Catarina Lacerda
Nasci em Massarelos, na Maternidade Júlio Dinis, como grande parte da população nascida no Porto. Vivi até aos 19 anos numa casa amarela com jardim, cão e quintal, pais e avós, junto ao rio e perto do mar. Quando terminei o secundário senti a necessidade de perceber melhor o bichinho da representação. Ter estudado economia fez-me perceber que o caminho dos números, que até dominava, não seria o meu. Andava um pouco indecisa e fui fazer terapias vocacionais de grupo na Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto. Tornou-se aí evidente que tinha que avançar com isto do teatro. Ser actriz é um jogo de risco e prazer, um abismo feliz. Quanto mais arriscas, mais prazer podes ter. É isso que me move. Serei actriz enquanto me preencher, mas imagino-me a fazer muitas outras coisas desde que haja vontade, tempo e conjunturas favoráveis. A ordem não é aleatória. O cinema é um território novo para mim. Tudo começou no final de 2006. Um amigo reencaminhou-me um «e-mail» para um «casting». Alguns meses depois estava em pleno Coentral, aldeia da serra da Lousã, nas filmagens de «Deus Não Quis». O argumento é baseado na canção tradicional portuguesa «Laurindinha». Conta-nos a história quase feliz de um jovem casal separado pela guerra. A Laurindinha, personagem que interpreto, é uma mulher que vê o seu grande amor partir para a guerra e oscila entre um misto de cheio e vazio. O cheio daquilo que a une ao seu amor, o vazio perante a inevitabilidade dessa separação. É um sentimento profundamente humano, creio. Receber um prémio no Chipre, um país onde se pressente a tensão política e militar, foi especial. Nicósia é atravessada por um muro. De um lado cipriotas turcos, do outro cipriotas gregos. Ao fugir da guerra, as famílias turcas e gregas deixaram para trás casas devolutas. Essas casas, e as suas histórias, foram ocupadas por outras famílias turcas e gregas. Ver as pessoas saírem da projecção emocionadas e agradecerem o filme, torna-o duplamente especial. Há registo do surgimento das primeiras sardas pelos meus três anos. Fazem parte do carimbo que é o meu rosto e variam de estação para estação: são imensas no Verão, mais raras no Inverno.
A actriz é a protagonista de «Deus Não Quis», produzido pela ZED Filmes, e a vencedora do Prémio de Melhor Actriz no Festival Internacional de Curtas-Metragens do Chipre
Texto de Nelson Marques in Expresso
Parabéns, Catarina!
Beijinhos,
Gui
2 comentários:
Nasceu há quanto tempo em Massarelos?
Pois não sei! ;-)
Eu nasci há 33, no mesmo sítio. A Catarina é mais nova do que eu uns anitos, não sei ao certo quantos.
Enviar um comentário