sexta-feira, dezembro 13, 2013

Conta-me histórias

Valpaços, 15 de Dezembro de 1986

- Professor Mário, telefone para vocês, do Porto...
Sim, em 1986 não havia telemóveis, nem internet. Um casal de professores deslocados e com 2 filhos, comunicava-se com o resto da família graças à generosidade dos senhorios, que tinham um telefone no café que geriam debaixo da nossa casa.
- Quero ir, quero ir.
- Eu também quero falar! - gritávamos eu e a minha irmã Marta.
Descemos com o nosso pai.
- Estou?!
Ao poucos, eu e a minha irmã fomos-nos apercebendo de que algo não estava bem, pois o meu pai não reagia às nossas tentativas de pegar no telefone, nem para nos mandar estar quietos. Do outro lado da linha, a minha avó informava que o nosso avô tinha morrido.
De regresso a casa, e enquanto fazíamos as malas para vir para o Porto, o gira-discos (sim, não havia CD's naquela altura) tocou vezes sem fim o FIM (poema de Mário de Sá Carneiro, musicado por João Gil e parte da discografia do Trovante, no álbum Sepes) e "Os homens do largo" (letra de Vitorino que pegou numa música já publicada de António Pinho Vargas. A canção pertence ao disco Sul, de Vitorino). Na viagem para o Porto, o rádio, leitor de cassetes (sim, não se dizia K7 na altura) a pilhas, tocou as mesmas músicas a viagem toda (sim, não havia autorádios na altura).
No dia seguinte ao do falecimento do meu avô paterno, tinha um concerto em Valpaços, na escola, onde tocava ferrinhos. Não me estriei na altura. Só anos mais tarde, toquei uma música em orgão, já em Valongo. O bichinho pela música ainda existe, mas tirando um ano em Ermesinde em que estive a aprender orgão e que culminou com esse concerto em Valongo, não segui um sonho. No ano seguinte optei pela guitarra e a coisa não correu bem.
Assim, o dia seguinte ao falecimento do meu avô, foi passado em casa da minha tia Gé, no Porto, que faz anos nesse dia.

23 anos e 2 dias depois do falecimento do meu avô, nasce aquele (salvo erro), que ainda é o seu mais recente descendente: o meu sobrinho Ricardo.
Quando o Ricardo nasceu, já havia telemóveis... E assim, foi através de sms que eu, que me encontrava a dar aulas em Angra do Heroísmo, me senti como se estivesse no Porto, porque o meu cunhado enviava as mesmas mensagens a toda a gente, e ao receber "A Marta está bem. Não se preocupem que quando nascer, eu aviso", sentia-me com o resto da família. O simples facto de ele ter usado "se preocupem" em vez de "te preocupes", aproximou-me.
Sim, quando o Ricardo nasceu já havia telemóveis. E por isso, solicitei aos meus colegas para deixar o telemóvel ligado durante as reuniões de avaliação, para receber a notícia.
A notícia chegou, para mim às 20h15, para o resto da família às 21h15. Estávamos em fusos horários diferentes.
Sim, quando o Ricardo nasceu já havia internet e por isso a primeira vez que o vi foi numa foto enviada por email pela minha mãe, já no dia 19 de Dezembro. Assim, a primeira vez que vi o Ricardo já foi em Portugal Continental, mas não foi no Porto. Quando vi o email estava em viagem, tinha acabado de aterrar em Lisboa e aguardei no aeroporto umas horas, madrugada dentro para ter autocarro para o Porto. Eram 01h09 do dia 19 de Dezembro de 2009. A primeira coisa que disse foi: "Giro" e a primeira pergunta foi: "De que cor são os olhos?"
- De que cor são os teus olhos, Ricardo? Que histórias contarão?

Guilherme Rietsch Monteiro
Dezembro de 2013

Catálogo Mil e Um Biscoitos


Encomendas para: mileumbiscoitos@gmail.com

Facebook: Mil e um biscoitos

sexta-feira, outubro 04, 2013

INTERVENÇÃO DE JOSÉ MÁRIO BRANCO - I CONF. JOVENS DO BE

Lisboa – Faculdade de Letras – 11 de Novembro de 2000

Companheiras e companheiros

Quando me foi pedido para vir aqui hoje falar-vos, naturalmente aceitei. Não é a primeira vez, como sabem, que sou levado a exprimir-me publicamente como homem de esquerda e como artista desta terra.

O convite foi feito há algumas semanas, e de então para cá a perspectiva desta intervenção foi-me levando, contrariamente ao que é costume, para um progressivo estado de aflição misturado com cansaço. Está bem. Eu vou lá falar, mas para dizer o quê? Os dias foram passando, até hoje, sem conseguir encontrar uma resposta cabal a essa pergunta: dizer o quê?

Quem me conhece sabe que eu não consigo exprimir-me sem a despesa interior de ser verdadeiro, orgânico, e isso é igualmente verdade na música ou na política. Quando intervenho em público, só sei mostrar o estado em que me encontro, falar do que sinto, contar o que me acontece, na certeza quase inconsciente de que não quero, não posso, não sei ocupar este lugar no palco sem vos olhar nos olhos, sem vos abrir o coração, num misto de respeito e amor que é o tributo do homem ao privilégio de ser criador artístico.

Dizer o quê? Passou-me pela cabeça inventar uma razão para não vir, muito trabalho, uma gripe, demasiado cansaço. Mas eu estive no Bloco de Esquerda desde a primeira hora, e então iria agora arranjar desculpas para desaparecer da circulação?

Veio também a tentação da facilidade. Trazer a viola, dizer-vos – o que até é verdade – que o que possa ter a dizer-vos será muito melhor dito com canções, e cantar. Não faltam temas no meu reportório que se possam enquadrar nos diversos campos da luta. Mas isto seria a facilidade porque, aí, eu usaria a música como meio de fuga, como uma espécie de mentira piedosa para me enganar e vos enganar, e eu não sei ser músico e cantor dessa maneira: chegaria aqui com ar de vendido, debitava umas cantigas, vocês se calhar até gostavam e eu ia para casa muito mal disposto comigo próprio.

Então, “dizer”, mas dizer o quê? Porquê isto? Não terei realmente nada para dizer às pessoas, e especialmente aos mais jovens? Que se passa comigo? Que se passa na minha relação com os outros? Que se passa no mundo à minha volta para o meu discurso e o meu élan se encontrarem assim acorrentados, presos num nevoeiro denso e pegajoso, que só me oferece a tentação de me fechar, a vontade de deixar de aparecer, de me ir embora para África ajudar num campo de refugiados qualquer?

Esta longa introdução na primeira pessoa era necessária porque eu tenho de arranjar maneira de vos explicar que estou num estado muito esquisito. Quimicamente falando, o meu estado é uma emulsão de 33% de cansaço (género “estou farto de aturar esta sociedade de merda”), com 33% de revolta (com o espectáculo do mundo bárbaro que o capitalismo global nos impõe), e com 33% de optimismo. Sim, é verdade, 33% de optimismo.

E quando cheguei a esta parte da receita, fiquei tão surpreendido comigo como alguns de vocês terão ficado agora. Então tanta lamúria, tanta vontade de não falar e… 33% de optimismo? Era preciso perceber o porquê.

Qual foi o alimento, no dia-a-dia de todos os dias, para conservar, despertar, ou não deixar morrer esse optimismo?

Por causa de um livro que alguém anda a escrever sobre mim, tenho andado nestes tempos a fazer uma coisa de que não gosto nada, que é falar sobre o meu passado, como foi a infância, a juventude, o exílio, as lutas, o despertar para a música, o teatro, as cooperativas – enfim, eu que nunca guardei fotografias, troféus de prémios ou recortes de jornal tenho sido obrigado a levantar a poeira do sótão da memória, e, como para toda a gente, o meu sótão também tem os seus fantasmas, o seu caruncho, os seus cadáveres nos armários. Mas o certo é que, por força das entrevistas, revivi, re-senti o que se passava comigo há quarenta ou há trinta anos, quando não tínhamos qualquer hipótese de sermos felizes.

Mas porque tinha de ser assim, se as coisas eram tão claras e definidas? Ou aceitas ou te insurges, ou vais ou não vais. A resposta à pergunta “onde está o inimigo?” era tão evidente, a ideologia era uma coisa tão certa e segura que as discussões, as rupturas, os programas eram questões quase técnicas, misto de engenharia civil e de geometria descritiva. Andávamos cheios de certezas, mas andávamos tristes. As certezas ideológicas atiravam para fora de nós, para os outros, aquelas perguntas inevitáveis que só os poetas sabem fazer bem. Mas que raio andamos aqui a fazer? Projecto não nos faltava: deitar abaixo a grande parede, abrir as comportas, pôr as turbinas a funcionar.

Era tudo tão obrigatoriamente evidente, que as ideias eram quase como picaretas, cada ideia uma ferramenta com uso próprio e utilidade inquestionável.

Deitámos abaixo a grande parede. E outras grandes paredes. E o mundo mudou tanto!

O capitalismo mundial percebeu, há muitos anos, e muito antes de nós, que a sua única saída era usar os novos meios tecnológicos para reconstruir essas paredes, só que, agora, dentro das nossas cabeças.

Companheiros, eu não vos vou dar lições sobre o estado em que está o mundo. Cada um olha à sua volta, e vê o que for capaz, ou o que quiser ver.

Mas quando se me agita esta revolta, este asco, este cansaço de alma que me provoca o universo capitalista, e faço a pergunta que tão cedo tive de aprender a fazer (“onde está o inimigo?”), eu concluo que as armas mais terríveis que a escória capitalista foi apurando para escravizar a humanidade são três: a imponderabilidade, a impotência e a mediocridade.

A imponderabilidade (que não é o mesmo que imaterialidade) corresponde à abstractização de todo o processo de dominação. O poder não aparece exercido por pessoas, com nome e com cara, mas por conceitos, conceitos consensuais, inapeláveis, fundadores da normalidade e da legitimidade. A democracia, a sociedade de mercado, o fim das ideologias, a política como discurso (e não como acção). E muitos outros conceitos, todos igualmente apresentados com o carimbo da evidência e da naturalidade das coisas. A cada um desses conceitos corresponde a sua respectiva e grande mentira. Onde se diz democracia pratica-se a opressão, o roubo e o incitamento permanente à não-intervenção social. Onde se diz sociedade de mercado pratica-se o mercado da sociedade, as pessoas como simples mercadoria descartável. Onde se diz o fim das ideologias pratica-se a ideologia única, dominadora e dissimulada, a unicidade cultural, a unicidade informativa, a unicidade educacional, a unicidade gastronómica, a unicidade vestimentar, etc. A política é um discurso, não uma acção, um discurso não sancionável pelos eleitores porque o que se apresenta como discurso alternativo é outro discurso, idêntico no essencial ao primeiro, e igualmente separado da acção. E a própria margem consentida aos contra-discursos, de que é exemplo o Bloco de Esquerda, é uma margem diariamente calculada e analizada ao milímetro sempre que haja risco real de esse contra-discurso se concretizar em acção.

Neste aspecto, os meus 33% de optimismo resultam de verificar que nos últimos anos se tem vindo a gerar um movimento de fundo, com tendência para se espalhar pelo planeta, que, sem gastar mais tempo do que é preciso a produzir o contra-discurso, vai compreendendo que ele só pode ser produzido pela acção, pela intervenção aberta, visível e evidente, na hora certa e no local certo. E é evidente que a globalização capitalista, aos poucos, irá tendo a resposta global que lhe poderá fazer frente. O primado da acção sobre a ditadura dos conceitos terá de ter como efeito e resultado, não só o renascimento dos conceitos e da ideologia revolucionária, mas também o acordar de milhões de oprimidos para a luta, agora que cada vez mais a pergunta “onde está o inimigo?” encontra uma resposta concreta e adequada em cada pessoa.

A segunda arma do capitalismo global selvagem, a que me referi, é a impotência. Para os senhores do mundo, cujas caras nunca vemos, ou que nunca identificamos como tais, é fundamental que as pessoas, à medida que são espoliadas, desvitalizadas e atiradas para o cemitério, tenham sempre o sentimento de que, por si próprias, nada podem mudar, que não há maneira, não há alternativa. O domínio capitalista também tomou conta da semântica. A palavra “caos”, por exemplo, ou a palavra “segurança, são usadas para transmitir a ideia exactamente inversa do seu conteúdo. O caos será, assim, o horror da desordem e da destruição, quando na realidade só do caos pode nascer a vida e a criação, do mesmo modo que só da água a ferver nasce o vapor e a cozedura dos alimentos. A segurança é-nos imposta como o conceito paralizador da mudança, quando sabemos que é preciso mudar a sociedade precisamente porque ela é insegura para toda a gente, quer no emprego, quer na rua, quer na gestão dos conflitos, quer na sustentabilidade da produção de bens e do meio ambiente.

A principal maneira de nos desarmar, de nos remeter à impotência, que tem o sistema capitalista global, é desarmar (e virar contra nós) as nossas palavras, a nossa semântica, os significados e os significantes da nossa ferramenta de comunicação. Só a resistência diamantina dos grandes poetas, ou a genial inconformidade de um João César Monteiro, conseguem resistir, abrir brechas, preservar tesouros que todos os dias nos são roubados.

Finalmente, a mediocridade. O nivelamento por baixo, a bestialização, o atafulhamento do tempo vital com toneladas de tralha para onde se possa transpôr o grosso das nossas energias. No princípio dos anos setenta, em Paris, o sociólogo Jacinto Rodrigues fez um inquérito junto dos emigrantes portugueses, e contou-me o seguinte. Um emigrante português, de meia-idade, que trabalhava doze horas por dia na Citroen, tinha por morada uma pequena barraca no extremo do bidonville de Saint-Denis, onde vivia sozinho porque a família tinha ficado toda em Portugal. Acontece que essa barraca, para seu azar, ficava junto do local onde todos os bairros circundantes daquela cidade vinham despejar o lixo diário. Assim, todos os dias, sempre que regressava extenuado do trabalho, já noite fechada, aquele homem, antes de poder entrar em casa, tinha de largar o saco, pegar numa pá que se habituara a deixar no local conveniente e, à pàzada, afastar centenas de quilos ou toneladas de lixo para poder, simplesmente, entrar em casa, comer e descansar umas horas.

O sistema faz isso connosco, camaradas, e nós temos, com a ajuda e no contexto da esquerda, de arranjar as nossas pás para afastar tanto lixo do caminho do nosso descanso, da nossa libertação. A mediocridade, o telelixo, a desinformação, a censura óbvia que nos oprimem são em tal quantidade que milhões de pessoas não conseguem entrar em casa, ocupar o seu espaço, ser alguém. Temos que ver isso como um aspecto decisivo da nossa luta pela libertação. Temos que criar e reforçar redes alternativas de circulação de ideias e de informações. Temos de resistir, sendo que ainda não estamos em condições de contra-atacar. Não ter medo de chamar mediocridade à mediocridade, não ter medo de usar o poder que ainda nos resta do botão de desligar, não ter medo de cortar conversas parvas e inócuas à nossa volta, não ter medo de resistir à mediocridade.

Todos temos as nossas mediocridades, é evidente, mas somos nós que as temos, não vem ninguém metê-las no nosso prato de sopa. Desculpe, com essas lido eu, caro senhor, não tenho nada é que aturar as suas. Estou farto. Quero oxigénio. Deixem-me respirar, estou-me nas tintas para as audiências. Ou, como anteontem dizia o João César Monteiro: “Olhe, minha senhora, que se foda !”.
Agora reparo que falei de 33% de cansaço e 33% de revolta. Sobra portanto 1%, o que deixa, na realidade, 34% de optimismo.

Até sempre.

sexta-feira, fevereiro 15, 2013

Coisas



Leva qualquer eu a meu dia
Dá-me paz eu só quero estar bem
Foi só mais um quarto uma cama
No meu sonho era tudo o que eu queria

Quando alguém deixar de viver aqui
Espera que ao voltar seja para ti
Nada vai ser fácil
Nunca foi
Quando alguém deixar de te dar amor
Pensa que há quem viva do teu calor
Hoje é só um dia
E vai voltar amanhã
E não foi assim que o tempo nos fez
E fez assim com todos nós
E não foi assim que a razão nos amou
E fez assim com todos nós
São coisas
São só coisas

Se uma voz nos diz que é viver em vão
Pra que raio fiz eu esta canção
E se o fim é certo
Eu quero estar cá amanhã
E não foi assim que o tempo nos fez
E fez assim com todos nós
E não foi assim que a razão nos amou
E fez assim com todos nós
São coisas
São só coisas

Eu estou bem
Quase tão bem
Vê como é bom voltar a dizer
Eu estou bem
Quase tão bem
Vê como é bom voltar a dizer
Eu estou bem
Quase tão bem
Vê como é bom voltar a dizer
Eu estou quase a viver

quarta-feira, fevereiro 06, 2013

O fado não é mau



Ai tristeza!,
eu jurei
nunca mais cantar o fado.

Foi por amor
que o calei,
por amor ao meu namorado.

Que o fado é mau,
corrompe a alma com demónios,
manjericos, Santo Antónios
amores vagos e episódios
de faca e alguidar.
Ainda para mais é um negócio
de direita
que esta malta aproveita
para se vangloriar.

-"Fica aí no teu cantinho!"
- diz-me assim, com carinho,
meu amor, para não cantar.
-"Meu amor, mas o destino
não se roga." E fez ouvidos
moucos ao que eu fiz jurar.
-"Aqui me tens a confessar:
-foi apenas o destino
que é cruel e pequenino
e nos quis vir separar...

Ai tristeza!,
podem ir ver
quebrada aqui já a promessa.

E esta voz
canta a doer
sem fado nem amor. Que resta?

O fado não é mau,
não é um crime ou um defeito.
É um emaranhado de cordões
que nos entrelaça o peito
e precisa de ser solto.
Corre o risco de sufoco
quem prende o fado na voz
e anda ali com aqueles nós

a apertarem na garganta.
É mais rico quem o canta;
pobre, quem lhe dá prisões.
Tu e eu não somos dois...
Meu amor, tens de pensar
que isto é pegar ou largar,
são estas as condições:
tu e eu e as canções.
Um peito que canta o fado
tem sempre dois corações!

Seja agora



Nós havemos de nos ver os dois
ver no que isto dá
ficar um pouco mais a conversar
Ter a eternidade para nós
Quem sabe, jantar,
Se tu quiseres pode ser hoje

Tem de acontecer, porque tem de ser
e o que tem de ser tem muita força
E sei que vai ser, porque tem de ser
Se é pra acontecer, pois que seja agora

Nós havemos ambos de encontrar
um destino qualquer
ou um banquinho bom para sentar
Vai ser tão bonito descobrir
que no futuro só
quem decide é a vontade

Tem de acontecer, porque tem de ser
e o que tem de ser tem muita força
E sei que vai ser, porque tem de ser
Se é pra acontecer, pois que seja agora

Tem de acontecer, porque tem de ser
e o que tem de ser tem muita força
E sei que vai ser, porque tem de ser
Se é pra acontecer, pois que seja agora

Que seja agora
Que seja agora
Se é pra acontecer
Pois que seja agora

Que seja agora
Que seja agora
Se é pra acontecer
Pois que seja agora

Que seja agora
Que seja agora
Se é pra acontecer
Pois que seja agora

Que seja agora
Que seja a hora
Se é pra acontecer
Pois que seja agora!

quinta-feira, janeiro 24, 2013

Demagogia



E vens tu com um sorriso
Como se fosses um amigo
Mascarado no teu brilho
A tua alma não a sinto

Queres ter o dedo no gatilho
E matar o teu próprio filho
Roubar o teu povo rico
Tu queres viver sozinho

Queres levar a emoção
Manipular a sensação
Censurar a paixão é opressão

Não vai ser assim
Isso não serve pra mim
Eu hei-de resistir em pé na luta até cair

E vens tu com o teu discurso
Mais um esforço é preciso
Metes a mão no meu salário
Viras o mundo ao contrário

Crias pobreza pra teu proveito
Queres um povo enfraquecido
Distraído, preocupado
Alienado ao teu estado

Tudo o que temos vai pró teu bolso
Comes a carne, deixas o osso
Estás metido até ao pescoço
És o culpado

Não vai ser assim
Isso não serve pra mim
Eu hei-de resistir em pé na luta até cair

Fazes a demagogia
Eu faço a revolução

Devolve-me a nação

Queres levar a emoção
Devolve-me a nação
Queres levar a sensação
Devolve-me a nação
Mascarar a visão
Devolve-me a nação
Censurar a paixão
Devolve-me a nação

Tonto



Angra do Heroísmo, 22 de Junho de 2011

Charlatão



Para além das aventuras vocais nos Xutos & Pontapés, Kalú tinha-se já aventurado no projecto "Voz & Guitarra". Aqui, acompanhado por Nuno Rafael, a sua versão de "Charlatão", de autoria de Sérgio Godinho e José Mário Branco. A título de curiosidade informo que para cumprir os requisitos do projecto, apenas voz e guitarra, Kalú recorre ao uso de botões para fazer percussão.

Numa ruela de má fama
faz negócio um charlatão
vende perfumes de lama
anéis de ouro a um tostão
enriquece o charlatão

No beco mal afamado
as mulheres não têm marido
um está preso, outro é soldado
um está morto e outro f´rido
e outro em França anda perdido

É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavra
sete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra

Na ruela de má fama
o charlatão vive à larga
chegam-lhe toda a semana
em camionetas de carga
rezas doces, paga amarga

No beco dos mal-fadados
os catraios passam fome
têm os dentes enterrados
no pão que ninguém mais come
os catraios passam fome

É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavra
sete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra

Na travessa dos defuntos
charlatões e charlatonas
discutem dos seus assuntos
repartem-se em quatro zonas
instalados em poltronas

P´rá rua saem toupeiras
entra o frio nos buracos
dorme a gente nas soleiras
das casas feitas em cacos
em troca de alguns patacos

É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavra
sete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra

Entre a rua e o país
vai o passo de um anão
vai o rei que ninguém quis
vai o tiro dum canhão
e o trono é do charlatão

Entre a rua e o país
vai o passo de um anão
vai o rei que ninguém quis
vai o tiro dum canhão
e o trono é do charlatão

É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavra
sete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra

Comunicação



Já não sei

Que mais posso fazer

O que devo dizer pra entender


Já tentei

Esperar o amanhecer

Ver o sol nascer

Pra me conhecer


Baixo as armas, tiro o escudo e o mundo

Às vezes eu preferia ser surdo ou mudo

Os dois ou nenhum

Apenas ter o meu espaço

E o vento, e o meu traço, desembaraço


Que posso dar pra te chegar?

(já não sei, eu não sei)

O que hei-de falar pra te alcançar?

(já não sei, eu não sei)

Um dia eu vou encontrar

Nem que seja a cantar por ti

E nesse dia saberei como cheguei aqui

Depois do fim vem um início

Eu vou recomeçar


O espelho sorri pra mim

Vai ser hoje

Eu vou longe

Acredito que sim


Parece tão fácil

É um assunto frágil

Como a flor que dá vida ao jardim


Quero falar, não me sai a palavra

Eu quero expulsar a sensação amarga

Que mata e corrói!

Que agarra e que dói, só destrói

Gostava de ser um herói


Que posso dar pra te chegar?

(já não sei, eu não sei)

O que hei-de falar pra te alcançar?

(já não sei, eu não sei)

Um dia eu vou encontrar

Nem que seja a cantar por ti

E nesse dia saberei como cheguei aqui

Depois do fim vem um início

Eu vou recomeçar


Letra: Vasco Ferreira
Música: Kalú

Kalú: Voz, bateria percussão e coros
Nuno Lucas: baixo
Marco Nunes: Guitarras

quarta-feira, janeiro 23, 2013

Comércio Justo

A minha participação sobre Comércio Justo no programa Bypass do Rádio Clube Português, conduzido por Ana Sereno a 21 de Fevereiro de 2008.


sábado, janeiro 19, 2013

A lua partida ao meio



olha a lua partida ao meio
de tão baixinha que está
quase leva as copas das árvores
e o cabelo dos homens altos.

se eu fosse muito guloso
comia esta lua em forma de queijo.

olha a nuvem, a nuvem branca
quer tapar o nosso queijo
nuvem gorda e sem vergonha
invejosa da luz da lua.

tu já viu que esta noite não tem vento?

olha a lua partida ao meio
se eu pudesse sentava nela
e ficava espiando a terra
e me via olhando ela!

quinta-feira, janeiro 17, 2013

Passou por mim e sorriu



Ele passou por mim e sorriu,
e a chuva parou de cair,
o meu bairro feio tornou-se perfeito,
e o monte de entulho, um jardim.

O charco inquinado voltou a ser lago,
e o peixe ao contrário virou.
Do esgoto empestado saiu perfumado
um rio de nenúfares em flor.

Sou a mariposa bela e airosa,
que pinta o mundo de cor de rosa,
eu sou um delírio do amor.

Sei que a chuva é grossa, que entope a fossa,
que o amor é curto e deixa mossa,
mas quero voar, por favor!

No metro, enlatados, corpos apertados
suspiram ao ver-me entrar.
Sem pressas que há tempo,
dá gosto o momento,
e tudo mais pode esperar.

O puto do cão com seu acordeão,
põe toda a gente a dançar,
e baila o ladrão,
com o polícia p'la mão,
esvoaçam confetis no ar.

Sou a mariposa bela e airosa,
que pinta o mundo de cor de rosa,
eu sou um delírio do amor.

Sei que a chuva é grossa, que entope a fossa,
que o amor é curto e deixa mossa,
mas quero voar, por favor!

Há portas abertas e ruas cobertas
de enfeites de festas sem fim,
e por todo o lado, ouvido e dançado,
o fado é cantado a rir.

E aqueles que vejo, que abraço e que beijo,
falam já meio a sonhar,
se o mundo deu nisto e bastou um sorriso,
o que será se ele me falar.

Sou a mariposa bela e airosa,
que pinta o mundo de cor de rosa,
eu sou um delírio do amor.

Sei que a chuva é grossa, que entope a fossa,
que o amor é curto e deixa mossa,
mas quero voar, por favor!

Sou a mariposa bela e airosa,
que pinta o mundo de cor de rosa,
eu sou um delírio do amor.

Sei que a chuva é grossa, que entope a fossa,
que o amor é curto e deixa mossa,
mas quero voar, por favor!

sexta-feira, janeiro 11, 2013

Perto da paixão

Eu hoje acordei de todo
Estou que nem me posso ver
Sinto atear um fogo
Um ódio assim de morrer

Deixo a barba por cortar
E o cabelo em desalinho
Por favor não quero estar
Fechado em casa sozinho

Eu vou até onde os sonhos vão
Bem longe da razão
Eu vou até onde os sonhos vão
Bem perto da paixão

Dão-me ganas de partir
Fazer-me à estrada, eu sei lá
Mas não sei se quero ir
Ou se não quero é estar cá