quarta-feira, outubro 31, 2007

Ponto Zero
Letra: Carlos Tê / Música: Hélder Gonçalves
in Cintura, Clã

Eu tento ler-te em cada frase
Tens um mistério
Que eu não desvendo
Embora às vezes esteja quase

O teu silêncio mais parece
Um ponto final
Volto atrás, tento entender
Mas não sou capaz

Eu quero entrar no teu enredo
Mas tenho medo
De não conseguir passar
Do prefácio

Talvez me possas
Dar uma luz
Tudo o que eu peço é um sinal
Eu não quero o acesso
A todos os teus segredos
Mas só a alguns

Dá-me um indício
Mesmo contrário
"Contraditório"
Dá-me a palavra
Que eu vou procurá-la
Ao dicionário

Eu quero entrar no teu enredo
Mas tenho medo
De não conseguir passar
Do prefácio

Dá-me uma chance
É tudo o que eu quero
É muito mau
Ler um romance
Sem sair do ponto zero

Talvez me possas
Dar uma luz
Tudo o que eu peço é um sinal
Eu não quero o acesso
A todos os teus segredos
Mas só a alguns

sábado, outubro 27, 2007

Sexto Andar

Letra: Carlos Tê / Música: Hélder Gonçalves
in Cintura, Clã










Uma canção passou no rádio
E quando o seu sentido
Se parecia apagar
Nos ponteiros do relógio
Encontrou num sexto andar
Alguém que julgou
Que era para si
Em particular
Que a canção estava a falar

E quando a canção morreu
Na frágil onda do ar
Ninguém soube o que ela deu
O que ninguém
estava lá para dar

Um sopro um calafrio
Raio de sol num refrão
Um nexo enchendo o vazio
Tudo isso veio
Numa simples canção

Uma canção passou no rádio
Habitou um sexto andar

segunda-feira, outubro 22, 2007

Amuo
Letra: Carlos Tê / Música: Hélder Gonçalves
in Cintura, Clã

Vejo que estás mais crescida
Já dobras a frustração
Bates com a porta ao mundo
Quando ele te diz não

Envolves o teu espaço
Na tua membrana ausente
Recuas atrás um passo
Para depois dar dois em frente

Amuar faz bem
Amuar faz bem

Ficas descalça em casa
A fazer a tua cura
Salva por um bom amuo
De fazer má figura

Amanhã o mundo inteiro
Vai perguntar onde foste
E tu dizes apenas
Que saíeste, viajaste

Amuar faz bem
Amuar faz bem

Nada como um bom amuo
Apenas um recuo quando nada sai bem

E depois voltar
Como se nada fosse
E reencontrar o lugar
Guardado por um bom amuo

terça-feira, outubro 16, 2007

Fábrica de Amores
Letra: Adolfo Luxúria Canibal / Música: Hélder Gonçalves
in Cintura, Clã

A garganta seca
Pelo fumo do acre
Sou Salomé no nó dos calores
Que faltal boneca
Revestida a lacre
Sou Salomé fábrica de amores
Passo com ar bombástico
Digo maviosamente
Levo o paraíso em mim!
Levo o paraíso!

Os olhares pousam
Sobre o meu corpete
No salivar glutão do desejo
Mas as mãos não ousam
Tão voraz joguete
Sou Salomé ébria de ensejo
Passo, passo com ar bombástico
E digo maviosamente
Tenho o paraíso em mim!
Tenho o paraíso em mim!
Levo o paraíso!
Levo o paraíso em mim!
Secreto jardim
A um passo de ti
Dourado e carmim
A um passo de ti
Tenho o paraíso em mim!
Tenho o paraíso em mim!
Levo o paraíso!
Tenho o paraíso em mim!
Levo o paraíso!
Levo o paraíso em mim!
Em mim...
A mim!
Tira a Teima
Letra: Carlos Tê / Música: Hélder Gonçalves
in Cintura, Clã



Se um dia me aproximar de ti
Não penses que é só um flirt
Não julgues que é um filme
Que já viste em qualquer parte

Pensa bem antes de agir
Evita ser imprudente
Faz a carta do meu signo
E vê à lupa o ascendente

Tem cuidado e tira a teima
Vê aquilo que sou
Tem cuidado e tira a teima

Tu não sonhas ao que venho
Não sabes do que sou capaz
Eu dou tudo quanto tenho
Não funciono a meio gás

Vem sentar-te à minha frente
E diz-me o que vês em mim
Não respondas já a quente
Pondera antes de dizer sim

Tem cuidado e tira a teima
Porque aquilo que sou
Fere, rasga e queima

Diz-me se vês o granito
Onde se gravam os grandes temas
Diz-me se vês o amor infinito
Ou somente um par de algemas

Tem cuidado e tira a teima
Porque aquilo que sou
Fere, rasga e queima

domingo, outubro 07, 2007

Adeus Amor
Letra: Carlos Tê Música: Hélder Gonçalves
in Cintura, Clã

Adeus amor que cresci
Já pouco me tens a dizer
Já bebi tudo de ti
Que de bom tinha a beber

Adeus amor, vou embora
Não me impeças por favor
Sabes que só vou agora
Porque dei tempo ao amor

Não suporto o teu modo
Carinhoso e paternal
No tom de quem sabe tudo
Sem saber o essencial

Adeus amor já me cansa
A canção do teu cinismo
Essa pose de quem dança
Sempre à beira do abismo

Adeus amor que cresci
Pouco me tens a dizer
Já bebi tudo de ti
E há mais mundo a beber

Não suporto o teu modo
Carinhoso e paternal
No tom de quem sabe tudo
Sem saber o essencial
Vamos esta noite
Letra:Arnaldo Antunes Música: Clã
in Cintura

Vamos
Para a montanha russa
Vamos
ao carrossel
Vamos
Subir o Pão de Açucar
Vamos juntos
Lamber o céu

Vamos
Dançar até cair, ir
Juntos vamos
Morrer de rir

Esta noite é só pra nós
Hoje não terá depois
Hoje não terá porquês
Esta noite é pra vocês
Virem comigo
Até ao fim
Para o fim do mundo

Vamos
Perder a hora certa
Vamos
Pisar no chão
Vamos
Deixar a porta aberta
Juntos vamos
Para Plutão

Hoje não terá amanhã
Hoje o mundo é nosso Clã
Hoje não terá talvez
Esta noite é pra vocês
Virem junto
Até ao fim do fim de tudo

quarta-feira, outubro 03, 2007

A Velhice
Samuel Beckett / João Lagarto / Jorge Palma in Voo Nocturno

A velhice é quando há um homem
agachado à lareira
com medo das bruxas
levar o bacio para a cama
e trazer o grog
ela vem nas cinzas
aquela que amou não pôde ser
vencida
ou vencida não pôde ser amada
ou qualquer outro pesadelo
vem nas cinzas
como nessa velha luz
a sua face nas cinzas
essa velha luz de estrelas
de novo na terra
Finalmente a Sós
Jorge Palma in Voo Nocturno

Antes de teres aberto o mar
antes de teres virado o rio
eu era alguém às costas de outro alguém

Trouxeste mais contradições
trouxeste mais opiniões
e agora eu sou mais outro Zé-Ninguém

Finalmente só
Finalmente a sós

Quando eu já estava a sossegar
quando já estava a adormecer
vi-te dançar e a minha paz morreu

Odeio a luz do teu olhar
quando não brilha só p'ra mim
pensei que fosses um brinquedo meu

Finalmente só
Finalmente a sós
Quarteto da corda
Jorge Palma in Voo Nocturno

justina e Baltazar encontraram-se à beira do rio
um estava sem calor e o outro mesmo cheio de frio
passou um cardume de lume que os engalfinhou
Justina e Baltazar encontraram-se à beira do rio

A Cleia e o Montolivo andavam por Avinhão
estavam ambos à espera do próximo avião
um ia para Alexandria, o outro não sabia
Cleia e Montolivo andavam por Avinhão

No Hemisfério do Sul, um mosquito deu à asa
e uma criança nasceu sem saber que não tem casa
um objecto voador bem identificado
leva cento e tal pessoas de volta ao lar,
há-de lá chegar, hum, há-de lá chegar!

Justina e Baltazar, a Cleia e o Montolivo
juntaram-se nas docas, beberam alguns digestivos
alguém tinha à disposição um belo apartemã
ninguém sabia com quem estava quando chegou a manhã
ninguém sabia quem era quando chegou a manhã...

segunda-feira, outubro 01, 2007

O Jogo de "Cintura" dos Clã

1 de Outubro de 2007! No dia mundial da música o mundo conhece o 5º álbum de originais daquela que considero ser a melhor banda do mundo, os Clã!
Manuela Azevedo, Pedro Biscaia, Miguel Ferreira, Fernando Gonçalves, Hélder Gonçalves, Pedro Rito, apresentam-nos Cintura!
Saiu hoje e já estou apaixonado por 2 canções. Uma delas já a conheci a 22 de Agosto no ensaio geral para um grupo de 50 previligiados, em que felizmente estive, e que é Sexto Andar (curiosamente o andar que habito), outra é Pra Continuar.
Nos Clã vejo competência! Não só musical, mas Competência para Amar. Amarem-se entre eles, amarem os seus fãs, amarem o mundo, amarem quem com eles faz também um novo disco, sendo correspondidos por isso como se vê em Vamos esta noite de Arnaldo Antunes (Hoje não terá amanhã / Hoje o mundo é o nosso Clã / Hoje não terá talvez / Esta noite é para vocês / Virem junto / Até ao fim do fim de tudo).
Outro aspecto que me agrada é partirem sempre do Ponto Zero, mas sempre Pra Continuar.
E mesmo quando o mundo nos parecer de tal maneira injusto, que nos apeteça um bom Amuo, há sempre um Sexto Andar onde (Uma canção passou no rádio / E quando o seu sentido / Se parecia apagar / nos ponteiros do relógio / encontrou num sexto andar / alguém que julgou / que era para si / em particular / que a canção estava a falar / E quando a canção morreu / na frágil onda do ar / ninguém soube que ela deu / o que ninguém / estava lá para dar / Um sopro, um calafrio / raio de sol num refrão / um nexo enchendo o vazio / tudo isso veio / numa simples canção).
Obrigado e parabéns, Clã!