O PSD encontrou a solução política que poria fim imediato à insegurança, acabaria com os assaltos às bombas de gasolina, com o carjacking, com os conflitos armados nos bairros sociais, enfim com a desordem. Demitia-se o ministro da Administração Interna. Já! O da Justiça pode ficar, embora a instrução dos processos em que criminosos são soltos por leis absurdas e polícias retidos em interrogatórios tenham tudo a ver com os absurdos dos códigos penal e do processo penal engendrados em regime de pactos de bloco central, onde o PSD tem, também, a sua grande quota de responsabilidade.
Não interessa tão-pouco lembrar o superdesastre dos anos 90 quando, por supostas razões de eficiência de custos e meios, se reduziu o número de esquadras e se criaram as superesquadras de Dias Loureiro e Cavaco Silva, num governo em que Manuela Ferreira Leite participou. E tudo isto são pormenores do grande disparate governativo que têm um contributo directo na terrível situação a que chegamos, e que o PSD nesta encarnação acha que se resolve demitindo ministros.
A meio da crise. Neste caso, querem que seja Rui Pereira, apesar de ser sob a sua direcção que a Polícia tem tido mais eficácia e menos ambiguidade na gestão dos mais perigosos episódios na história do crime em Portugal.
Depois do ensurdecedor silêncio sobre a vida pública em Portugal, ao fim de três meses de retiro o novo PSD não tem nem propostas concretas, nem aplausos de solidariedade para o que tenha sido bem conduzido, nem críticas ao que de mal esteja a ser feito. Do actual PSD vêm apenas dois registos. O silêncio do vazio de ideias e, agora, esta "exigência" de demissão, que por si só é manifestamente um eco da falta de qualquer outra proposta política séria. Como a própria Manuela Ferreira Leite disse no inconclusivo artigo que recentemente escreveu "a segurança interna é uma função da exclusiva competência do Estado e sobre a qual só se têm ouvido responsáveis intermédios". Presumo que estivesse a fazer a sua autocrítica depois de ter falhado um pronunciamento sobre o modo como o Governo actuou no sequestro do BES quando o PSD estava de férias e não as interrompeu. Se a insegurança no país preocupa a dr.ª. Manuela Ferreira Leite então devia ter vindo já há bastante tempo dar uma palavra de serenidade ao país. Uma palavra que teria tido todo o eco nacional que o PSD quisesse se, por exemplo, tivesse sido dita no comício do Pontal, que preferiu ignorar com os seus esfíngicos silêncios, que os indefectíveis defendem como obras-primas de "estratégia". Aí poderia ter dito, por exemplo, que uma política de segurança nacional tem de ser isso. Nacional. Não pode ser objecto de guerrilhas partidárias, com tiros de pólvora seca a pedir demissões sem mais propostas. A política de segurança nesta crise tem de ser desinibidamente consensual, sem soluções pronto-a-vestir para problemas de extrema gravidade. Um desses seus incondicionais apoiantes, Vasco Graça Moura, escreve no "Diário de Notícias" que "toda a gente sabe que o Pontal não tem hoje importância nenhuma". O dr. Graça Moura tem razão, como sempre. Só que a sua verdade é ainda mais ampla desta vez. De facto, toda a gente sabe que o PSD hoje não tem importância nenhuma.
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