo ramo de bidés. Mas o Bardo refletiu apenas acerca do objeto que, mudando de nome, mantém as características. Por esquecimento ou preguiça, não se debruçou sobre os objetos que, tendo características diferentes, partilham o mesmo nome. Por exemplo, o que há num Sócrates? Será possível que dois Sócrates diferentes encontrem, no entanto, o mesmo destino? Não deixa de ser inquietante que Julieta não tenha colocado esta questão a Romeu, tendo preferido entreter-se com considerações sobre rosas. Mais sobra para nós, amigo leitor, meditarmos.

O que começa por ser curioso na comparação entre o Sócrates grego e o Sócrates português é o facto de as próprias diferenças os aproximarem. Repare: o Sócrates grego nunca disse ser sábio. Ao Sócrates português, até lhe atestaram a sabedoria ao domingo - facto que leva muitos a desconfiarem de que, na verdade, ele não é sábio. Cá está: ainda que percorram caminhos diversos, confluem num destino comum.

O Sócrates grego era abordado pelas pessoas, na rua, que ficavam a interrogá-lo durante horas. Ao Sócrates português, nem os magistrados do Ministério Público conseguem interrogar durante cinco minutos que seja. Os gregos queriam fazer a Sócrates perguntas tais como: "O que é a virtude?" Os portugueses querem perguntar a Sócrates se ele foi virtuoso, o que, sendo um pouco mais específico, acaba por ser mais ou menos a mesma coisa. Mas o facto de uns conseguirem fazer perguntas e outros não constitui uma diferença importante. No entanto, os gregos anónimos e os magistrados portugueses ficaram igualmente mais perto da verdade: os primeiros porque o Sócrates grego lhes respondia às perguntas com outras perguntas; os segundos porque, uma vez que não perguntaram nada, também não obtiveram resposta nenhuma - o que não deixa de ser justo.

O Sócrates grego - e esta será, talvez, a diferença principal - acabou por ser julgado. Inventaram um pretexto para o julgar e conseguiram levá-lo a julgamento. O Sócrates português nunca entrou num tribunal. E não tem faltado imaginação para inventar pretextos. Mas uma coisa parece certa: ambos os casos terminarão em morte. O Sócrates grego morreu depois de condenado a beber cicuta, e nós morreremos todos antes de conhecer o fim destes processos judiciais.

sexta-feira, outubro 01, 2010

EL GUINCHO | Bombay

EL GUINCHO | Bombay from MGdM | Marc Gómez del Moral on Vimeo.

Ninguém é quem queria ser

Letra: Manuel Cruz
in: Lado A - O Amor Dá-me Tesão / Foge Foge Bandido

somos a fachada
de uma coisa morta
e a vida como que a bater à nossa porta
quando formos velhos
se um dia formos velhos
quem irá querer saber quem tinha razão
de olhos na falésia
espera pelo vento
ele dá-te a direcção

ninguém é quem queria ser
eu queria ser ninguém

a idade é oca e não podia ser motivo
estás a ver o mundo feito um velho arquivo
eu caminho e canto pela estrada fora
e o que era mentira pode ser verdade agora
se o cifrão sustenta a química da vida
porque tens ainda medo de morrer
faltará dinheiro
faltará cultura
faltará procura dentro do teu ser

diz-me se ainda esperas encontrar o sentido
mesmo sendo avesso a vê-lo em ti vestido
não tens de olhar sem gosto
nem de gostar sem ver
ninguém é quem queria ser