sexta-feira, julho 11, 2008

Silly Season

Jorge Prendas
in, Vozes da Rádio

Não sei bem o que é isso da silly season, porque vivo uma constante silly life, rodeado por colegas de grupo completamente sillies. No entanto ontem, ao estrebuchar da manhã, comecei a perceber melhor este conceito associado ao Verão e ao tempo quente.
Ainda me mentalizava que tinha de me levantar, quando leio no rodapé da SIC notícias: “Delfins deverão anunciar para a semana o fim do grupo”. Virei-me mais uma vez na cama e pensei nisto. Porque se anuncia um anúncio, quando já se sabe o que vai ser dito? Qual é o interesse em saber que para a semana o grupo vai dizer que já morreu? Se agora nos aparecesse na pantalha (adoro este estrangeirismo) o Churchill a dizer que ia morrer, alguém duvidava? Não estamos perante um anúncio do anúncio do cadáver a anunciar que vai morrer? Fui moendo estas ideias, enquanto pelo canto do olho ia lendo mais notícias em rodapé. Ainda esperei ver mais anúncios destes mas dos Pólo Norte, nada… apenas o desprendimento de umas placas de gelo na Patagónia, que fica no lado B do mundo.
No banho fiz a associação que me abriu o entendimento do que é a silly season. A canção “não sejas silly/ não sejas silly/ não sejas silicone/ como a Sharon Stone” dos Delfins faz-me entender o anúncio do anúncio. É a silly season a despertar! Lembro-me bem de ouvir a explicação para o pouco sucesso do disco onde estava esta pérola. “Um disco maduro, que o público não percebeu”. Só já não me lembro se na altura houve anúncio para anunciar que somos uma cambada de burros.
O dia continuou, e eu já precavido, fui olhando para a vida com olhos bem mais silly que habitualmente. A meio da tarde entro num café (se não me engano de nome “Paulinha”, o que só por si é silly) e vejo que na TVI estava a ser transmitido em directo um concurso. Não sei do que se trata, mas vi uma jovem concorrente e ao lado dela o seu perfil. Sonho: ser proprietária de uma cresce. Ainda vacilei e olhei de novo. Cresce, sim estava escrito cresce. Se pensarmos de forma silly, está bem escrito. Uma creche é um aviário humano, onde se depositam pequenos seres e de onde saem crianças, muitas delas bem badochas, já com voz de gente. É um local de crescimento. A Academia das Letras devia desde já aceitar este novo grafismo para creche e até enquadrá-lo etimologicamente.
Novo concorrente. Moço nos seus vintes, perfil físico de cortador de carnes verdes e pelas informações dadas desempregado. Sonho: Passar férias nas ilhas do Pacífico. Outro sinal bem silly! O homem devia sonhar com trabalho, com formas mais decentes de ganhar a vida do que participar nos concursos da tarde… mas não, quer logo vida de lord, de preferência com um séquito de gajas boas ao lado! Triste sina a dele, que a pensar assim ainda acaba com o rendimento social de inserção…Muito silly!
Hoje, novo dia, e já imbuído do espírito universal da silly season, li mais sobre os nossos colegas músicos. Afinal o anúncio da próxima semana, foi ontem mesmo anunciado e é um fim ao estilo morte lenta. Ficou já marcado o concerto final para 2009! Mesmo para o último dia do ano. Daqui até lá, ficarão com certeza como o protagonista da Crónica de uma Morte Anunciada (que já li há mais de 20 anos, por isso não sei o nome do infeliz): toda a gente sabe que ele já está morto e só ele insiste em julgar que não.

Sem comentários: