segunda-feira, setembro 08, 2008

Povo americano, eis a votação do júri de Castelo Branco

Ricardo Araújo Pereira in Visão


De quatro em quatro anos, os analistas portugueses discutem as eleições americanas e, como é óbvio, influenciam decisivamente o seu resultado. Nenhum sociólogo responsável deixou de registar, aqui há tempos, a célebre crónica de Luís Delgado, intitulada Eu voto Bush, e a responsabilidade que essa corajosa declaração de voto teve na vitória do actual presidente. Menos bem sucedida, mas igualmente ousada, foi, há quatro anos, a iniciativa do vespertino A Capital. O jornal, entretanto extinto (e ninguém me convence de que a sua extinção não teve mãozinha da CIA), anunciou que iria adoptar uma linha editorial que defendia a derrota de George W. Bush. Hoje, sou eu que me encontro na posição de comunicar aos americanos a minha intenção de voto. É uma honra, tanto para mim como para eles.
A verdade é que não tenho intenção de votar em ninguém. Já encontro sérias dificuldades para decidir em quem votar no meu próprio país, quanto mais nos outros. Além disso, ao contrário da generalidade das pessoas de esquerda, eu não quero que Barack Obama ganhe as eleições. Quero que Barack Obama seja Presidente – o que não é bem a mesma coisa, como Al Gore bem sabe.
Em todo o caso, não ficarei especialmente abalado se Obama não for Presidente. Creio que sou imune ao efeito que a política americana produz nos portugueses. Se os democratas ganharem as eleições, os portugueses de direita que agora odeiam Obama vão acabar por lhe dedicar o amor que qualquer Presidente dos EUA lhes merece, e os portugueses de esquerda que agora o apoiam acabarão por desprezar o chefe dos imperialistas assim que ele jurar a Constituição. Pelo sim, pelo não, eu vou mantendo uma coerente indiferença perante todos os candidatos. É uma atitude que os magoa, nota-se, mas eu sou mesmo assim.
Por outro lado, embora preferisse a vitória de Obama, não deixo de reconhecer que a campanha de McCain me parece mais interessante. O candidato republicano conheceu a senhora que escolheu para vice-Presidente há apenas seis meses, e só esteve com ela uma vez antes de a anunciar como sua companheira na corrida à Casa Branca. É uma espécie de vice-presidência à primeira vista, o que acaba por ser enternecedor. Além disso, Sarah Palin tem 44 anos e foi primeira dama de honor no concurso de Miss Alaska de 1984. Ora, escolher uma mulher quase 30 anos mais nova que já foi modelo não é política: é crise de meia-idade. Qualquer homem que sabe o que isso é não pode deixar de simpatizar com McCain.
Além disso, a candidatura dos republicanos tem capacidade para fazer história. É certo que Obama pode ser o primeiro Presidente negro, mas Palin pode ser a primeira mulher. Reparem: McCain tem 72 anos. Segundo o World Fact Book, editado pela CIA, a esperança de vida média de um americano é de 75 anos. Há, por isso, uma forte hipótese de Sarah Palin vir a ser Presidente dentro de três anos. Enquanto os democratas propõem Obama e Biden para a presidência em 2008, os republicanos apontam McCain para 2008 e Palin para 2011. Oferecem dois presidentes em vez de um. Pode ser um bom negócio.

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