segunda-feira, setembro 08, 2008

Lembrar uma amiga


Catarina Lacerda

Nasci em Massarelos, na Maternidade Júlio Dinis, como grande parte da população nascida no Porto. Vivi até aos 19 anos numa casa amarela com jardim, cão e quintal, pais e avós, junto ao rio e perto do mar. Quando terminei o secundário senti a necessidade de perceber melhor o bichinho da representação. Ter estudado economia fez-me perceber que o caminho dos números, que até dominava, não seria o meu. Andava um pouco indecisa e fui fazer terapias vocacionais de grupo na Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto. Tornou-se aí evidente que tinha que avançar com isto do teatro. Ser actriz é um jogo de risco e prazer, um abismo feliz. Quanto mais arriscas, mais prazer podes ter. É isso que me move. Serei actriz enquanto me preencher, mas imagino-me a fazer muitas outras coisas desde que haja vontade, tempo e conjunturas favoráveis. A ordem não é aleatória. O cinema é um território novo para mim. Tudo começou no final de 2006. Um amigo reencaminhou-me um «e-mail» para um «casting». Alguns meses depois estava em pleno Coentral, aldeia da serra da Lousã, nas filmagens de «Deus Não Quis». O argumento é baseado na canção tradicional portuguesa «Laurindinha». Conta-nos a história quase feliz de um jovem casal separado pela guerra. A Laurindinha, personagem que interpreto, é uma mulher que vê o seu grande amor partir para a guerra e oscila entre um misto de cheio e vazio. O cheio daquilo que a une ao seu amor, o vazio perante a inevitabilidade dessa separação. É um sentimento profundamente humano, creio. Receber um prémio no Chipre, um país onde se pressente a tensão política e militar, foi especial. Nicósia é atravessada por um muro. De um lado cipriotas turcos, do outro cipriotas gregos. Ao fugir da guerra, as famílias turcas e gregas deixaram para trás casas devolutas. Essas casas, e as suas histórias, foram ocupadas por outras famílias turcas e gregas. Ver as pessoas saírem da projecção emocionadas e agradecerem o filme, torna-o duplamente especial. Há registo do surgimento das primeiras sardas pelos meus três anos. Fazem parte do carimbo que é o meu rosto e variam de estação para estação: são imensas no Verão, mais raras no Inverno.

A actriz é a protagonista de «Deus Não Quis», produzido pela ZED Filmes, e a vencedora do Prémio de Melhor Actriz no Festival Internacional de Curtas-Metragens do Chipre


Texto de Nelson Marques in Expresso


Parabéns, Catarina!

Beijinhos,
Gui

2 comentários:

Anónimo disse...

Nasceu há quanto tempo em Massarelos?

Guilherme Monteiro disse...

Pois não sei! ;-)
Eu nasci há 33, no mesmo sítio. A Catarina é mais nova do que eu uns anitos, não sei ao certo quantos.