sexta-feira, setembro 05, 2008

Um dia na vida de um português em Agosto de 2008

Ricardo Araújo Pereira in Visão


8h30 – José Silva acorda e constata que a sua casa foi assaltada durante a noite. Espreguiça-se. Toma banho tentando poupar a água, toma o pequeno-almoço tentando poupar o leite e põe-se a caminho do emprego tentando poupar os sapatos.

9h00 – Empurra o carro até à bomba de gasolina e é assaltado duas vezes: a primeira pela gasolineira, que voltou a aumentar os preços do combustível; a segunda por criminosos armados, que lhe levam o pouco que ainda restava na carteira. Boceja. Conclui que prefere os segundos assaltantes, na medida em que roubam menos e com menor frequência. Nota que, apesar disso, a polícia não faz qualquer esforço para apanhar os primeiros.

10h00 – Já na estrada, é vítima de carjacking. Encolhe os ombros. Prossegue a pé.
10h05 – Um gang tenta assaltá-lo. Explica que ficou sem a carteira num assalto anterior.

10h10 – Outro gang tenta assaltá-lo. Fornece a mesma explicação. Os membros do gang colam-lhe um autocolante na lapela para que futuros meliantes saibam que já foi assaltado nesse dia e evitem perder tempo com ele. Recomendam-lhe que retire o autocolante assim que voltar a transportar valores.

11h30 – Vai ao banco levantar dinheiro.

11h32 – Criminosos armados irrompem no banco. Clientes e funcionários formam calmamente uma fila e tiram senhas para serem assaltados por ordem.

11h35 – O criminalista Moita Flores irrompe no banco e começa a comentar o assalto junto de um grupo de clientes. Tece várias considerações sobre um novo tipo de criminalidade violenta que parece estar a aumentar no nosso país, aponta as limitações da polícia e sublinha as incongruências do novo código de processo penal. Alguns clientes oferecem-se para serem sequestrados, caso os assaltantes lhes garantam que os levam para longe do criminalista Moita Flores.

11h45 – O criminalista Moita Flores interpela os assaltantes e comunica-lhes que o método que escolheram para levar a cabo o assalto não é o melhor, criticando sobretudo a não utilização de luvas e tecendo alguns reparos ao plano de fuga, que considera extremamente frágil.

11h46 – Um dos assaltantes dispara duas vezes sobre a perna do criminalista Moita Flores.

11h47 – Clientes e funcionários do banco homenageiam os assaltantes com um forte aplauso.

17h30 – Depois de várias horas de sequestro, o assalto termina. A polícia detém os criminosos, resgata os reféns e amordaça o criminalista Moita Flores, para que vá receber assistência hospitalar.

18h00 – Por sorte, mal acaba de sair do banco, José Silva encontra o seu carro abandonado na berma da estrada. Entra
no veículo e dirige-se para casa.

18h05 – É detido pela polícia por se encontrar a conduzir um carro que foi usado em diversos crimes.

20h00 – É identificado e preso. Na cela, verifica que o relato da sua vida é extraordinariamente demagógico e conclui que toda a sua existência podia ter sido inventada por Paulo Portas. Chora.

1 comentário:

Guilherme Monteiro disse...

Quando a ficção a realidade se confundem...

Casal assaltado duas vezes em doze horas

ANDRÉ CORDEIRO in JN

Um casal de idosos, residente em Santa Cruz do Bispo, Matosinhos, foi assaltado duas vezes no espaço de 12 horas, na tarde de domingo e na madrugada de segunda-feira. Da segunda vez, o casal estava em casa a dormir.

"Levaram o ouro todo que a minha esposa tinha numa gaveta, três salvas de prata que estavam na sala e uma figura do menino Jesus". Este foi o produto do assalto ocorrido, anteontem à tarde, quando o casal de idosos, com 78 e 82 anos, se encontrava fora de casa. "Quando voltei, estava tudo remexido. Abriram gavetas e partiram três portas, que eu deixo fechadas sempre que saio ", disse o proprietário da casa. Os assaltantes entraram pelas traseiras do edifício, partiram o vidro de uma janela e forçaram a persiana. Tudo isto em plena luz do dia e sem que alguém se apercebesse de alguma coisa. "Depois de entrar no meu terreno, ninguém os ouvia. Fizeram o que quiseram", refere. Os ladrões ainda deixaram um saco preto vazio, sem qualquer razão aparente.

No entanto, o mais insólito aconteceu durante a madrugada de ontem, uma vez que os assaltantes voltaram, mas desta vez não levaram nada, e com os dois idosos a dormir no interior da casa. "Estávamos a dormir na sala. Eu acordei por volta das três da madrugada e pareceu-me ver luz, mas pensei que fosse dos meus olhos. Deve ter sido por essa hora que eles cá estiveram". Mais uma vez ninguém deu por nada. O mais estranho é que os assaltantes voltaram a deixar um saco preto, que dessa vez não estava vazio. "Tinha um refrigerante e um saco que, segundo disseram os peritos, tinha droga. Disseram para o levar amanhã [hoje] à polícia com a lista das coisas que furtaram.

O caso está entregue à Polícia Judiciária.