in, Visão
Neste momento, há cinco candidatos a presidente do partido, sendo que entre estes se incluem alguns que todos sabemos não terem a mais pequena hipótese de ganhar umas eleições nacionais, como um Neto da Silva ou, imagine o leitor, um Santana Lopes
Toda a gente concorda que o PSD faz falta ao país. Ninguém sabe bem para quê, mas é consensual que faz falta. Pessoalmente, não tenho nada contra os sociais-democratas. Do ponto de vista ideológico, nada me afasta do PSD.
É muito difícil divergir ideologicamente de um partido que não tem ideologia nenhuma. Recordo que o presidente mais bem sucedido de sempre do PSD ficou conhecido, não pelo programa político que apresentou num congresso, mas por ter lá ido fazer a rodagem de um carro. Só por embirração eu poderia arranjar divergências ideológicas com aquela gente, e é por isso que o facto de PS e PSD continuarem a descobrir matéria para discordar entre si me deixa sempre surpreendido. Deve ser um esforço tremendo.
Bom, nada de exageros. É evidente que há dois ou três traços ideológicos no partido. O PSD tem muito apreço pela iniciativa privada, e talvez isso explique a razão pela qual nenhum dos militantes tenha especial vontade de gerir a coisa pública. O problema é que se torna muito mais fácil termos êxito nas nossas iniciativas privadas se tivermos um companheiro a organizar as coisas públicas. Normalmente, o PSD (e o PS) põe em prática um inteligente sistema de rotatividade em que alguns militantes vão suportando o aborrecimento de olhar pelo bem comum enquanto os outros vão tratar da vida, e depois troca. E assim sucessivamente. Mas, ultimamente, o PS tem gerido a coisa pública de modo agradável para os militantes do PSD que estão a tratar da vida, pelo que nenhum deles está suficientemente aborrecido para precisar de dar uns retoques na coisa pública.
Luís Filipe Menezes, entretanto, foi tão inofensivo para o Governo como Marques Mendes havia sido, mas Marques Mendes foi inofensivo de um modo muito mais respeitável. Como os militantes do PSD apreciam a compostura e a discrição, inquietaram-se. Neste momento, o PSD está de tal forma confuso que se torna difícil de compreender. Os militantes que fizeram excelente oposição a Luís Filipe Menezes não parecem interessados em fazer oposição a José Sócrates. E, na altura em que escrevo, há cinco candidatos a presidente do partido, sendo que entre estes se incluem alguns que todos sabemos não terem a mais pequena hipótese de ganhar umas eleições nacionais, como um Neto da Silva ou, imagine o leitor, um Santana Lopes. Ou o PSD recupera a credibilidade, ou não conseguirá voltar a ser alternativa a José Sócrates, para ir para o Governo fazer mais ou menos o mesmo que ele. É todo o nosso conceito de democracia que está em perigo.
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