quarta-feira, dezembro 08, 2010

Um dia não são dias não


"No fim do mês vou ser dispensado - a crise é a justificação
Então, em vez de proletário a fingir volto a ser o que sempre fui: um burguês falido
Volto a ser o meu próprio patrão, a magicar o dia inteiro mil maneiras de conseguir ter dinheiro sem cravar a mulher, a mãe e o irmão"


segunda-feira, dezembro 06, 2010

Cala-te e come (Expiação do derrotado)


Cala-te e come, tu não precisas de indagar a direcção.
Cala-te e come, tu não tens necessidade de reter tanta informação.
Cala-te e come, já não és novo, vê se prestas atenção.
Mas acalma-te e come que não tens ainda idade para morrer do coração.
Cala-te e come, passaste ao largo da tua revolução.
Cala-te e come, há muito que chegaste a essa conclusão - ou não.
Cala-te e come, e limpa-te ao guardanapo que é essa velha frustração.
Mas acalma-te e come, foste capaz de tomar a tua própria indecisão.
(Cala-te e come, come-te e cala, cala-te e come.)
Cala-te e come, senta-te, e entretanto liga a televisão.
Cala-te e come, corre os canais à procura de distracção.
Cala-te e come, que a angústia vem sempre que persegues acção.
Mas acalma-te e come, assim prostrado nem dás conta dessa estúpida aflição.
Cala-te e come: comer e calar é mais que uma obrigação.
Cala-te e come, esse menu é a derradeira refeição.
Cala-te e come, agradece, será que não te deram nenhuma educação?
Homem, acalma-te e come, não te canses, guarda para ti a tua inútil opinião.
(Cala-te e come, come-te e cala, cala-te e come.)
Cala-te e come, tu não precisas de indagar a direcção.
Cala-te e come, tu não tens necessidade de reter tanta informação.
Cala-te e come, tu não precisas de passar fome.
Cala-te e come, deita-te e dorme.


domingo, novembro 14, 2010

Jorge Palma - Esta Cidade

Jorge Palma - Quem És Tu, de Novo

Jorge Palma - Olá(Cá estamos Nós Outra Vez)

Jorge Palma + Clã - Convite (caixa de mensagens)

A noite passada

domingo no mundo

ser ou não ser

Humanos - Estou Além (ao vivo no Coliseu)

Nuno Prata - Mudemos de Assunto

Ornatos Violeta - Há-de encarnar

Ornatos Violeta - Marta

Ornatos Violeta - Dez lamúrias por gole

Foge Foge Bandido Hard Club Canção da canção triste

Foge Foge Bandido & Teresa Hard Club Canção Segredo

Foge Foge Bandido Hard Club Diz-me se aprovas

Foge Foge Bandido / Sempre a pensar

Foge Foge Bandido - Foi no teu Amor

Noções pra viver sem ti

Fim da Canção

Chuva - Ornatos Violeta

terça-feira, outubro 26, 2010

Dia Mau




Não quis guardá-lo para mim
E com a dimensão da dor
Legitimar o fim
Eu dei
Mas foi para mostrar
Não havendo amor de volta
Nada impede a fonte de secar
Mas tanto pior
E quem sou eu para te ensinar agora
A ver o lado claro de um dia mau

Eu sei
A tua vida foi
Marcada pela dor de não saber aonde dói
Mas vê bem
Não houve à luz do dia
Quem não tenha provado
O travo amargo da melancolia
E então rapaz então porquê a raiva
Se a culpa não é minha
Serão efeitos secundários da poesia

Mas para quê gastar o meu tempo
A ver se aperto a tua mão
Eu tenho andado a pensar em nós
Já que os teus pés não descolam do chão
Dizes que eu dou só por gostar
Pois vou dar-te a provar
O travo amargo da solidão

Tenho andado a pensar em nós
Já que os teus pés não descolam do chão
Dizes que eu dou só por gostar
Pois vou dar-te a provar
O travo amargo da solidão

É só mais um dia mau, mau, mau
É só mais um dia mau, mau, mau
É só mais um dia mau (3x)


sábado, outubro 23, 2010

Saúde e Fraternidade - Viva a República

in Sata Magazine

Quem viveu o período revolucionário em Portugal após o 25 de Abril, compreende bem o sentido desta mensagem enviada do Porto para Angra do Heroísmo: "Saúde e Fraternidade - Viva a República". Vivia-se ainda a euforia da queda da monarquia e as esperanças de uma vida melhor circulavam na mentes dos portugueses. A luta ideológica marcava então o quotidiano, com reformas profundas no sector do ensino ou na relação entre o Estado e a Igreja.

Passaram 100 anos e esses valores e ideias continuam presentes na sociedade portuguesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade, a trilogia da Revolução Francesa, que tem servido de estandarte a muitas revoluções contemporâneas, mantém-se como uma ambição da Humanidade em busca de um mundo mais justo e perfeito. (...)

quinta-feira, outubro 21, 2010

Figuras Tristes




Pára! Porque insistes
em ouvir quem não te quer falar?
Pára de fazer figuras tristes!
Pára!, deixa em paz quem nunca se vai ver no teu lugar.
Que mania tu tens de nos pôr todos a pensar
como se nos preocupássemos uns com os outros!

Eu sei, é difícil resistir se nos sentimos sós,
mas sozinhos entendemos bem o que buscar.
No meio de tanta confusão
é natural tentar forçar quem não nos percebe
a gostar de nós
e a dizer-nos que o esforço vale a pena.

Eu cá vou bem, não me dói demasiado.
Só dava o que tenho pra ver alguém do meu lado.

O que ontem foi
hoje tu já não consegues mudar.
Porque continuas a tentar?
Dá-te gozo imaginar aquilo que seria teu
se tivesses feito o que não fizeste,
e o que serias se não fosses o que realmente és?

Eu cá vou bem, não me dói demasiado.
Só dava o que tenho pra ver alguém do meu lado.

sexta-feira, outubro 08, 2010

Nuno Prata com novo disco a 25 de Outubro


Deve Haver , o segundo disco a solo de Nuno Prata, chega às lojas a 25 de outubro.

Produzido por Hélder Gonçalves, músico dos Clã e Humanos, além de produtor dos Virgem Suta, Deve Haver tem em "Essa Dor Não Existe (Tu Isso Sabes, Não Sabes?)" o primeiro single.

B Fachada, que atuou ao vivo com Nuno Prata na Livraria Trama, em Lisboa, e a vocalista dos Clã, Manuela Azevedo, participam no coro da música "Mais um Belo Dia".

De título inspirado num antigo "livro de caixa" trazido de casa do avô do músico, Deve Haver inclui ainda uma versão, em português, de "Used To Be", de Gordon Gano, chamada "Isso Foi Antes". Os Violent Femmes de Gano eram a banda favorita dos Ornatos Violeta, onde Nuno Prata tocava baixo.

Nuno Prata, Nico Tricot e Hélder Gonçalves tocam todos os instrumentos no álbum, que sucede a Todos os Dias Fossem Estes/Outros .

Fonte: Blitz

O que há num Sócrates

Ricardo Araújo Pereira
in Visão



O que começa por ser curioso na comparação entre o Sócrates grego e o Sócrates português é o facto de as próprias diferenças os aproximarem. Repare: o Sócrates grego nunca disse ser sábio. Ao Sócrates português, até lhe atestaram a sabedoria ao domingo


"O que há num nome?", perguntou Shakespeare pela boca de Julieta - prática que, a propósito, parece ser extremamente anti-higiénica. Uma rosa, dizia a rapariga que, certamente por perfeccionismo, primeiro fingiu matar-se e só depois se matou mesmo, teria igual beleza e o mesmo cheiro caso tivesse outro nome. É verdade. Se a rosa se chamasse, digamos, bidé, seria igualmente bela, por muito que pudesse ser um pouco embaraçoso oferecer a alguém um lindo ramo de bidés. Mas o Bardo refletiu apenas acerca do objeto que, mudando de nome, mantém as características. Por esquecimento ou preguiça, não se debruçou sobre os objetos que, tendo características diferentes, partilham o mesmo nome. Por exemplo, o que há num Sócrates? Será possível que dois Sócrates diferentes encontrem, no entanto, o mesmo destino? Não deixa de ser inquietante que Julieta não tenha colocado esta questão a Romeu, tendo preferido entreter-se com considerações sobre rosas. Mais sobra para nós, amigo leitor, meditarmos.

O que começa por ser curioso na comparação entre o Sócrates grego e o Sócrates português é o facto de as próprias diferenças os aproximarem. Repare: o Sócrates grego nunca disse ser sábio. Ao Sócrates português, até lhe atestaram a sabedoria ao domingo - facto que leva muitos a desconfiarem de que, na verdade, ele não é sábio. Cá está: ainda que percorram caminhos diversos, confluem num destino comum.

O Sócrates grego era abordado pelas pessoas, na rua, que ficavam a interrogá-lo durante horas. Ao Sócrates português, nem os magistrados do Ministério Público conseguem interrogar durante cinco minutos que seja. Os gregos queriam fazer a Sócrates perguntas tais como: "O que é a virtude?" Os portugueses querem perguntar a Sócrates se ele foi virtuoso, o que, sendo um pouco mais específico, acaba por ser mais ou menos a mesma coisa. Mas o facto de uns conseguirem fazer perguntas e outros não constitui uma diferença importante. No entanto, os gregos anónimos e os magistrados portugueses ficaram igualmente mais perto da verdade: os primeiros porque o Sócrates grego lhes respondia às perguntas com outras perguntas; os segundos porque, uma vez que não perguntaram nada, também não obtiveram resposta nenhuma - o que não deixa de ser justo.

O Sócrates grego - e esta será, talvez, a diferença principal - acabou por ser julgado. Inventaram um pretexto para o julgar e conseguiram levá-lo a julgamento. O Sócrates português nunca entrou num tribunal. E não tem faltado imaginação para inventar pretextos. Mas uma coisa parece certa: ambos os casos terminarão em morte. O Sócrates grego morreu depois de condenado a beber cicuta, e nós morreremos todos antes de conhecer o fim destes processos judiciais.

sexta-feira, outubro 01, 2010

EL GUINCHO | Bombay

EL GUINCHO | Bombay from MGdM | Marc Gómez del Moral on Vimeo.

Ninguém é quem queria ser

Letra: Manuel Cruz
in: Lado A - O Amor Dá-me Tesão / Foge Foge Bandido

somos a fachada
de uma coisa morta
e a vida como que a bater à nossa porta
quando formos velhos
se um dia formos velhos
quem irá querer saber quem tinha razão
de olhos na falésia
espera pelo vento
ele dá-te a direcção

ninguém é quem queria ser
eu queria ser ninguém

a idade é oca e não podia ser motivo
estás a ver o mundo feito um velho arquivo
eu caminho e canto pela estrada fora
e o que era mentira pode ser verdade agora
se o cifrão sustenta a química da vida
porque tens ainda medo de morrer
faltará dinheiro
faltará cultura
faltará procura dentro do teu ser

diz-me se ainda esperas encontrar o sentido
mesmo sendo avesso a vê-lo em ti vestido
não tens de olhar sem gosto
nem de gostar sem ver
ninguém é quem queria ser

domingo, junho 27, 2010

Say Something - James




You're as tight as a hunter's trap
Hidden well, what are you concealing
Poker face, carved in stone
Amongst friends, but all alone
Why do you hide

Say something, say something, anything
I've shown you everything
Give me a sign
Say something, say something, anything
Your silence is deafening
Pay me in kind

Take a drug to set you free
Strange fruit from a forbidden tree
You've got to come down soon
More than a drug is what I need
Need a change of scenery
Need a new life

Say something, say something anything
I've shown you everything
Give me a sign
Say something, say something, anything
Your silence is deafening
Pay me in kind

Say something

I'm open wide, open wondering
Have you swallowed everything
Pay me in kind

James - Say something (Sanjoaninas 2010)

James - Come home (Sanjoaninas 2010)

James - Laid (Sanjoaninas 2010).wmv

sexta-feira, junho 25, 2010

Nuno Prata - Alegremente Cantando E Rindo Vamos

Nuno Prata - Hoje Quem?

JÁFUMEGA - Nó Cego (1982)

Jafumega - La Dolce Vita

Jáfumega - Liquidamos a existência

Johnny's Gang com Luis Portugal - Ribeira

Os Dias que Fogem das Maos do Tempo

Sérgio Godinho - Hoje é o primeiro dia

EDJ - Paciencia

quinta-feira, junho 24, 2010

Akunamatata - Socorro

Xaile - Ai Linda Ai Linda

Xaile - A Minha Circunstância

Orange Blue - Solta-se o Beijo

Óqtrup - LatinAmerica

Frágil

Óqtrup - Por Quem não Esqueci

ÓQTRUP - Conto a Gotas

Luís Portugal - Acústico

Luis Portugal - Trás-os-Montes

Luis Portugal - Uma Semente

S. João

Nas rusgas de Miragaia
Vinham bruxas disfarçadas
Traziam erva cidreira
E cantavam orvalhadas

Parti dos bailes da Sé
E acabei nas Fontaínhas
Mergulhado em vinho tinto
Com pimentos e sardinhas

Percorri toda a cidade
De Ramalde a Campanhã
Cheguei a casa tão tarde
Era quase de manhã

Fiz depois o meu pedido
Entre cravos e loureiros
Para que um dia fosses minha
E não perdesse o Salgueiros

Minha sorte há-de vir
Num vaso de manjerico
Ainda não perdi a esperança
Ai de um dia ficar rico

Se a nossa vida não muda
E nos vai faltando o pão
Vamos pedindo uma ajuda
Ao brejeiro S. João

São João brejeiro
Meu santinho milagreiro

terça-feira, junho 22, 2010

Nirvana - Lithium

Utopia

Letra e Música: Luís Represas
in: Um deste dias
para Zeca Afonso

Parti já tão longe de pensar se vivemos num lado ou noutro
Parti com a esperança no olhar que lançaste como quem já tem porto
Onde encostar o barco
Onde beijar a praia que sonhaste

Parti numa altura em que as ideias me faziam confusão
Parti quando as ideias se confundem com o poder do coração

Cidades sem muros nem ameias
Cantei de todas as maneiras
Mas não senti se a Utopia existe
Ou se foi mania minha

Mas o sol já vai alto
E a lua já foi dormir
E assim
Conta-me tu o fim

Pensa bem
Se a Utopia não vivesse
Dentro da alma
Não sentia
A vontade
De viver tempos tão reais
que nos pareciam anormais
E doi vivê-los sem ti

Já vi gente igual por dentro e fora
Já vi gente de cores diferentes
Sentir que é igual por dentro e fora
Sem deixar de ser diferente

Cidades sem muros nem ameias
Cantei de todas as maneiras
Mas não senti se a Utopia existe
Ou se foi mania minha

Mas o sol já vai alto
E a lua já foi dormir
E assim
Conta-me tu o fim

Pensa bem
Se a Utopia não vivesse
Dentro da alma
Não sentia
A vontade
De viver tempos tão reais
que nos pareciam anormais
E doi vivê-los sem ti

Nirvana - All Apologies

Nirvana - About A Girl

nirvana - come as you are - unplugged 93

(HQ) Mariza canta Nirvana no Rock in Rio 2010 Lisboa !!! 21/05/10




Nirvana
Kurt Cobain


Come as you are, as you were,
As I want you to be, as a friend,
As a friend, as an old enemy

Take your time, hurry up
Choice is yours, don't be late
Take a rest, as a friend

As an old memory, memory,
Memory, memory

Come dowsed in mud,
Soaked in bleach,
As I want you to be

As a trend, as a friend,
As an old memory, memory,
Memory, memory,

And I swear that I don't have a gun
No I don't have a gun, no I don't have a gun

Memory, memory, memory (don't have a gun)

And I swear that I don't have a gun
No I don't have a gun, no I don't have a gun
No I don't have a gun, no I don't have a gun

Memory, memory

sexta-feira, junho 18, 2010

Saramago - Este mundo da injustiça globalizada

Até sempre!
18 de Junho de 2010


Texto lido na cerimônia de encerramento do Fórum Social Mundial 2002
Começarei por vos contar em brevíssimas palavras um facto notável da vida camponesa ocorrido numa aldeia dos arredores de Florença há mais de quatrocentos anos. Permito-me pedir toda a vossa atenção para este importante acontecimento histórico porque, ao contrário do que é corrente, a lição moral extraível do episódio não terá de esperar o fim do relato, saltar-vos-á ao rosto não tarda.
Estavam os habitantes nas suas casas ou a trabalhar nos cultivos, entregue cada um aos seus afazeres e cuidados, quando de súbito se ouviu soar o sino da igreja. Naqueles piedosos tempos (estamos a falar de algo sucedido no século XVI) os sinos tocavam várias vezes ao longo do dia, e por esse lado não deveria haver motivo de estranheza, porém aquele sino dobrava melancolicamente a finados, e isso, sim, era surpreendente, uma vez que não constava que alguém da aldeia se encontrasse em vias de passamento. Saíram portanto as mulheres à rua, juntaram-se as crianças, deixaram os homens as lavouras e os mesteres, e em pouco tempo estavam todos reunidos no adro da igreja, à espera de que lhes dissessem a quem deveriam chorar. O sino ainda tocou por alguns minutos mais, finalmente calou-se. Instantes depois a porta abria-se e um camponês aparecia no limiar. Ora, não sendo este o homem encarregado de tocar habitualmente o sino, compreende-se que os vizinhos lhe tenham perguntado onde se encontrava o sineiro e quem era o morto. "O sineiro não está aqui, eu é que toquei o sino", foi a resposta do camponês. "Mas então não morreu ninguém?", tornaram os vizinhos, e o camponês respondeu: "Ninguém que tivesse nome e figura de gente, toquei a finados pela Justiça porque a Justiça está morta."
Que acontecera? Acontecera que o ganancioso senhor do lugar (algum conde ou marquês sem escrúpulos) andava desde há tempos a mudar de sítio os marcos das estremas das suas terras, metendo-os para dentro da pequena parcela do camponês, mais e mais reduzida a cada avançada. O lesado tinha começado por protestar e reclamar, depois implorou compaixão, e finalmente resolveu queixar-se às autoridades e acolher-se à protecção da justiça. Tudo sem resultado, a expoliação continuou. Então,
desesperado, decidiu anunciar urbi et orbi (uma aldeia tem o exacto tamanho do mundo para quem sempre nela viveu) a morte da Justiça. Talvez pensasse que o seu gesto de exaltada indignação lograria comover e pôr a tocar todos os sinos do universo, sem diferença de raças, credos e costumes, que todos eles, sem excepção, o acompanhariam no dobre a finados pela morte da Justiça, e não se calariam até que ela fosse ressuscitada. Um clamor tal, voando de casa em casa, de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, saltando por cima das fronteiras, lançando pontes sonoras sobre os rios e os mares, por força haveria de acordar o mundo adormecido... Não sei o que sucedeu depois, não sei se o braço popular foi ajudar o camponês a repor as estremas nos seus sítios, ou se os vizinhos, uma vez que a Justiça havia sido declarada defunta, regressaram resignados, de cabeça baixa e alma sucumbida, à triste vida de todos os dias. É bem certo que a História nunca nos conta tudo...
Suponho ter sido esta a única vez que, em qualquer parte do mundo, um sino, uma campânula de bronze inerte, depois de tanto haver dobrado pela morte de seres humanos, chorou a morte da Justiça. Nunca mais tornou a ouvir-se aquele fúnebre dobre da aldeia de Florença, mas a Justiça continuou e continua a morrer todos os dias. Agora mesmo, neste instante em que vos falo, longe ou aqui ao lado, à porta da nossa casa, alguém a está matando. De cada vez que morre, é como se afinal nunca tivesse existido para aqueles que nela tinham confiado, para aqueles que dela esperavam o que da Justiça todos temos o direito de esperar: justiça, simplesmente justiça. Não a que se envolve em túnicas de teatro e nos confunde com flores de vã retórica judicialista, não a que permitiu que lhe vendassem os olhos e viciassem os pesos da balança, não a da espada que sempre corta mais para um lado que para o outro, mas uma justiça pedestre, uma justiça companheira quotidiana dos homens, uma justiça para quem o justo seria o mais exacto e rigoroso sinónimo do ético, uma justiça que chegasse a ser tão indispensável à felicidade do espírito como indispensável à vida é o alimento do corpo. Uma justiça exercida pelos tribunais, sem dúvida, sempre que a isso os determinasse a lei, mas também, e sobretudo, uma justiça que fosse a emanação espontânea da própria sociedade em acção, uma justiça em que se manifestasse, como um iniludível imperativo moral, o respeito pelo direito a ser que a cada ser humano assiste.
Mas os sinos, felizmente, não tocavam apenas para planger aqueles que morriam. Tocavam também para assinalar as horas do dia e da noite, para chamar à festa ou à devoção dos crentes, e houve um tempo, não tão distante assim, em que o seu toque a rebate era o que convocava o povo para acudir às catástrofes, às cheias e aos incêndios, aos desastres, a qualquer perigo que ameaçasse a comunidade. Hoje, o papel social dos sinos encontra-se limitado ao cumprimento das obrigações rituais e o gesto iluminado do camponês de Florença seria visto como obra desatinada de um louco ou, pior ainda, como simples caso de polícia. Outros e diferentes são os sinos que hoje defendem e afirmam a possibilidade, enfim, da implantação no mundo daquela justiça companheira dos homens, daquela justiça que é condição da felicidade do espírito e até, por mais surpreendente que possa parecer-nos, condição do próprio alimento do corpo. Houvesse essa justiça, e nem um só ser humano mais morreria de fome ou de tantas doenças que são curáveis para uns, mas não para outros. Houvesse essa justiça, e a existência não seria, para mais de metade da humanidade, a condenação terrível que objectivamente tem sido. Esses sinos novos cuja voz se vem espalhando, cada vez mais forte, por todo o mundo são os múltiplos movimentos de resistência e acção social que pugnam pelo estabelecimento de uma nova justiça distributiva e comutativa que todos os seres humanos possam chegar a reconhecer como intrinsecamente sua, uma justiça protectora da liberdade e do direito, não de nenhuma das suas negações. Tenho dito que para essa justiça
dispomos já de um código de aplicação prática ao alcance de qualquer compreensão, e que esse código se encontra consignado desde há cinquenta anos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, aquelas trinta direitos básicos e essenciais de que hoje só vagamente se fala, quando não sistematicamente se silencia, mais desprezados e conspurcados nestes dias do que o foram, há quatrocentos anos, a propriedade e a liberdade do camponês de Florença. E também tenho dito que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, tal qual se encontra redigida, e sem necessidade de lhe alterar sequer uma vírgula, poderia substituir com vantagem, no que respeita a rectidão de princípios e clareza de objectivos, os programas de todos os partidos políticos do orbe, nomeadamente os da denominada esquerda, anquilosados em fórmulas caducas, alheios ou impotentes para enfrentar as realidades brutais do mundo actual, fechando os olhos às já evidentes e temíveis ameaças que o futuro está a preparar contra aquela dignidade racional e sensível que imaginávamos ser a suprema aspiração dos seres humanos. Acrescentarei que as mesmas razões que me levam a referir-me nestes termos aos partidos políticos em geral, as aplico por igual aos sindicatos locais, e, em consequência, ao movimento sindical internacional no seu conjunto. De um modo consciente ou inconsciente, o dócil e burocratizado sindicalismo que hoje nos resta é, em grande parte, responsável pelo adormecimento social decorrente do processo de globalização económica em curso. Não me alegra dizê-lo, mas não poderia calá-lo. E, ainda, se me autorizam a acrescentar algo da minha lavra particular às fábulas de La Fontaine, então direi que, se não interviermos a tempo, isto é, já, o rato dos direitos humanos acabará por ser implacavelmente devorado pelo gato da globalização económica.
E a democracia, esse milenário invento de uns atenienses ingénuos para quem ela significaria, nas circunstâncias sociais e políticas específicas do tempo, e segundo a expressão consagrada, um governo do povo, pelo povo e para o povo? Ouço muitas vezes argumentar a pessoas sinceras, de boa fé comprovada, e a outras que essa aparência de benignidade têm interesse em simular, que, sendo embora uma evidência indesmentível o estado de catástrofe em que se encontra a maior parte do planeta, será precisamente no quadro de um sistema democrático geral que mais probabilidades teremos de chegar à consecução plena ou ao menos satisfatória dos direitos humanos. Nada mais certo, sob condição de que fosse efectivamente democrático o sistema de governo e de gestão da sociedade a que actualmente vimos chamando democracia. E não o é. É verdade que podemos votar, é verdade que podemos, por delegação da partícula de soberania que se nos reconhece como cidadãos eleitores e normalmente por via partidária, escolher os nossos representantes no parlamento, é verdade, enfim, que da relevância numérica de tais representações e das combinações políticas que a necessidade de uma maioria vier a impor sempre resultará um governo. Tudo isto é verdade, mas é igualmente verdade que a possibilidade de acção democrática começa e acaba aí. O eleitor poderá tirar do poder um governo que não lhe agrade e pôr outro no seu lugar, mas o seu voto não teve, não tem, nem nunca terá qualquer efeito visível sobre a única e real força que governa o mundo, e portanto o seu país e a sua pessoa: refiro-me, obviamente, ao poder económico, em particular à parte dele, sempre em aumento, gerida pelas empresas multinacionais de acordo com estratégias de domínio que nada têm que ver com aquele bem comum a que, por definição, a democracia aspira. Todos sabemos que é assim, e contudo, por uma espécie de automatismo verbal e mental que não nos deixa ver a nudez crua dos factos, continuamos a falar de democracia como se se tratasse de algo vivo e actuante, quando dela pouco mais nos resta que um conjunto de formas ritualizadas, os inócuos passes e os gestos de uma espécie de missa laica. E não nos apercebemos, como se para isso não bastasse ter olhos, de que os nossos governos, esses que para o bem ou para o mal
elegemos e de que somos portanto os primeiros responsáveis, se vão tornando cada vez mais em meros "comissários políticos" do poder económico, com a objectiva missão de produzirem as leis que a esse poder convierem, para depois, envolvidas no açúcares da publicidade oficial e particular interessada, serem introduzidas no mercado social sem suscitar demasiados protestos, salvo os certas conhecidas minorias eternamente descontentes...
Que fazer? Da literatura à ecologia, da fuga das galáxias ao efeito de estufa, do tratamento do lixo às congestões do tráfego, tudo se discute neste nosso mundo. Mas o sistema democrático, como se de um dado definitivamente adquirido se tratasse, intocável por natureza até à consumação dos séculos, esse não se discute. Ora, se não estou em erro, se não sou incapaz de somar dois e dois, então, entre tantas outras discussões necessárias ou indispensáveis, é urgente, antes que se nos torne demasiado tarde, promover um debate mundial sobre a democracia e as causas da sua decadência, sobre a intervenção dos cidadãos na vida política e social, sobre as relações entre os Estados e o poder económico e financeiro mundial, sobre aquilo que afirma e aquilo que nega a democracia, sobre o direito à felicidade e a uma existência digna, sobre as misérias e as esperanças da humanidade, ou, falando com menos retórica, dos simples seres humanos que a compõem, um por um e todos juntos. Não há pior engano do que o daquele que a si mesmo se engana. E assim é que estamos vivendo.
Não tenho mais que dizer. Ou sim, apenas uma palavra para pedir um instante de silêncio. O camponês de Florença acaba de subir uma vez mais à torre da igreja, o sino vai tocar. Ouçamo-lo, por favor.

18/03/2002

domingo, maio 30, 2010

A vida é feita de pequenos nadas

(Segunda-feira
trabalhei de olhos fechados
na terça-feira
acordei impaciente
na quarta-feira
vi os meus braços revoltados
na quinta-feira
lutei com a minha gente
na sexta-feira
soube que ia continuar
no sábado
fui à feira do lugar
mais uma corrida, mais uma viagem
fim-de-semana é para ganhar coragem)

Muito boa noite, senhoras e senhores
muito boa noite, meninos e meninas
muito boa noite, Manuéis e Joaquinas
enfim, boa noite, gente de todas as cores
e feitios e medidas
e perdoem-me as pessoas
que ficaram esquecidas
boa noite, amigos, companheiros, camaradas
a vida é feita de pequenos nadas
a vida é feita de pequenos nadas

Somos tantos a não ter quase nada
porque há uns poucos que têm quase tudo
mas nada vale protestar
o melhor ainda é ser mudo
isto diz de um gabinete
quem acha que o casse-tête
é a melhor das soluções
para resolver situações
delicadas
a vida é feita de pequenos nadas

E o que é certo
é que os que têm quase tudo
devem tudo aos que têm muito pouco
mas fechem bem esses ouvidos
que o melhor ainda é ser mouco
isto diz paternalmente
quem acha que é ponto assente
que isto nunca vai mudar
e que o melhor é começar a apanhar
umas chapadas
a vida é feita de pequenos nadas

(Segunda-feira
trabalhei de olhos fechados
na terça-feira
acordei impaciente
na quarta-feira
vi os meus braços revoltados
na quinta-feira
lutei com a minha gente
na sexta-feira
soube que ia continuar
no sábado
fui à feira do lugar
mais uma corrida, mais uma viagem
fim-de-semana é para ganhar coragem)

Muito boa noite, senhoras e senhores
muito boa noite, meninos e meninas
muito boa noite, Manuéis e Joaquinas
enfim, boa noite, gente de todas as cores
e feitios e medidas
e perdoem-me as pessoas
que ficaram esquecidas
boa noite, amigos, companheiros, camaradas
a vida é feita de pequenos nadas
a vida é feita de pequenos nadas

Ouvi dizer que quase tudo vale pouco
quem o diz não vale mesmo nada
porque não julguem que a gente
vai ficar aqui especada
à espera que a solução
seja servida em boião
com um rótulo: Veneno!
é para tomar desde pequeno
às colheradas
a vida é feita de pequenos nadas
boa noite, amigos, companheiros, camaradas
a vida é feita de pequenos nadas.

Tás a ver

Estás a ver o que eu estou a ver?
Estás a ver estás a perceber?
Estás a ouvir o que eu estou a dizer?
Estás a ouvir estás a perceber?

Eu tenho visto tanta coisa nesse meu caminho
Nessa nossa trilha que eu não ando sozinho
Tenho visto tanta coisa tanta cena
Mais impactante do que qualquer filme de cinema
E se milhares de filmes não traduzem nem reproduzem
A amplitude do que eu tenho visto

Não vou mentir pra mim mesmo acreditando
Que uma música é capaz de expressar tudo isso
Não vou mentir pra mim mesmo acreditando
Mas eu preciso acreditar na comunicação
Mas eu preciso acreditar na...
Não há melhor antídoto pra solidão
E é por isso que eu não fico satisfeito
Em sentir o que eu sinto
Se o que eu sinto fica só no meu peito
Por mas que eu seja egoísta
Aprendi a dividir as emoções e os seus efeitos
Sei que o mundo é um novelo uma só corrente
Posso vê-lo por seus belos elos transparentes
Mudam cores e valores mas tá tudo junto
Por mas que eu saiba eu ainda pergunto

Tás a ver a vida como ela é?
Tás a ver a vida como tem que ser?
Tás a ver a vida como agente quer?
Tás a ver a vida pra gente viver?

Nossa vida é feita
De pequenos nadas

Tás a ver a linha do horizonte?
A levitar, a evitar que o céu se desmonte
Foi seguindo essa linha que notei que o mar
Na verdade é uma ponte
Atravessei e fui a outros litorais
E no começo eu reparei nas diferenças
Mas com o tempo eu percebi
E cada vez percebo mais
Como as vidas são iguais
Muito mais do que se pensa
Mudam as caras
Mas todas podem ter as mesmas expressões
Mudam as línguas mas todas têm
Suas palavras carinhosas e os seus calões
As orações e os deuses também variam
Mas o alívio que eles trazem vem do mesmo lugar
Mudam os olhos e tudo que eles olham
Mas quando molham todos olham com o mesmo olhar
Seja onde for uma lágrima de dor
Tem apenas um sabor e uma única aparência
A palavra saudade só existe em português
Mas nunca faltam nomes se o assunto é ausência
A solidão apavora mas a nova amizade encoraja
E é por isso que agente viaja
Procurando um reencontro uma descoberta
Que compense a nossa mas recente despedida
Nosso peito muitas às vezes aperta
Nossa rota é incerta
Mas o que não incerto na vida?

Tás a ver a vida como ela é?
Tás a ver a vida como tem que ser?
Tás a ver a vida como agente quer?
Tás a ver a vida pra gente viver?

Nossa vida é feita
De pequenos nadas

A vida é feita de pequenos nadas
Que agente saboreia, mas não dá valor
Um pensamento, uma palavra, uma risada
Uma noite enluarada ou um sol a se pôr
Um bom dia, um boa tarde, um por favor
Simpatia é quase amor
Uma luz acendendo, uma barriga crescendo
Uma criança nascendo, obrigado senhor
Seja lá quem for o senhor
Seja lá quem for a senhora
A quem quiser me ouvir e a mim mesmo
Preciso dizer tudo que eu estou dizendo agora
Preciso acreditar na comunicação
Não há melhor antídoto pra solidão
E é por isso que eu não fico satisfeito em sentir o que eu sinto
Se o que sinto fica só no meu peito
Por mais que eu seja egoísta
Aprendi a dividi minhas derrotas e minhas conquistas
Nada disso me pertence
É tudo temporário no tapete voador do calendário
Já que temos forças pra somar e dividir
Enquanto estivermos aqui
Se me ouvires cantando, canta comigo
Se me vires chorando, sorri

Tás a ver a vida como ela é?
Tás a ver a vida como tem que ser?
Tás a ver a vida como agente quer?
Tás a ver a vida pra gente viver?

Nossa vida é feita
De pequenos nadas

Adriana Calcanhotto & Gabriel O Pensador - Tás a Ver (Clip)

sábado, maio 29, 2010

Vozes da Rádio - Samba do Acordo Ortográfico

Feiticeira




Ai, ai, nos teus olhos
as pestanas são aos molhos, aos molhos
ai, ai nos teus braços
as ternuras são aos maços, aos maços
ai, ai, nos teus olhos as pestanas
são aos molhos, aos molhos
e eu não as vejo faz semanas
nos teus olhos, teus olhos,
ai, ai, nos teus braços as ternuras
são aos maços, aos maços
faz já tempo que não me seguras
nos teus braços, teus braços

Ai, ai, ai feiticeira
ai, ai, ai feiticeira
cheira tão bem, sabe bem o teu feitiço
e de que maneira, e de que maneira
manda aí do teu feitiço
Isso!

Ai, ai na tua cama
é que o meu sonho se derrama, derrama
ai, ai, na tua rua
é que o meu passo desagua, desagua
ai na tua cama é que o meu sonho
se derrama, derrama
faz já muito dias que não o ponho
na tua cama, tua cama
ai, ai, na tua rua é que o meu passo
desagua, desagua
faz já meses que não o faço
passar na tua rua, tua rua

Ai, ai, ai feiticeira
ai, ai, feiticeira
cheira tão bem, sabe tão bem o teu feitiço
e de que maneira, e de que maneira
manda aí do teu feitiço
Isso!

Ai, ai, nos teus lábios
Os provérbios são mais sábios, mais sábios
E quem quer saber da vida bebe-os
Dos teus lábios, teus lábios
Ai, ai nas tuas veias
O amor anda às mãos cheias, mãos cheias
Ai, ai, na tua rua
É que o meu passo desagua, desagua
Ai, ai, na tua cama
é que o meu sonho se derrama, derrama
ai, ai nos teus braços
as ternuras são aos maços, aos maços
ai, ai nos teus olhos,
as pestanas são aos molhos, aos molhos

Biblioburro- The donkey library

sexta-feira, maio 21, 2010

Trovante - Fizeram os Dias Assim

Manuel Cruz - Ninguém É Quem Queria Ser

Ornatos Violeta - Punk Moda Funk (Official Videoclip)

Vozes da Rádio e Manuela Azevedo

Porto Porto - Porto cantado

Porto Cantado - Sou um gaijo do Puorto

Vozes da Rádio - O meu popó

João Monge e Jorge Prendas - Mudo tudo

Luis Represas e João Gil - Zorro

Francisco Louçã: "para onde é que vai o País?"

sábado, maio 08, 2010

Uma Noite Para Comemorar - Mafalda Veiga

Despesa não é apenas despesa


Fui dirigente em 2 direcções diferentes de uma associação de Comércio Justo. Numa delas, tivemos grandes discussões com os nossos parceiros, com as despesas que mantinhamos com actuais ou novos funcionários. Argumentavamos nós, que um funcionário não pode ser visto apenas como despesa, pois todo o trabalho que um funcionário (mesmo que apenas administrativo ou de sensibilização) faz, traz benefícios e tudo isso tem de ser contabilizado no saldo final.

Com os investimentos públicos, passa-se o mesmo!
Rui Rio chegou à Câmara do Porto e acabou com tudo o que era cultura.

Em Angra do Heroísmo, PSD e CDS fazem ataque cerrado à CulturAngra. A Câmara de Angra, começa a fazer cortes, e a acabar com eventos que já duram há anos, como o AngraRock, por exemplo, pois o orçamento para a CulturAngra tem sido boicotado pela direita.
A direita, vê despesa, e quer acabar com ela, não vê que a despesa pode gerar riqueza. Se não para a autarquia, para os seus munícipes. E uma autarquia não se deve preocupar com isso? Custa muito a entender, que havendo (p.e.) bom cinema, com regularidade, os cafés e restaurantes perto do Centro Cultura de Angra, lucram com isso? E é só um exemplo!

E o mesmo se passa com as grandes obras nacionais. Sócrates parece ter descoberto há dias na Assembleia da República num debate com Francisco Louçã, que o Bloco de Esquerda é a favor do investimento público.
Francisco Louçã é subscritor de um documento a defender as grandes obras.
Pessoalmente, não vejo que seja preciso um TGV, não para ligar o país, posso aceitar que seja importante para nos ligarmos à rede da Alta Velocidade Europeia, já para ligar Porto-Lisboa-Faro, penso ser desnecessário, quando o actual Alfa-Pendular pode andar à mesma velocidade do TGV, desde que com outras linhas.
Quanto ao novo aeroporto sou absolutamente contra! Lisboa não precisa de um novo aeroporto! Se está prestes a ficar suturado (se é que isso é mesmo verdade, pois já vi reportagens em que mesmo isso é duvidoso), é verdade é que está assim porque tudo passa por lá. São inúmeros os exemplos que tenho (eu para ir a Malta, tive de apanhar voo em Lisboa, a minha mãe para ir a Porto Santo também, a minha irmã para ir à Suiça, idem aspas, e na Terceira, quando 80% dos continentais que cá estão querem ir para o Porto, são obrigados a irem para Lisboa, pois voos Terceira-Porto só há de Junho a Setembro...). Se houver uma descentralização, se as pessoas não forem obrigadas a passar por Lisboa, ver-se-á que a Portela está aí para as curvas.
Apesar desta opinião pessoal, sou claramente a favor de que o país precisa de investimento e de obras. A medida que o Bloco anunciou agora para substituir o aeroporto (caso ele não venha a ser adjudicado, pelo que se antevê das recentes palavras de Sócrates), parece-me boa: investir na requalificação de casas. Esse tipo de despesa, trará bons proveitos e é um investimento absolutamente necessário.

Guilherme Rietsch Monteiro

Padre Mário da Lixa-Papa em Portugal, não, obrigado.avi.AVI

Topo de Gama

tenho um telemóvel topo de gama
mas ninguém me liga
mas ninguém me chama

tenho um automóvel cor azul índigo
ninguém quer boleia
ninguém vem comigo

tenho um apartamento virado para o mar
ninguém bate à porta
ninguém vem jantar

será que sou feio será que sou chato
será que vou dar em bicho do mato
será que sou giro mas giro ao contrário
será que estou preso dentro de um armário
não estás não senhor
apenas agora ficaste de fora
das contas do amor

tenho as medidas de um manequim
a beleza certa
ninguém dá por mim

tenho um bom emprego muito produtivo
até vale tirar olhos
é tão competitivo

tenho um consultório com um bom divã
onde deito a alma
e conto à mamã

será que sou feio será que sou chato
será que vou dar em bicho do mato
será que sou giro mas giro ao contrário
será que estou preso dentro de um armário
não estás não senhor
apenas agora ficaste de fora
das contas do amor

História Trágica Com Final Feliz (Completo)