quinta-feira, maio 15, 2008

Unidos contra o iogurte

Ricardo Araújo Pereira
in, Visão


Aqui há dois ou três anos, prometeram-me que iam ser criados 150 000 novos empregos e até agora nada, mas a malta da União Europeia está preocupada é com as promessas que os iogurtes não cumprem. São prioridades lá deles

A União Europeia quer pôr ordem no mundo dos lacticínios. Ora até que enfim. Alguém tinha que deitar a mão ao badanal que se vivia nos iogurtes. A partir de agora, os anúncios a iogurte só podem afirmar que o produto faz bem à saúde se as marcas conseguirem prová-lo cientificamente. Significa isto que a publicidade vai passar a ter de dizer a verdade. Não sei se aguento o choque civilizacional. Se vamos impedir os publicitários de mentir, há fortes probabilidades de os intervalos dos programas televisivos passarem a ser preenchidos com dez minutos de silêncio.

Aqui há dois ou três anos, prometeram--me que iam ser criados 150 000 novos empregos e até agora nada, mas a malta da União Europeia está preocupada é com as promessas que os iogurtes não cumprem. São prioridades lá deles. Parece que aquele iogurte que garante criar uma bolha amarela de protecção à volta das pessoas para as proteger das bactérias vai mesmo ter de provar que cria a bolha amarela. Era bem feita que conseguisse. Acredito mais nisso do que nos 150 000 empregos – apesar de nunca ter visto nem a bolha nem os empregos.

Acima de tudo, eu levo a mal que os burocratas de Bruxelas queiram acabar com os anúncios, logo a minha parte favorita da programação. Quem é o génio residente na Bélgica que pretende impedir-me de contemplar a protagonista do anúncio dos Corpos Danone, mas não levanta qualquer objecção a que eu assista às Chiquititas?
É a isto que eles chamam proteger o cidadão?

Bom, eu sei que os anúncios aos chamados alimentos saudáveis andavam a pedi-
-las. Há para ali muita promessa de salvação e melhoramento do meu organismo que nunca me convenceu – e é sobretudo por isso que eu continuo a fazer uma dieta à base de fritos e gorduras, produtos que nunca tentaram persuadir-me de que me fariam viver mais um dia que fosse. Aprecio a honestidade nos víveres, e a entremeada nunca me tentou enganar.

Em todo o caso, sinto algum desconforto pelo facto de a União Europeia considerar que eu preciso de ser defendido das patranhas do bifidus activo. Quem é que eles julgam que o bifidus activo engana? Ele que me tente convencer de que regula os meus intestinos, a ver se eu caio nessa. Seres humanos, alguns dos quais dotados de entendimento, nunca me apanharam com a história do time sharing, e ia agora cair na esparrela do aloé vera, que nem ao reino animal pertence? Tenham juízo.

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