segunda-feira, dezembro 31, 2007

E o burro sou eu?!


Tentam-nos convencer que é no sector privado que se encontram os melhores gestores. Eles é que sabem, e então devemos entregar tudo aos privados. Ele é Universidades Privadas (que não se privam de polémicas), ele é Hospitais, S.A., etc, etc...
No entanto, para resolver um problema de gestão de uma instituição bancária privada, eis que os Dº Sebastiões surgem do sector público!
E o burro sou eu?!

quinta-feira, dezembro 27, 2007

GTI

Também a 24 de Agosto de 2007.

Clã nas Noites Ritual Rock 2007

A 24 de Agosto de 2007, dia em que completei 31 anos, no Palácio de Cristal, no Porto, a escassos metros da Maternidade Júlio Dinis, onde 31 anos antes chorei pela 1ª vez. Foi o 1º concerto de apresentação de "Cintura" (dois dias antes tinham apresentado o álbum para 50 fãs, onde estive) e eu estive presente. Nesse mesmo dia, os Clã foram notícia do JN e apareceu a minha "fronha" numa mini-entrevista no final do concerto para os fã, nos arredores de Vila do Conde.

Tira a Teima

Pois É

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Medo

Tem-se medo de tudo
Medo de arriscar
Medo de avançar
E o medo tolda-nos
Os nossos pensamentos
Os nossos movimentos
Deixamos que as angústias nos vençam
E não vemos que elas apenas fazem parte do processo
Processo de aprendizagem, contínua.

O medo, muitas vezes impede-nos de sermos felizes
Mas ninguém é feliz sem medo
Se não se tem medo de perder algo
Então não amamos nada
Não é um sentimento de posse, o medo
É um desejo
Um desejo de querer partilhar
Partilhar tudo na vida
Com aquele(a) que sabemos
Será sempre o motivo pelo qual
Temos medo

Guilherme Rietsch Monteiro, 5 de Junho de 2002

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Clã no "Gato Fedorento"







Bolo-Rei de Comércio Justo





Este Natal a Equação Comércio Justo apresenta um bolo-rei com ingredientes de Comércio Justo e Biológicos. É produzido pela Cooperativa Cor de Tangerina, em Guimarães.

Preço:

Serão produzidos 2 tamanhos de bolo-rei (pequeno com +\- 700g e normal com +\- 1400g). O PVP será de 13,50€\kilo.

Encomendas:

Podem ser encomendados nas Lojas de Comércio Justo até ao final do dia 22 de Dezembro.

Podem ser levantados nas Lojas de Comércio Justo a partir das 16h do dia 24 de Dezembro.

Loja de Cedofeita: 222012348

Ingredientes:

farinha T80 bio, açucar bio, sal, xarope guaraná (CJ), fermento bio, especiarias, água, licores (aguardente, anis e rum), margarina vegetal, chocolate, uva passa (CJ), ananás conserva bio (CJ), manga seca (CJ), cajú, nozes amazónia bio (CJ), chocolate em pó bio (CJ), tâmaras secas (CJ), sementes sésamo bio, coco ralado.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Porque não nos calamos!


Foi hoje assinado o Tratado de Lisboa.
Proponho agora a tod@s @s portugueses, que a exemplo de uma campanha publicitária de um operador de comunicações móveis, ofereçamos nesta Natal ao primeiro-ministro um telemóvel com mensagens préviamente gravadas. As mensagens ficarão ao cuidado de cada um (podem depois usar os comentários deste post para as exprimir), mas exigirão todas a realização de um referendo sobre o Tratado.
Quando Sócrates receber o telemóvel e escutar as mensagens, terá como acto contínuo a escolha do remix "Porque não te calas?" para toque do telemóvel!
Não, sr. Primeiro-Ministro! Não nos calaremos! Queremos um referendo! We want the world and we wanted now!

terça-feira, dezembro 11, 2007

Sérgio Sousa Pinto


Sérgio Sousa Pinto, eurodeputado do Partido Socialista, disse ontem no programa Prós e Contras da RTP, a propósito do balanço da Cimeira UE/África, que o "nosso" problema é darmos demasiada importância à questão dos direitos humanos em África quando queremos estabelecer negócios com aquele continente. Disse Sérgio Sousa Pinto que deviamos aprender com a China, que não fala de direitos humanos e que tem o monopólio dos negócios com África.
Sérgio Sousa Pinto, além de dizer que a Europa deve ser cínica, esqueceu-se (diria que propositadamente) de referir que a China, também tem muito a desejar no respeita ao respeito pelos direitos humanos e como tal não pode pedir a outros aquilo que ela própria não pratica.
Quando foi líder da Juventude Socialista, Sérgio Sousa Pinto parecia ter uma mente mais aberta. Chegou a afirmar a uma revista juvenil que entrevistou todos os líderes das chamadas "Jotas", que o seu político de eleição era Francisco Louçã. Foi ele, que em pleno período da governação Guterres, levou à assembleia a questão do aborto (e tendo sido derrotado por 1 voto da primeira vez, voltou à carga um ano depois, levando à realização do referendo em 1998), foi com ele também que se começou a falar de direitos iguais para os homossexuais.
Contudo, logo se apercebeu que seria mais um na engrenagem partidária e com a afirmação de ontem, deixou de me merecer qualquer respeito ou consideração.

domingo, dezembro 09, 2007

Lado (a lado)

Há gente que espera de olhar vazio
na chuva, no frio, encostada ao mundo
a quem nada espanta
nenhum gesto
nem raiva ou protesto
nem que o sol se vá perdendo lá ao
fundo

há restos de amor e de solidão
na pele, no chão, na rua inquieta
os dias são iguais já sem saudade
nem vontade
aprendendo a não querer mais do que o
que resta

e a sonhar de olhos abertos
na paragens, nos desertos
a esperar de olhos fechados
sem imagens de outros lados
a sonhar de olhos abertos
sem viagens e regressos
a esperar de olhos fechados
outro dia lado a lado

há gente nas ruas que adormece
que se esquece enquanto a noite vem
é gente que aprendeu que nada urge
nada surge
porque os dias são viagens de ninguém

a sonhar de olhos abertos
nas paragens, nos desertos
a esperar de olhos fechados
sem imagens de outros lados
a sonhar de olhos abertos
sem viagens e regressos
a esperar de olhos fechados
outro dia lado a lado

aprende-se a calar a dor
a ternura, o rubor
o que sobra de paixão
aprende-se a conter o gesto
a raiva, o protesto
e há um dia em que a alma
nos rebenta nas mãos

sexta-feira, dezembro 07, 2007

O Lume

Letra e Música: Mafalda Veiga
in A Cor da Fogueira, Mafalda Veiga

vai caminhando desamarrado
dos nós e laços que o mundo faz
vai abraçando desenleado
de outros abraços que a vida dá

vai-te encontrando na água e no lume
na terra quente até perder
o medo, o medo levanta muros
e ergue bandeiras pra nos deter

não percas tempo, o tempo corre
só quando dói é devagar
e dá-te ao vento como um veleiro
solto no mais alto mar

liberta o grito que trazes dentro
e a coragem e o amor
mesmo que seja só um momento
mesmo que traga alguma dor

só isso faz brilhar o lume
que hás-de levar até ao fim
e esse lume já ninguém pode
nunca apagar dentro de ti

quarta-feira, novembro 28, 2007

Isto anda tudo ligado


A 5 de Outubro de 2004, estava numas mini-férias no Gerês, apaixonei-me pela música e letras da Mafalda Veiga e assim que ouvi "Um pouco de céu", soube que a acontecer um dia vir-me embora do meu local de trabalho, me despederia com aquela canção.
No regresso ao Porto dessas férias, tive um acidente.
A 25 de Novembro de 2006 (outra data importante para mim, como se pode ver noutro post já publicado), voltei a ter um acidente, nesta vez no Porto, em plena VCI, enquanto ouvia "Portugal na CEE", dos GNR. Três dias depois, faz portanto hoje um ano (faz também hoje 6 anos que terminei o meu bacharelato), a empresa comunicou-me que prescindia do meu posto de trabalho. Vim-me embora a 31 de Janeiro (data da 1ª tentativa de instauração da República, que só foi conseguida a 5 de Outubro, não de 2004, mas de 1910) e despedi-me com:


Um pouco de céu
Letra e Música: Mafalda Veiga
in: Tatuagem

Só hoje senti
que o rumo a seguir
levava pra longe
senti que este chão
já não tinha espaço
pra tudo o que foge
não sei o motivo pra ir
só sei que não posso ficar
não sei o que vem a seguir
mas quero procurar

e hoje deixei
de tentar erguer
os planos de sempre
aqueles que são
pra outro amanhã
que há-de ser diferente
não quero levar o que dei
talvez nem sequer o que é meu
é que hoje parece bastar
um pouco de céu
um pouco de céu

só hoje esperei
já sem desespero
que a noite caísse
nenhuma palavra
foi hoje diferente
do que já se disse
e há qualquer coisa a nascer
bem dentro no fundo de mim
e há uma força a vencer
qualquer outro fim

não quero levar o que dei
talvez nem sequer o que é meu
é que hoje parece bastar
um pouco de céu
um pouco de céu

FMI


Vou, vou-vos mostrar mais um pedaço da minha vida, um pedaço um pouco especial, trata-se de um texto que foi escrito, assim, de um só jorro, numa noite de Fevereiro de 79, e que talvez tenha um ou outro pormenor que já não é muito actual. Eu vou-vos dar o texto tal e qual como eu o escrevi nessa altura, sem ter modificado nada, por isso vos peço que não se deixem distrair por esses pormenores que possam ser já não muito actuais e que isso não contribua para desviar a vossa atenção do que me parece ser o essencial neste texto.
Chama-se FMI.
Quer dizer: Fundo Monetário Internacional.
Não sei porque é que se riem, é uma organização democrática dos países todos, que se reúnem, como as pessoas, em torno de uma mesa para discutir os seus assuntos, e no fim tomar as decisões que interessam a todos...
É o internacionalismo monetário!

FMI

Cachucho não é coisa que me traga a mim
Mais novidade do que lagostim
Nariz que reconhece o cheiro do pilim
Distingue bem o mortimor do meirim
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Há tanto nesta terra que ainda está por fazer
Entrar por aí a dentro, analisar, e então
Do meu 'attachi-case' sai a solução!

FMI Não há graça que não faça o FMI
FMI O bombástico de plástico para si
FMI Não há força que retorça o FMI

Discreto e ordenado mas nem por isso fraco
Eis a imagem 'on the rocks' do cancro do tabaco
Enfio uma gravata em cada fato-macaco
E meto o pessoal todo no mesmo saco
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder
Batendo o pé na casa, espanador na mão
É só desinfectar em superprodução!

FMI Não há truque que não lucre ao FMI
FMI O heróico paranóico 'hara-quiri'
FMI Panegírico, pro-lírico daqui

Palavras, palavras, palavras e não só
Palavras para si e palavras para dó
A contas com o nada que swingar o sol-e-dó
Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó
A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas
Sempre atentas
E levas pela tromba se não te pões a pau
Num encontrão imediato do 3º grau!

FMI Não há lenha que detenha o FMI
FMI Não há ronha que envergonhe o FMI
FMI ...

Entretém-te filho, entretém-te, não desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer, mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalt'e-quer, messe gigantesca, vem-te vindo, vi-me na cozinha, vi-me na casa-de-banho, vi-me no Politeama, vi-me no Águia D'ouro, vi-me em toda a parte, vem-te filho, vem-te comer ao olho, vem-te comer à mão, olha os pombinhos pneumáticos que te orgulham por esses cartazes fora, olha a Música no Coração da Indira Gandi, olha o Muchê Dyane que te traz debaixo d'olho, o respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho? Nós somos um povo de respeitinho muito lindo, saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho? Consolida filho, consolida, enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde. Consolida filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo, o teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos, como o astro, não é filho? O cabrão do astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais dormir entretido, não é? Pois claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar, para ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta destabilização filha-da-puta, não é filho? Pois claro! Estás aí a olhar para mim, estás a ver-me dar 33 voltinhas por minuto, pagaste o teu bilhete, pagaste o teu imposto de transação e estás a pensar lá com os teus botões: Este tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é? Né filho? Pois não é verdade que tu és um herói desde de nascente? A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote! Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho? Onde está o teu Extremo Oriente, filho? Ah-ni-qui-bé-bé, ah-ni-qui-bó-bó, tu és 'Sepuldra' tu és Adamastor, pois claro, tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é filho? Mal eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida! Entretém-te filho, entretém-te! Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da Silva, e salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala e ritmo de pop-xula, não é filho?
A one, a two, a one two three

FMI dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Come on you son of a bitch! Come on baby a ver se me comes! Come on Luís Vaz, 'amanda'-lhe com os decassílabos que os senhores já vão ver o que é meterem-se com uma nação de poetas! E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares, zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal, zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros, zás, enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro, zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano, a estender o braço, meio Rolão Preto, meio Steve McQueen, ok boss, tudo ok, estamos numa porreira meu, um tripe fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho? Pois, o irreversível, pois claro, o irreversívelzinho, pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra, deixa lá correr uma fila ao menos, malta pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Preocupações, crises políticas pá? A culpa é dos partidos pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta pá, pois pá, é só paleio pá, o pessoal na quer é trabalhar pá! Razão tem o Jaime Neves pá! (Olha deixaste cair as chaves do carro!) Pois pá! (Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?) É pá, deixa-te disso, não destabilizes pá! Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata. Uma porra pá, um autentico desastre o 25 de Abril, esta confusão pá, a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa... Tá bem, essa merda da pide pá, Tarrafais e o carágo, mas no fim de contas quem é que não colaborava, ah? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah? Meia dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada! Oh sr. guarda venha cá, á, venha ver o que isto é, é, o barulho que vai aqui, i, o neto a bater na avó, ó, deu-lhe um pontapé no cu, né filho? Tu vais conversando, conversando, que ao menos agora pode-se falar, ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah? Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ah?

FMI Dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer isto dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-faxistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas azeite mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica, Lourosa, Lourosa, Marraças, Marraças, fora o arbitro, gatuno, bora tudo p'ro caralho, razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho? Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá! Podes estar descansado que o Teng Hsiao-Ping está a tratar de ti com o Jimmy Carter, o Brezhnev está a tratar de ti com o João Paulo II, tudo corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas. A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! Hão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?! Era o que faltava! É assim mesmo, julgam que te levam de mercedes, ora toma, para safado, safado e meio, né filho? Nem para a frente nem para trás e eles que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né? Claro! Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega. Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acho normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar! Descontrai baby, come on descontrai, arrefinfa-lhe o Bruce Lee, arrefinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o euroscópio, dois ou três ofeneologistas, um gigante da ilha de Páscoa e uma Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas! Piramiza filho, piramiza, antes que os chatos fujam todos para o Egipto, que assim é que tu te fazes um homenzinho e até já pagas multa se não fores ao recenseamento. Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá! Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-xula, pop-xula pop-xula, iehh iehh, J. Pimenta forever! Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, ah? Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta! Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega, sossego porra, silêncio porra, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me morrer descansado. Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado, eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto, eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro e o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa, deixem-me só porra, rua, larguem-me, zórpila o fígado, arreda, 'terneio' Satanás, filhos da puta. Eu quero morrer sozinho ouviram? Eu quero morrer, eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu quero que o FMI se foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se ele tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe...

Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...

Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de lava-colhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.

Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.

José Mário Branco - FMI

Cúmplices

Letra e Música: Mafalda Veiga
in Na Alma e Na Pele, Mafalda Veiga

A noite vem às vezes tão perdida
E quase nada parece bater certo
Há qualquer coisa em nós inquieta e ferida
E tudo o que era fundo fica perto

Nem sempre o chão da alma é seguro
Nem sempre o tempo cura qualquer dor
E o sabor a fim do mar que vem do escuro
É tantas vezes o que resta do calor

Se eu fosse a tua pele
Se tu fosses o meu caminho
Se nenhum de nós se sentisse nunca sozinho

Trocamos as palavras mais escondidas
Que só a noite arranca sem doer
Seremos cúmplices o resto da vida
Ou talvez só até adormecer

Fica tão frágil a alma
A quem nos traga um sopro do deserto
O olhar onde a distância nunca acalma
Esperando o que vier de peito aberto

Se eu fosse a tua pele
Se tu fosses o meu caminho
Se nenhum de nós se sentisse nunca sozinho

segunda-feira, novembro 26, 2007

Foi por ela

Letra e Música: Fausto

Foi por ela que amanhã me vou embora
ontem mesmo hoje e sempre ainda agora
sempre o mesmo em frente ao mar também me cansa
diz Madrid, Paris, Bruxelas quem me alcança
em Lisboa fica o Tejo a ver navios
dos rossios de guitarras à janela
foi por ela que eu já danço a valsa em pontas
que eu passei das minhas contas foi por ela

Foi por ela que eu me enfeito de agasalhos
em vez daquela manga curta colorida
se vais sair minha nação dos cabeçalhos
ainda a tiritar de frio acometida
mas o calor que era dantes também farta
e esvai-se o tropical sentido na lapela
foi por ela que eu vesti fato e gravata
que o sol até nem me faz falta foi por ela

Foi por ela que eu passo coisas graves
e passei passando as passas dos Algarves
com tanto santo milagreiro todo o ano
foi por milagre que eu até nasci profano
e venho assim como um tritão subindo os rios
que dão forma como um Deus ao rosto dela
foi por ela que eu deixei de ser quem era
sem saber o que me espera foi por ela

Ouve-se o mar

Letra e Música: Mafalda Veiga
in Na alma e na pele, Mafalda Veiga

Agora
que a chuva cai devagar
lá fora
a noite vem devorar
o sol
e tudo fica em silêncio
na rua
e ao fundo
ouve-se o mar
ouve-se o mar

agora
talvez te possas perder
devora
o que a saudade te der
a vida
leva pra longe pedaços
do tempo
deixa o sabor de um regaço
e ao fundo
ouve-se o mar

agora
que a água inunda os teus olhos
e o mundo
já não te deixa parar
no escuro
voltam as histórias perdidas
na alma
onde não podes tocar
e ao fundo
ouve-se o mar

domingo, novembro 25, 2007

25 de Novembro de 1975


- Deixa cair o corpo sobre a cama, e concentra-te apenas na minha voz...

Viajo na voz de Ofélia, com a pressa de quem deixou algo por fazer. Voz de mel, língua de veludo que me percorre o corpo que se entrega à sua hipnose húmida. Quero regressar ao passado, a ver se ainda vou a tempo. Desta vez, não vamos falhar. Não sei se acerto na espira certa do tempo, estas coisas da hipnose não sei se acontecem à medida dos desejos. Ofélia, ajuda-me a regressar àquela noite do vinte e cinco de Novembro, onde estávamos todos reunidos numa cave. Tu não sabes, Ofélia, nunca poderás saber a força que nos unia, eu, o Gato, o Alegria, o Mau Tempo, o Quim Comandos, o Professor, a Adélia, o Cofres, o Tono da Viela, o Leonel, a Lisa, a Elsa, o Dílio Bailarino, o Hiroxima, o Vagamente, o Beto Doutor, o Poeta, espalhados em silêncio esperando pelas armas pesadas que vinham de Lisboa. Tu nunca poderás ter a noção de como foi dura a espera, como a nossa força se transformou em desespero, pela madrugada dentro, quando nos convencemos de que as armas não chegariam nunca.

- Concentra-te na minha voz, tu tens muito sono...

Sim, sinto uma vontade irresistível de adormecer, e acordar noutro tempo. Desta vez nada vai falhar, iremos a Maceda buscar os arsenais de reserva, não ficaremos eternamente à espera. Cortaremos a Ponte da Arrábida e o Viaduto de Santo Ovídeo na noite de vinte e quatro para vinte e cinco, abriremos caminho à bala e à granada, morreremos se preciso for, para que a noite não acabe. Para não voltarmos a acordar de manhã com os sonhos todos desfeitos. Revolução ou morte, será o nosso grito. Talvez ainda haja tempo para fazer com que não tenha acontecido o que aconteceu. Talvez possamos salvar a Revolução, repito vezes sem conta, enquanto escorrego na voz de Ofélia direito ao passado com a certeza de ter uma missão a cumprir. Como se caísse num poço sem fundo, sem certeza de regresso.

Desta vez, nada vai falhar.



Miguel Miranda in “O Estranho Caso do Cadáver Sorridente”



O Gato, o Alegria, o Mau Tempo, o Quim Comandos, o Professor, a Adélia, o Cofres, o Tono da Viela, o Leonel, a Lisa, a Elsa, o Dílio Bailarino, o Hiroxima, o Vagamente, o Beto Doutor, o Poeta, são companheiros do autor do tempo da Luar (Liga de União e Acção Revolucionária), onde os meus pais também militaram. E foi nesta fatídica noite que eles assustados com tudo o que se passava, resolveram trazer mais um para ajudar à luta. E cá estou eu, hoje aqui, 32 anos depois, com 31 anos, sentado em frente ao meu computador a pensar nisto tudo. Obrigado pais por me terem trazido para esta luta que é também minha. Eu ainda tenho sonhos e acredito que vocês também.



Beijos

Gui



“Fecho a fronteira p’ra lá de mim
olho-me em ti p’ra me ver
juro que a paz não faz parte de um sonho
espero por ti p’ra vencer”

Luís Represas in “A hora do Lobo”

(outro companheiro da Luar)


Não peço + nada
Só quero a solução,
Por isso diz-me em quanto tempo
Se faz a revolução.

Pedro Abrunhosa in “Silêncio”


estou-me a vir
e tu como é que te tens por dentro?
porquê não te vens também?

Caetano Veloso in "Cê"

Paciência
Letra e Música: Lenine / Dudu Falcão
in Lenine, Na Pressão

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não pára

Enquanto o tempo acelera
E pede pressa
Eu me recuso, faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara

Enquanto tudo o mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo, e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Será que é tempo que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo pra perder?
E quem quer saber
A vida é tão rara, tão rara
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei,
A vida não pára

segunda-feira, novembro 19, 2007

Portugal - 0 vs Finlândia - 16.000

Pois é, o jogo ainda não começou, é só na próxima 4ª feira no Estádio do Dragão, mas Portugal já está a perder por 16 mil a zero.
Na Finlândia, entendem que a própria emancipação será deles próprios ou não será de todo e por isso, 16 mil enfermeir@s ameaçam com o despedimento colectivo se não forem aumentados 24% no ordenado.
Se Cristiano Ronaldo parado não rende, o povo português, desunido, não avança!
Cada lugar teu
Letra e Música: Mafalda Veiga
in Tatuagem, Mafalda Veiga

sei de cor cada lugar teu
atado em mim, a cada lugar meu
tento entender o rumo que a vida nos faz tomar
tento esquecer a mágoa
guardar só o que é bom de guardar

pensa em mim protege o que eu te dou
eu penso em ti e dou-te o que de melhor eu sou
sem ter defesas que me façam falhar
nesse lugar mais dentro
onde só chega quem não tem medo de naufragar

fica em mim que hoje o tempo dói
como se arrancassem tudo o que já foi
e até o que virá e até o que eu sonhei
diz-me que vais guardar e abraçar
tudo o que eu te dei

mesmo que a vida mude os nossos sentidos
e o mundo nos leve pra longe de nós
e que um dia o tempo pareça perdido
e tudo se desfaça num gesto só

eu vou guardar cada lugar teu
ancorado em cada lugar meu
e hoje apenas isso me faz acreditar
que eu vou chegar contigo
onde só chega quem não tem medo de naufragar

sexta-feira, novembro 16, 2007

Tatuagens
Letra e Música: Mafalda Veiga
in Tatuagem, Mafalda Veiga

Em cada gesto perdido
tu és igual a mim
em cada ferida que sara
escondida do mundo
eu sou igual a ti

fazes pinturas de guerra
que eu não sei apagar
pintas o sol da cor da terra
e a lua da cor do mar

em cada grito de alma
eu sou igual a ti
de cada vez que um olhar
te alucina e te prende
tu és igual a mim

fazes pinturas de sonhos
pintas o sol na minha mão
e és mistura de vento e lama
entre os luares perdidos no chão

em cada noite sem rumo
tu és igual a mim
de cada vez que procuro
preciso um abrigo
eu sou igual a ti

faço pinturas de guerra
que eu não sei apagar
e pinto a lua da cor da terra
e o sol da cor do mar

em cada grito afundado
eu sou igual a ti
de cada vez que a tremura
desata o desejo
tu és igual a mim

faço pinturas de sonhos
e pinto a lua na tua mão
misturo o vento e a lama
piso os luares perdidos no chão

quinta-feira, novembro 15, 2007

Utilidade do Humor
Letra: Carlos Tê / Música: Hélder Gonçalves
in Cintura, Clã

Ontem à noite pus-me a reflectir
Nas coisas da vida em vez de dormir
Tive um quebranto fiquei surdo e mudo
Tolhido de espanto mas percebi tudo
O mundo era meu sentia-me um rei
O tempo era extenso e eu ditava a lei
Bastou dar um passo e crescer em frente
Perdi toda a graça quase de repente

Não fosse um sentido de humor apurado
Que me faz viver um sonho acordado
Não via tão claro o sentido da vida
E tudo seria bem mais complicado

Eu era feliz tinha os meus brinquedos
O anjo da guarda tirava-me os medos
Descobri o amor e vi nele o paraíso
Mas para ser expulso às vezes pouco é preciso
Podia ter tudo do bom e do caro
Que nada acodia ao meu desamparo
Sou a alma do mundo mais bem informada
Quanto mais me informo mais sei que sei nada

Não fosse um sentido de humor apurado
Que me faz viver a sonhar acordado
Não via tão claro o significado
E tudo seria bem mais complicado
Mandarim
Letra e Música: Hélder Gonçalves
in Cintura, Clã

Se és apenas um pouco naif
Se és apenas o meu leit motiv
Mordes, mordes

Se és apenas um cão vadio
Se és apenas um vizinho amigo
Mordes, mordes

Sim, mordes em mim
Sim, mordes em mim

Se és apenas um ombro bom
Se não me deixas sair do tom
Uh! Uh! Uh! Uh!

Se és apenas um pouco zen
Dou-te corda para seres super-man
Acorda, acorda

Sim, acorda em mim
Sim, acorda em mim

Quando puderes, dá cá um salto
É só desceres do varandim
Manda, manda
Manda

Sim, manda em mim
Sim, manda em mim
Sim, manda em mim
Manda, mandarim
Narciso sobre rodas
Letra: Carlos Tê / Música: Hélder Gonçalves
in Cintura, Clã

Ainda me lembro de ti
Tão cheio de ti mesmo
Passeando a tua esfinge
De príncipe de alta casta
Alguém que já nem finge
Que amar-se a si mesmo basta

Havia sempre alguém
A prestar vassalagem
E a render-se à tua imagem
De narciso bem penteado
Tirando da garagem
Um coração cromado
Julgavas que a vida era
Um chevrolé vermelho
E a beleza bastava
Para seres dono do lago
Mas quebrou-se o espelho
Não aguentaste o estrago
E eu verti uma lágrima
Por não o teu olhar
Pergunto a mim mesmo
Como pude um dia por ti chorar

Narciso sobre rodas vai

E agora ao encontrar-te
Pergunto a mim mesmo
Como pude um dia sequer amar-te
E agora ao encontrar-te
Pergunto a mim mesmo
Como pude sequer amar-te

quarta-feira, novembro 14, 2007

Pequena Morte
Letra: Regina Guimarães / Música: Hélder Gonçalves
in Cintura, Clã

Morrer de amor, morrer devagar
E ressuscitar
Morrer um pouco, nascer outra vez
Reviver talvez
Fala comigo desconhecido
Tão diferente e tão parecido

Filme de amor com beijo no fim
Em technicolor
Último aviso, partida iminente
Frio morno quente
Último embarque rumo ao paraíso
Primeiro dente do siso
Não me abandones nesta margem
Eu sou parte da viagem
Morrer de amor, morrer devagar
E ressuscitar
Morrer um pouco, nascer outra vez
Reviver talvez
Fala comigo desconhecido
Tão diferente e tão parecido
Perto de mim, mais longe do corpo
No lugar do morto
Vira-me do avesso, amor
Corta-me aos pedaços
Eu cresço e desapareço
Seguindo os meus próprios passos
Eu cresço e desapareço
Seguindo os meus próprios passos
Eu cresço e desapareço
Não me abandones nesta margem
Eu sou parte da viagem
Capitão coração
Sempre fora de mão
Morrer de amor, morrer devagar
Filme de amor com beijo no fim
Em technicolor

sexta-feira, novembro 09, 2007

A sociedade “Chiclet”

“A sociedade de consumo é muito pouco erótica.” A afirmação é de Júlio Machado Vaz no programa “Praça da Alegria” de 8 de Novembro de 2007. Numa sociedade em que tudo é imediato, fala-se e “consome-se” muito sexo, mas quando se fala na “arte” de erotizar, seduzir, agradar, acarinhar, amar @ outr@, o cenário é completamente diferente.

Já diziam os “Táxi” nos anos 80 “mastiga e deita fora, sem demora, Chiclet”.

Fará esta sociedade que nós próprios criamos, parte da selecção natural de que nos falou Charles Darwin?! É um dos caminhos que a espécie humana deve seguir porque a torna mais apta? Torna mesmo?! Somos hoje mais felizes do que o que são/foram os nossos pais/avós?! Somos mesmo?! O próprio conceito de felicidade não está também ele contaminado por esta sociedade de consumo?! Estamos proibídos de ficar tristes, temos de estar (ou transparecer aos outros) que estamos sempre bem e não aprendemos a ficar tristes, chorar, amuar… E depois, depois, quando já não conseguimos disfarçar mais, entramos em depressão, porque não exorcizámos antes a tristeza e as mágoas que temos, e vamo-nos transformando em patetas felizes, felizes a 100%.

Paremos todos. Paremos para pensar, para chorar, para amuar, para erotizar, para amar…
Orçamento de Estado 2008

A discussão do Orçamento de Estado para 2008, é uma discussão triste. Uma luta de titãs, em que ao invés de se procurarem alternativas credíveis para o país, e que nos tirem deste sufoco em que todos (quase todos, só fogem à crise muitos poucos, aliás para esses a crise é benéfica, pois continuam a enriquecer), surgem as disputas pessoais, em que apenas se tenta ver qual deles terá feito pior.

O que a mim, me causa arrepios, é haver quem não consigo perceber isto e entrar no jogo, escolhendo o seu lado. É por haver quem os alimente que eles estão lá, que eles são assim.

A política não é isto, ou não deveria ser, mas só poderá realmente mudar, quando acordarmos e percebermos que a cidadania é um acto contínuo e que não é ninguém além de nós próprios.

Apenas votarmos (quando votamos) de 4 em 4 anos, ou entrando na engrenagem, não questionando as coisas, não tomarmos posição sobre o que nos rodeia, faz com que as decisões que afectam as nossas vidas, sejam tomadas pela “bicharada”.

Não intervir, é também uma forma de intervir, quanto a mim, a pior.

É tempo de não fazermos silêncio, pois já dizia o Pedro Abrunhosa em 1994: “o silêncio é a arma que eles usam contra nós, porque isso é que nós nunca devemos fazer SILÊNCIO!”.

quarta-feira, novembro 07, 2007

Pra Continuar
Letra: Arnaldo Antunes / Música: Hélder Gonçalves
in Cintura, Clã

Sai para andar, anda
Vai, volta ao mesmo lugar
Não adianta, cai
Parece que vai desmair

Levanta, fica no ar
Descansa, cansa de tanto esperar
Alcança o mesmo lugar
Onde estava antes

Ainda e enquanto avança
Volta a ficar esperando
Passar o momento

Não morre, não dorme e se dorme
Acorda outra vez nesse corpo
Não dorme, não morre e se morre
Acorda outra vez noutro corpo
Pra continuar

quarta-feira, outubro 31, 2007

Ponto Zero
Letra: Carlos Tê / Música: Hélder Gonçalves
in Cintura, Clã

Eu tento ler-te em cada frase
Tens um mistério
Que eu não desvendo
Embora às vezes esteja quase

O teu silêncio mais parece
Um ponto final
Volto atrás, tento entender
Mas não sou capaz

Eu quero entrar no teu enredo
Mas tenho medo
De não conseguir passar
Do prefácio

Talvez me possas
Dar uma luz
Tudo o que eu peço é um sinal
Eu não quero o acesso
A todos os teus segredos
Mas só a alguns

Dá-me um indício
Mesmo contrário
"Contraditório"
Dá-me a palavra
Que eu vou procurá-la
Ao dicionário

Eu quero entrar no teu enredo
Mas tenho medo
De não conseguir passar
Do prefácio

Dá-me uma chance
É tudo o que eu quero
É muito mau
Ler um romance
Sem sair do ponto zero

Talvez me possas
Dar uma luz
Tudo o que eu peço é um sinal
Eu não quero o acesso
A todos os teus segredos
Mas só a alguns

sábado, outubro 27, 2007

Sexto Andar

Letra: Carlos Tê / Música: Hélder Gonçalves
in Cintura, Clã










Uma canção passou no rádio
E quando o seu sentido
Se parecia apagar
Nos ponteiros do relógio
Encontrou num sexto andar
Alguém que julgou
Que era para si
Em particular
Que a canção estava a falar

E quando a canção morreu
Na frágil onda do ar
Ninguém soube o que ela deu
O que ninguém
estava lá para dar

Um sopro um calafrio
Raio de sol num refrão
Um nexo enchendo o vazio
Tudo isso veio
Numa simples canção

Uma canção passou no rádio
Habitou um sexto andar

segunda-feira, outubro 22, 2007

Amuo
Letra: Carlos Tê / Música: Hélder Gonçalves
in Cintura, Clã

Vejo que estás mais crescida
Já dobras a frustração
Bates com a porta ao mundo
Quando ele te diz não

Envolves o teu espaço
Na tua membrana ausente
Recuas atrás um passo
Para depois dar dois em frente

Amuar faz bem
Amuar faz bem

Ficas descalça em casa
A fazer a tua cura
Salva por um bom amuo
De fazer má figura

Amanhã o mundo inteiro
Vai perguntar onde foste
E tu dizes apenas
Que saíeste, viajaste

Amuar faz bem
Amuar faz bem

Nada como um bom amuo
Apenas um recuo quando nada sai bem

E depois voltar
Como se nada fosse
E reencontrar o lugar
Guardado por um bom amuo

terça-feira, outubro 16, 2007

Fábrica de Amores
Letra: Adolfo Luxúria Canibal / Música: Hélder Gonçalves
in Cintura, Clã

A garganta seca
Pelo fumo do acre
Sou Salomé no nó dos calores
Que faltal boneca
Revestida a lacre
Sou Salomé fábrica de amores
Passo com ar bombástico
Digo maviosamente
Levo o paraíso em mim!
Levo o paraíso!

Os olhares pousam
Sobre o meu corpete
No salivar glutão do desejo
Mas as mãos não ousam
Tão voraz joguete
Sou Salomé ébria de ensejo
Passo, passo com ar bombástico
E digo maviosamente
Tenho o paraíso em mim!
Tenho o paraíso em mim!
Levo o paraíso!
Levo o paraíso em mim!
Secreto jardim
A um passo de ti
Dourado e carmim
A um passo de ti
Tenho o paraíso em mim!
Tenho o paraíso em mim!
Levo o paraíso!
Tenho o paraíso em mim!
Levo o paraíso!
Levo o paraíso em mim!
Em mim...
A mim!
Tira a Teima
Letra: Carlos Tê / Música: Hélder Gonçalves
in Cintura, Clã



Se um dia me aproximar de ti
Não penses que é só um flirt
Não julgues que é um filme
Que já viste em qualquer parte

Pensa bem antes de agir
Evita ser imprudente
Faz a carta do meu signo
E vê à lupa o ascendente

Tem cuidado e tira a teima
Vê aquilo que sou
Tem cuidado e tira a teima

Tu não sonhas ao que venho
Não sabes do que sou capaz
Eu dou tudo quanto tenho
Não funciono a meio gás

Vem sentar-te à minha frente
E diz-me o que vês em mim
Não respondas já a quente
Pondera antes de dizer sim

Tem cuidado e tira a teima
Porque aquilo que sou
Fere, rasga e queima

Diz-me se vês o granito
Onde se gravam os grandes temas
Diz-me se vês o amor infinito
Ou somente um par de algemas

Tem cuidado e tira a teima
Porque aquilo que sou
Fere, rasga e queima

domingo, outubro 07, 2007

Adeus Amor
Letra: Carlos Tê Música: Hélder Gonçalves
in Cintura, Clã

Adeus amor que cresci
Já pouco me tens a dizer
Já bebi tudo de ti
Que de bom tinha a beber

Adeus amor, vou embora
Não me impeças por favor
Sabes que só vou agora
Porque dei tempo ao amor

Não suporto o teu modo
Carinhoso e paternal
No tom de quem sabe tudo
Sem saber o essencial

Adeus amor já me cansa
A canção do teu cinismo
Essa pose de quem dança
Sempre à beira do abismo

Adeus amor que cresci
Pouco me tens a dizer
Já bebi tudo de ti
E há mais mundo a beber

Não suporto o teu modo
Carinhoso e paternal
No tom de quem sabe tudo
Sem saber o essencial
Vamos esta noite
Letra:Arnaldo Antunes Música: Clã
in Cintura

Vamos
Para a montanha russa
Vamos
ao carrossel
Vamos
Subir o Pão de Açucar
Vamos juntos
Lamber o céu

Vamos
Dançar até cair, ir
Juntos vamos
Morrer de rir

Esta noite é só pra nós
Hoje não terá depois
Hoje não terá porquês
Esta noite é pra vocês
Virem comigo
Até ao fim
Para o fim do mundo

Vamos
Perder a hora certa
Vamos
Pisar no chão
Vamos
Deixar a porta aberta
Juntos vamos
Para Plutão

Hoje não terá amanhã
Hoje o mundo é nosso Clã
Hoje não terá talvez
Esta noite é pra vocês
Virem junto
Até ao fim do fim de tudo

quarta-feira, outubro 03, 2007

A Velhice
Samuel Beckett / João Lagarto / Jorge Palma in Voo Nocturno

A velhice é quando há um homem
agachado à lareira
com medo das bruxas
levar o bacio para a cama
e trazer o grog
ela vem nas cinzas
aquela que amou não pôde ser
vencida
ou vencida não pôde ser amada
ou qualquer outro pesadelo
vem nas cinzas
como nessa velha luz
a sua face nas cinzas
essa velha luz de estrelas
de novo na terra
Finalmente a Sós
Jorge Palma in Voo Nocturno

Antes de teres aberto o mar
antes de teres virado o rio
eu era alguém às costas de outro alguém

Trouxeste mais contradições
trouxeste mais opiniões
e agora eu sou mais outro Zé-Ninguém

Finalmente só
Finalmente a sós

Quando eu já estava a sossegar
quando já estava a adormecer
vi-te dançar e a minha paz morreu

Odeio a luz do teu olhar
quando não brilha só p'ra mim
pensei que fosses um brinquedo meu

Finalmente só
Finalmente a sós
Quarteto da corda
Jorge Palma in Voo Nocturno

justina e Baltazar encontraram-se à beira do rio
um estava sem calor e o outro mesmo cheio de frio
passou um cardume de lume que os engalfinhou
Justina e Baltazar encontraram-se à beira do rio

A Cleia e o Montolivo andavam por Avinhão
estavam ambos à espera do próximo avião
um ia para Alexandria, o outro não sabia
Cleia e Montolivo andavam por Avinhão

No Hemisfério do Sul, um mosquito deu à asa
e uma criança nasceu sem saber que não tem casa
um objecto voador bem identificado
leva cento e tal pessoas de volta ao lar,
há-de lá chegar, hum, há-de lá chegar!

Justina e Baltazar, a Cleia e o Montolivo
juntaram-se nas docas, beberam alguns digestivos
alguém tinha à disposição um belo apartemã
ninguém sabia com quem estava quando chegou a manhã
ninguém sabia quem era quando chegou a manhã...

segunda-feira, outubro 01, 2007

O Jogo de "Cintura" dos Clã

1 de Outubro de 2007! No dia mundial da música o mundo conhece o 5º álbum de originais daquela que considero ser a melhor banda do mundo, os Clã!
Manuela Azevedo, Pedro Biscaia, Miguel Ferreira, Fernando Gonçalves, Hélder Gonçalves, Pedro Rito, apresentam-nos Cintura!
Saiu hoje e já estou apaixonado por 2 canções. Uma delas já a conheci a 22 de Agosto no ensaio geral para um grupo de 50 previligiados, em que felizmente estive, e que é Sexto Andar (curiosamente o andar que habito), outra é Pra Continuar.
Nos Clã vejo competência! Não só musical, mas Competência para Amar. Amarem-se entre eles, amarem os seus fãs, amarem o mundo, amarem quem com eles faz também um novo disco, sendo correspondidos por isso como se vê em Vamos esta noite de Arnaldo Antunes (Hoje não terá amanhã / Hoje o mundo é o nosso Clã / Hoje não terá talvez / Esta noite é para vocês / Virem junto / Até ao fim do fim de tudo).
Outro aspecto que me agrada é partirem sempre do Ponto Zero, mas sempre Pra Continuar.
E mesmo quando o mundo nos parecer de tal maneira injusto, que nos apeteça um bom Amuo, há sempre um Sexto Andar onde (Uma canção passou no rádio / E quando o seu sentido / Se parecia apagar / nos ponteiros do relógio / encontrou num sexto andar / alguém que julgou / que era para si / em particular / que a canção estava a falar / E quando a canção morreu / na frágil onda do ar / ninguém soube que ela deu / o que ninguém / estava lá para dar / Um sopro, um calafrio / raio de sol num refrão / um nexo enchendo o vazio / tudo isso veio / numa simples canção).
Obrigado e parabéns, Clã!

sábado, setembro 22, 2007

Vermelho Redundante
Letra: Carlos Tê
Música: Jorge Palma
in: Voo Nocturno

Eu só quero ver o instante
em que chegas à manif
no teu Armani flamejante
qual vermelha passadeira
em vermelho redundante
que empalidece a bandeira

Vou ficar a ver-te mudo
gritanto slogans na rua
pela divisão da riqueza, enquanto
nos gabinetes de veludo
o poder treme e recua
com medo da tua beleza

Então dou-te uma toilette
soneto de alta-costura
a mais chique maravilha
para me sentir perdoado
por não poder estar ao teu lado
quando tomares a Bastilha

segunda-feira, setembro 17, 2007

Vozes da Rádio presentes no 1º aniversário da loja de Comércio Justo de Cedofeita

As Vozes da Rádio estiveram presentes no 1º aniversário da loja de Comércio Justo de Cedofeita. Podes ver o que acharam em: http://vozesdaradio.blogspot.com/2007/09/reviravolta.html

sábado, setembro 15, 2007

COMBATER O AQUECIMENTO GLOBAL UM DESAFIO SOCIAL E POLÍTICO ESSENCIAL


NO PIOR DOS CENÁRIOS, 150 MILHÕES DE PESSOAS PODERÃO SER OBRIGADAS A DEIXAR AS SUAS CASAS ATÉ AO ANO 2050, DEVIDO À SUBIDA DO NÍVEL DAS ÁGUAS NOS OCEANOS EM RESULTADO DO AQUECIMENTO GLOBAL1. AO MESMO TEMPO, AS MORTES CAUSADAS PELA FALTA DE ÁGUA, MALÁRIA E FOME PODEM AUMENTAR EM 3 MIL MILHÕES, 300 MILHÕES E DE 50 A 100 MILHÕES, RESPECTIVAMENTE.

EMBORA já seja mais que preocupante esta previsão dos efeitos das alterações climáticas, outros dois elementos podem ser acrescentados, de cuja importância todos devemos estar alerta:

— as repercussões na agricultura. Um aumento da temperatura que vá para além dos 3ºC muito provavelmente vai provocar alterações no conjunto da produtividade nos ecossistemas ligados ao cultivo. Abaixo daquele valor, os impactos negativos sentir-se-ão (e já se sentem hoje) nas regiões tropicais e sub-tropicais, sobretudo em África e na América do Sul.

— os efeitos nos ecossistemas. As consequências do aquecimento são hoje claramente observáveis e algumas delas vão ter implicações graves nalgumas populações: uma quebra acentuada na biodiversidade (menos 25%, segundo um estudo publicado na revista "Nature"), o desaparecimento de recifes de coral e a crescente fragilidade das grandes áreas florestais como a da Amazónia.

Como irá o sistema capitalista lidar com estas situações? A questão continua a ser preocupante se repararmos que as políticas já implementadas em certos casos, como nas ilhas do Pacífico, ou em Nova Orleães a seguir ao furacão Katrina, ou ainda quando vemos os cenários estratégicos propostos por certos "especialistas".

NAS ILHAS DO PACÍFICO

Nalguns pequenos estados nas ilhas do Pacífico, a ameaça do aquecimento já é vivida dolorosamente como um problema do dia-a-dia. No início de Dezembro de 2005, a população de Lateu, uma pequena aldeia de 100 habitantes na ilha de Tegua, no estado polinésio de Vanuatu, foi deslocada para fugir às cheias frequentes2: a barreira de corais já não protege suficientemente as ilhas no que respeita aos furacões, com a erosão da costa a avançar ao ritmo de 2 a 3 metros por ano. Lateu foi o primeiro caso de realojamento colectivo após a subida do nível dos oceanos. Mas Tuvalu, outro estado do Pacífico, já tem três mil refugiados climáticos. Situado 3400 kms a nordeste da Austrália, este país (26km2 de terra mais ou menos firme) é feito de oito atóis elevando-se a 4,5 metros acima do nível do mar. Pode ficar mergulhado na

História como o primeiro país a ser completamente evacuado por causa das alterações do clima.

Ciente desta situação, o governo de Tuvalu pediu em 2000 à Austrália e à Nova Zelândia para acolherem os 11.636 residentes caso fosse necessário. Camberra recusou, alegando que um acordo deste tipo seria "discriminatório" para os outros candidatos a asilo de refugiados. Quanto à Nova Zelândia, apenas aceitou acolher 74 pessoas por ano, desde que tenham entre 18 e 45 anos e uma boa oferta de emprego no país, e ainda que provem conhecer bem o inglês, tenham boa saúde e posses suficientes caso tenham pessoas a cargo na família3. Para termos um retrato completo desta política, lembremo-nos que a Austrália, por exemplo, tem três habitantes por km2, e o seu PIB por habitante é de 29.632 dólares/ano4, e que recusou ratificar o Protocolo de Quioto enquanto continua a ser um dos maiores utilizadores de carbono no planeta.


KATRINA, NOVA ORLEÃES


"Os pobres vão ser as principais vítimas das alterações climáticas", avisa o IPCC. O caso Katrina mostra que este aviso também serve para os países desenvolvidos. Não há uma base sólida para afirmar que o furacão que devastou Nova Orleães em Agosto de 2005 se deveu ao aumento da concentração na atmosfera de gases de efeito de estufa. Mas a violência dos furacões do Atlântico Norte duplicou nos últimos 30 anos, provavelmente devido ao aquecimento5. Acima de tudo, a resposta a esta crise foi muito esclarecedora. Antes, durante e depois.

Antes? Embora a ameaça pendente sobre a capital do jazz fosse conhecida há muito tempo, o estado federal resolveu, para financiar as suas aventuras belicosas, cortar desde 2001 no orçamento destinado às equipas de prevenção de cheias, a SELA (Southeast Louisiana Urban Flood Control Project)), cuja administração estava entregue à Divisão de Engenharia do Exército. No início de 2004, o governo disponibilizou cerca de 20% das verbas pedidas para fortalecer os diques do Lago Pontchartrain. No fim desse ano, e apesar da inédita actividade dos ciclónica, a SELA só recebeu um sexto do que tinha pedido: 10 milhões de dólares.

Entretanto, em Julho, a Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA) tinha desenhado um plano de emergência baseado na hipótese cínica de que os pobres (30% da população, 67% dos quais são negros) ficariam na cidade em caso de cheias - já que não teriam os recursos financeiros suficientes para se porem a salvo. "Os residentes têm que saber que estarão por sua conta durante vários dias", disse Michael Brown, chefe da FEMA. Em Julho de 2005, as autoridades municipais avisaram os habitantes que eles seriam "em grande medida os responsáveis pela sua própria segurança"6.

Durante? 138 mil dos 480 mil habitantes sem ajuda durante cinco dias, mais de 1000 mortos, repressão brutal de iniciativas visando a sobrevivência (sistematicamente caracterizadas de "pilhagem")... Estes factos foram amplamente divulgados pelos media. É evidente que não podem ser explicados unicamente pela negligência ou pela confusão instalada, mas sim por uma lógica que era contra os pobres, baseada numa perspectiva de classe, arrogante e racista, e onde as sórdidas especulações imobiliárias tiveram um papel nada negligenciável. As declarações de George W. Bush e dos seus próximos fornecem bastantes confirmações disso mesmo7.

Depois? Menos conhecidas publicamente, algumas medidas tomadas no contexto da reconstrução também se revestem de grande significado: salário mínimo suprimido, contratos públicos entregues a amigalhaços (Halliburton!) sem concurso, obstáculos ao regresso da população pobre para permitir a remodelação da cidade, entre outras8. Em resumo, foi um bom exemplo da forma como o capital pode usar a crise ecológica para melhorar as condições da sua valorização.


AMEAÇA DA BARBÁRIE


As ilhas do Pacífico e o Katrina trouxeram à ribalta aquilo a que os neoliberais chamam de "gerir as consequências do aquecimento". Se projectarmos estes exemplos à escala global, não se pode fugir a esta conclusão: dentro de algumas décadas, as alterações climáticas podem servir como suporte a cenários de barbárie duma dimensão tão inédita como as próprias alterações do clima provocadas pela actividade humana.

Alguns "thinks tanks" não fazem segredo dos seus projectos nesta área. Num estudo sobre as consequências de alterações graves no clima para a segurança nacional dos EUA, dois "especialistas" escreveram friamente que os "países com recursos suficientes para o efeito", como os EUA e a Austrália, "poderão construir fortalezas virtuais em volta do seu território, preservando os recursos para si próprios". Do lado de fora dessas fortalezas, "as mortes por guerras, bem como a fome e a doença (devido ao aquecimento) diminuirão o número da população, que, com o tempo, regressará a um equilíbrio com a "capacidade de carga"9. Muito poucos comentadores prestaram atenção ao facto do valor científico deste auto-intitulado "estudo"

simplesmente não existir (até porque, inspirado pelo filme de catástrofe "The Day After", põe o cenário duma ameaça dual de uma nova glaciação e da subida do nível dos oceanos, o que é um disparate). Mas mais preocupante é a falta de protestos nos meios científicos contra a utilização do conceito ecológico de "capacidade de carga" dos ecossistemas, aqui usada para apoiar um projecto sócio-político abjecto: a exteminação em massa dos pobres.

Infelizmente, este relatório não é uma excepção. A lista de erupções reaccionárias levantadas pelo aquecimento é de facto muito longa. Outros "especialistas" já procuram aperfeiçoar o mercado das licenças de emissão de gás de efeito de estufa, abrindo o mercado de "licenças para procriar", com o pretexto da "demografia galopante" dos países em vias de desenvolvimento serem a maior causa desestabilização climática. Sobre estas questões decorrem sérias batalhas ideológicas e sociais. Já o tínhamos visto na tentativa falhada de infiltração da mais importante associação de protecção da natureza dos EUA, o Sierra Club, por elementos da extrema-direita, propondo o fim da imigração como uma medida "ecológica" prioritária10. A gestão neo-liberal das alterações climáticas pode tornar-se ainda mais perigosa do que as próprias alterações.

A URGÊNCIA DE UMA ALTERNATIVA

Muitos sinais indicam que a luta pelo clima será cada vez mais um dos principais assuntos políticos e sociais. Para além do Protocolo de Quioto (um primeiro passo muito insuficiente), a resposta do sistema capitalista está a ser redesenhada e refinada mesmo debaixo dos nossos olhos. Ela consistirá por exemplo em usar a séria ameaça do aquecimento para acelerar a implementação das políticas neo-liberais geradoras de exclusão, dominação, desigualdade e degradação do ambiente. É necessaria então outra política climática. Uma política que possa salvar o clima num quadro de justiça social, democracia e respeito pelos ecossistemas, à escala mundial. Uma política que redistribui a riqueza radicalmente e põe um ponto final no produtivismo. A imposição desta política necessita da mobilização mais ampla, à escala mundial.

*Daniel Tanuro é um ambientalista belga e correspondente da revista "International Viewpoint", editada pela IV Internacional. Tradução de Luís Branco.

NOTAS:

1- 30 milhões na China, 30 milhões na Índia, 15-20 milhões no Bangladesh, 14 milhões no Egipto [Meyers 1994, citado por Friends of the Earth Australia, "Citizen’s Guide to Climate Refugees", 2005]

2- Environment News Service,12 Janeiro 2006

3 - Friends of the Earth Australia, 2005, op. cit.

4 - PIB por habitante corrigido pelas variações do poder de compra

5 - Revista "Nature", 31 Julho 2005

6 - Jessica Azulay, "FEMA planned to Leave New Orleans Poor Behind", http://newstandardnews.net

7 - Inquirido sobre as condições extremamente precárias em que os refugiados foram deixados no Texas, a mãe de Bush declarou: "Sabe que muitas das pessoas que se encontram neste pavilhão já viviam em muito más condições. Isto para eles é muito bom." "Editor & Publisher", September 5, 2005

8 - Patrick Le Tréhondat and Patrick Silberstein, "L’ouragan Katrina, le désastre annoncé", Syllepse, 2005

9 - An abrupt Climate Change Scenario and its Implications for US National Security", P. Schwartz and D. Randall, Outubro 2003. Este texto foi publicado em vários sites, nomeadamente no da Greenpeace.

10 - Bitter Division for Sierra Club on Immigration", The New York Times, 16 Março 2004

CLIMA E AUTO-SUFICIÊNCIA ALIMENTAR

De acordo com um relatório da Organização para a Agricultura e Alimentação da ONU, "Em cerca de 40 países pobres e em vias de desenvolvimento, com uma população total de 2 mil milhões, incluindo 450 milhões de pessoas sub-alimentadas, as quebras de produção devido às alterações climáticas podem aumentar drasticamente o número de sub-alimentados e obstaculizar os progressos no combate à pobreza e insegurança alimentar. Os países da África sub-sahariana iriam arcar com as consequências piores. Há cerca de 1.1 biliões de hectares de terra árida onde o período de crescimento das culturas é menor que 120 dias. Entre hoje e 2080, esta superfície pode aumentar entre 5 e 8%. Para lá de África, todas as regiões tropicais e sub-tropicais serão afectadas. A produção de cereais de 65 países que contêm mais de metade da população dos países em desenvolvimento poderia cair 280 milhões de toneladas (ou 16% do PIB agrícola destes países.)

FONTE: http://www.fao.org/newsroom/FR/news/2005/102623/index.html

segunda-feira, setembro 03, 2007

Gaivota dos Alteirinhos
Jorge Palma in Voo Nocturno

Dança sobre as ondas do mar
gaivota dos Alteirinhos
desperta dia após dia
a vida da praia ainda fria

Plana a seu bel-prazer
sobre o caranguejo e o sargo
entre as malandrices do Verão
e o sorriso terno do chão

Gaivota dos Alteirinhos
é tão bom ver-te voar
gaivota dos Alteirinhos
nunca deixes de acordar
nunca deixes de acordar

Entre o chill-out e o transe
a sinfonia dos grilos
um pouco de rock' n' roll
e uma valsinha ao pôr-do-sol

E finalmente ao luar
adormece satisfeita
essa gaivota sereia
nos braços do homem-areia

Gaivota dos Alteirinhos
é tão bom ver-te voar
gaivota dos Alteirinhos
nunca deixes de acordar
nunca deixes de acordar

sábado, setembro 01, 2007

Rui Rio - O bebé borrão

Rui Rio, é um autêntico bebé mimado! Depois das corridas dos popós no circuito da Boavista, o Porto teve este fim-de-semana o "espectáculo" dos aviõezinhos. Ah, que maravilha... Ainda bem que o bebé acabou com a Culturporto, para assim podermos ter muito lazer!!! Mal posso esperar pelo Natal para ver a maior árvore de Natal na minha cidade. Que grande alegria!!
Entre os popós e as avionetes, Rui Rio ainda teve tempo esta semana para se borrar todo! Andando, literalmente, à caça de contentores do lixo por esvaziar (e não encontrando nem um único), anunciou que tanto desleixo não pode continuar e que portanto irá atribuir a recolha de lixo a privados. Mesmo a haver culpas no cartório aos profissionais da recolha do lixo, Rui Rio como figura patronal deveria arranjar soluções. Ao demitir-se do problema, só revela a sua incompetência para resolver um problema, que segundo ele existe.
O bebé brinque! Brinque muito! Com popós, com aviõezinhos, com carrinhos de lixo! Nós, em 2009 pomo-lo de castigo no quarto escuro!!! E aí, quando a cultura voltar à cidade, o bebé vai ter muito tempo para lazer, mas certamente não encontrará no Porto popós e aviões.

sexta-feira, agosto 31, 2007

Abrir o sinal
Jorge Palma in Voo Nocurno

Eu disse "vamos partir, o espaço é seco, vazio e banal, vamos fugir!"
andámos de lugar em lugar
talvez a deixa fosse má, afinal a marca ainda cá está
a conspirar nalgum patamar

Não é o momento de te aconchegar
e não posso ver-te mal
acho que chegou o tempo de abrir o sinal
não sou suposto ver onde vais
nem saber com quem tu sais
neste canto meu
tens um mundo que é só teu

Olha que os nossos pés, mesmo que às vezes estejam de revés, são de proteger
respondem à voz do coração
com erva, vento, pedra e frio, na montanha ou no rio
merecem ternura e atenção

Não é o momento de te aconchegar...

quinta-feira, agosto 30, 2007

Nuno Prata

Há cerca de um ano, Nuno Prata (baixista dos extintos Ornatos Violeta, lançou o seu primeiro disco a solo intitulado Todos os dias fossem estes/outros. Podes ver e ouvir aqui o primeiro videoclip, Hoje quem?, ilustrado por Daniel Neves.


Olá (cá estamos nós outra vez)
Jorge Palma in Voo Nocturno

Olá! Sempre apanhaste o tal comboio?
Eu já perdi dois ou três
entre o ócio e as esquinas
ganhei o vício da estrada
nesta outra encruzilhada
talvez agora a coisa dê
o passado foi à história
cá estamos nós outra vez

Conheço a tua cara, mas não sei o teu nome
eu escrevo já aqui, não sei o quê, arroba-ponte-come
vou-te reencontrar noutro bar de estação
ou talvez quando perder mais um avião
o barco vai de saída, tu estás tão bronzeada
é tão bom ver-te assim, ardente,
tão queimada

Eu quero reencontrar-te noutra esquina qualquer
sem saber o teu nome ou se ainda és mulher
quero reconhecer-te e beber um café
dizer-te de onde venho e perguntar-te porquê
sorrir-te cá do fundo, subir os degraus
eu quero dar-te um beijo
a cinquenta e tal graus

Quero reencontrar-te noutra esquina qualquer
sem saber o teu nome ou se ainda és mulher
quero reconhecer-te e beber um café
dizer-te de onde venho e perguntar-te porquê
sorrir-te cá do fundo, subir os degraus
eu quero dar-te um beijo a cinquenta e tal graus

Sempre apanhaste o tal comboio?
Já perdi dois ou três
entre o ócio e as esquinas
ganhei o vício da estrada,
nesta outra encruzilhada
talvez agora a coisa dê
o passado foi história
cá estamos nós outra vez
cá estamos nós outra vez

segunda-feira, agosto 20, 2007

O Centro Comercial fechou
Jorge Palma in Voo Nocturno

O centro comercial fechou
a Maria vai viver a vida mais longe
longe das ilusões
em cima das situações perigosas

O Tóino não morreu no mar
acabou de adquirir um castelo na Escócia (enfim)
não é bem na Escócia
é uma cave sombria em Gaia

O passado já lá está, raio duma sorte cinzenta
e o presente é uma réstia de esperança enquanto houver saúde
há que cuidar do aspecto, fazê-lo parecer natural
por mais que seja cruel, não há ninguém que ajude

Ninguém nos ensinou a usar
nada do que recolhemos pelo caminho
perto das ilusões
entre o amor e as razões perversas

O passado já lá está, raio duma sorte cinzenta
e o presente é uma réstia de esperança enquanto houver saúde
há que cuidar do aspecto, fazê-lo parecer natural
por mais que seja cruel, não há ninguém que ajude

O centro comercial fechou
Manu Chao apoia indígena Maia à presidência da Guatemala



Manu Chao gravou uma mensagem de apoio a Rigoberta Menchú, que se candidata a presidente da Guatemala, nas eleições que vão decorrer em 9 de Setembro próximo.

Rigoberta Menchú recebeu em 1992 o prémio Nobel da Paz pelo seu trabalho em defesa dos direitos dos indígenas. No discurso, que fez quando recebeu o prémio, reivindicou os direitos históricos negados aos povos indígenas e denunciou a perseguição por eles sofrida desde a chegada dos europeus ao continente americano.
Rigoberta Menchú, que nasceu em 1958 e é indígena maia, destacou-se como lutadora pelos direitos sociais, em particular dos indígenas, e pelo combate à ditadura militar na Guatemala.

Rigoberta Menchú candidata-se a presidente da República da Guatemala nas próximas eleições, que decorrerão a 9 de Setembro. É apoiada pelo partido Encuentro por Guatemala.

terça-feira, agosto 14, 2007

Rosa Branca
Jorge Palma in Voo Nocturno

Vive! Dança! Rosa Branca
não percas tempo a tentar ser feliz
roda viva, rosa vermelha
toma bem conta do que eu nunca fiz

Quando fores grande não queiras crescer
abraça a terra que te viu nascer
embala o mundo ao som dos teus passos
deixa o teu lar-doce-lar em estilhaços

Vive! Dança! Rosa Branca
não percas tempo a tentar ser feliz
roda viva, rosa vermelha
toma bem conta do que eu nunca fiz

Quando te vejo, tenho que admitir
todo eu estremeço, não posso mentir
a tua seiva alimenta a lua
faz-me querer ir cantar para a rua

Vive! Dança! Rosa Branca
não percas tempo a tentar ser feliz
roda viva, rosa vermelha
toma bem conta do que eu nunca fiz

Roda viva, rosa vermelha
toma bem conta do que eu nunca fiz

segunda-feira, agosto 13, 2007

Voo Nocturno
Jorge Palma

Agora já não vejo o sol
nem o seu reflexo lunar
levo as asas nos bolsos
e o coração a planar
neste voo nocturno
não sei onde vou aterrar

Sinto as nuvens nos meus pulsos
e o leme sempre a consentir
são sempre os mesmos ossos
que eu insisto em partir
neste voo nocturno
só quero mesmo resistir

Neste voo nocturno sou mais leve do que o ar
neste voo nocturno não sei onde vou acordar

Em baixo há manchas no canal
mas eu não as quero ver
o aeroplano está frio
e as hélices a ferver
o nariz do avião
só obedece a quem quiser

Agora não existe nada
o meu motor "ao ralenti"
vou revendo em surdina
tudo o que eu vivi
neste voo nocturno
a madrugada vem ai

sábado, agosto 11, 2007

Novo videoclip de Manu Chao, realizado por Emir Kusturica






O músico e cineasta sérvio Emir Kusturica rodou em Buenos Aires, com membros da rádio Colifata, o videoclip da última canção de Manu Chao, "Rainin' in paradize". No vídeo junto com imagens de conflitos armados, podem ver-se Manu Chao e o próprio Kusturica.

sexta-feira, agosto 10, 2007




Encosta-te a mim
Jorge Palma in Voo Nocturno

Encosta-te a mim, nós já vivemos cem mil anos
encosta-te a mim, talvez eu esteja a exagerar
encosta-te a mim, dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou, deixa-me chegar

Chegado da guerra, fiz tudo p'ra sobreviver
em nome da terra, no fundo p'ra te merecer
recebe-me bem, não desencantes os meus passos
faz de mim o teu herói, não quero adormecer

Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim

Encosta-te a mim, desatinamos tantas vezes
vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal
recebe esta pomba que não está armadilhada
foi comprada, foi roubada, seja como for

Eu venho do nada porque arrasei o que não quis
em nome da estrada onde só quero ser feliz
enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada
vai beijar o homem-bomba, quero adormecer

Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo
o que não vivi, um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim

segunda-feira, julho 30, 2007

O pequenino Marques Mendes

Não sendo nem de longe nem de perto simpatizante do PSD, reconhecia mérito a Marques Mendes pela limpeza de balneário efectuada com Isaltino, Valentim e recentemente Carmona. No entanto, esta grande coragem de um homem pequeno foi esmagada ao ridículo na Madeira, tendo-se Marques Mendes curvado perante Jardim, tornando-se ainda mais pequeno do que já é. Quando cheira a votos, tudo conta para Marques Mendes. Que ser tão baixo!!

segunda-feira, julho 23, 2007

Fragilidade
Mafalda Veiga in Nada se repete

Talvez pudesse o tempo parar
Quando tudo em nós se precipita
Quando a vida nos desgarra os sentidos
E não espera, ai quem dera

Houvesse um canto para se ficar
Longe da guerra feroz que nos domina
Se o amor fosse como um lugar a salvo
Sem medos, sem fragilidade
Tão bom pudesse o tempo parar
E voltar-se a preencher o vazio
É tão duro aprender que na vida
Nada se repete, nada se promete
E é tudo tão fugaz e tão breve

Tão bom pudesse o tempo parar
E encharcar-me de azul e de longe
Acalmar a raiva aflita da vertigem
Sentir o teu braço e poder ficar

E é tudo tão fugaz e tão breve
Como os reflexos da lua no rio
Tudo aquilo que se agarra e já fugiu
É tudo tão fugaz e tão breve
Noite Passada de Sérgio Godinho



quinta-feira, julho 12, 2007

+ 1 Comboio
Letra: Jorge Palma
Música: Flak
in: Espanta Espíritos

Vejo tanto olhar encafuado
Em automóveis bestiais
Casos graves de bem estar,
Por mais que tenham, nunca têm a mais.

Aleijados do conforto,
Refugiados na t.v.,
O pior não é estar triste,
O pior é não saber porquê.

Há o entretenimento
Há o remoto control
Há-de haver mais um comboio
Para o centro comercial

Nesta altura ninguém faz greve,
Embora muitos tentem adormecer
Alguns vão derretendo a neve
Nas colheres a ferver.

Nas entradas do metro, o frio
É combatido com papel de jornal
Útil informação para os que estão na frente,
Cegos pelas luzes do Natal.

segunda-feira, julho 09, 2007

A culpa é da vontade
Letra e música:António Variações

A culpa não, não é do Sol
Se o meu corpo se queimar
A culpa não, não é do Sol
Se o meu corpo se queimar
A culpa é da vontade
Que eu tenho de te abraçar

A culpa não, não é da praia
Se o meu corpo se ferir
A culpa não, não é da praia
Se o meu corpo se ferir
A culpa é da vontade
Que tenho de te sentir

A culpa é da vontade
Que vive dentro de mim
E só morre com a idade
Com a idade do meu fim
A culpa é da vontade

A culpa não, não é do mar
Se o meu olhar se perder
A culpa não, não é do mar
Se o meu olhar se perder
A culpa é da vontade
Que eu tenho de te ver

A culpa não, não é do vento
Se a minha voz se calar
A culpa não, não é do vento
Se a minha voz se calar
A culpa é do lamento
Que sufoca o meu cantar

A culpa é da vontade
Que vive dentro de mim
E só morre com a idade
Com a idade do meu fim
A culpa é da vontade

sábado, maio 12, 2007

Comércio?!!!

Em dia mundial do Comércio Justo, eis notícias de um "comércio" inqualificável...

À entrada de um supermercado
PSP impediu venda de bebé em Vila Franca de Xira
12.05.2007 - 11h45 Lusa


A PSP identificou ontem nove pessoas envolvidas na venda de um bebé de quatro meses às portas de um supermercado de Vila Franca de Xira, entre elas a mãe da criança.

A notícia, divulgada na edição de hoje do "Jornal de Notícias", já foi confirmada pelo comando da PSP de Lisboa.

Fonte da PSP confirmou à agência Lusa que foram identificadas nove pessoas e que o grupo não chegou a vender o bebé.

A criança foi internada para observação num hospital em Vila Franca de Xira e a situação foi comunicada ao Tribunal de Família e Menores.

Segundo o JN, os elementos do grupo que tentava vender o bebé foram presentes ao Ministério Público, tendo sido constituídos arguidos e logo depois libertados.

terça-feira, abril 17, 2007

Reportagem de Sara Coelho e Joana Martinho sobre Comércio Justo para a cadeira de Televisão do seu curso


domingo, abril 15, 2007

DINIS DOS BOTÕES

Letra: José Guedes
Música: Telmo Marques
in: Coisas Simples de Luís Portugal

Esses teus olhos verde-benetton
Oh! minha paixão vermelho-ferrari
O meu coração palpita ton-sur-ton
Ao ver-te sorrir colgate anticárie

As tuas pernas-dim, que sedução
cobiço esse teu sexo slogi, sim
ao teu triumoh(al) peito deito a mão
mas levo um estalo e ainda te ris de mim

Chamo-me Dinis, sou o rei dos botões
só as etiquetas me dão sensações
deixa ver a marca da minha emoção
não digas que não.

Desejo esses teus lábios-cibelle
os teus delicados pulsos-cartier
o cheiro do teu corpinho-chanel
os teus bonitos ombros-gaultier.

quinta-feira, abril 05, 2007

Parabéns! Parabéns! Parabéns! Parabéns!

Os Gato Fedorento são neste momento um fenómeno de popularidade.
Para mim ganharam hoje a designação de ídolos!
Já gostava deles na SIC Radical, mas agora na RTP com o Diz que é uma espécie de magazine, com rábulas semanais sobre a situação nacional eles estão muito à frente. Para além de terem piada, são extremamente cultos e isso faz toda a diferença!
Depois de terem ajudado Portugal a entrar para o século XXI com esta rábula:






eis que uma semana depois do PNR (Partido Nacional Renovador) ter editado um cartaz xenófobo no Marquês do Pombal, em Lisboa, os Gato Fedorento responderam colocando um cartaz em tudo idêntico, onde se lê "Mais imigração" afirmando que "Nacionalismo é parvoíce".


Ver em grande

Nas próximas eleições voto: Gato Fedorento!

quarta-feira, abril 04, 2007

Fantasmas...

Hoje senti-me de novo criança, quando num momento de fraqueza (ou terá sido precisamente o contrário disso?), saltei para a cama onde o meu pai estava deitado e juntamente com a minha irmã lhe demos um abraço enquanto corriam lágrimas pelos olhos dos 3. Desta vez, o abraço e as lágrimas, não se deveram aos medos de fantasmas nem meus, nem da minha irmã, mas aos fantasmas que o meu pai vai criando por tudo para ele estar indefinido neste momento, e o que vai ganhando definição para lá do lençol branco dos fantasmas, ser ainda mais assustador que o próprio fantasma.
Por isso, soube-me muito bem aquele abraço e sentir-me de novo criança.
Soube-me bem dizer-lhe que o amo e ser retribuído, soube-me bem ainda ter tempo para lhe dizer isso, soube-me bem ele precisar de mim, soube-me bem estar aqui para o ajudar.
Amo-te e não existem fantasmas que nos metam medo! Somos fortes e também aqui a união faz a força!

domingo, abril 01, 2007


Dia 1 de Abril
Dia das mentiras...
Para uns há, que este dia se multiplica pelos outros dias do ano.
"Como é que gente que diz ser tão socialista, desiste de fazer o socialismo? Équerer fazer arroz de cabidela, sem frango, nem arroz, nem a panela. É por isso que eu vos digo, que a gente tem é que estar unida. Unida com as umas estão no cacho". Pois, "quando o pão que comes sabe a merda, o que faz falta?" "Até quando você vai ficando levando, porrada? Até quando vai ficar sem fazer nada? Até quando você vai levando porrada? Até quando vai ser saco de pancada?"
REVOLTA-TE!

Para este post "contei com a colaboração" de Sérgio Godinho, Zeca Afonso e Gabriel o Pensador