Quando, há quinze dias, foi publicado um documento segundo o qual a ASAE tinha como objectivo efectuar 410 detenções só este ano, confesso que achei a meta muito ambiciosa. Mas agora que José Sócrates e Manuel Pinho foram apanhados a fumar num avião, suponho que já só faltem 408. Mais três ou quatro visitas oficiais e a ASAE pode meter férias em Junho. Sortudos. Além de saberem quais são os restaurantes menos badalhocos, ainda têm férias grandes. Quem me dera um emprego desses.
Como é evidente, a história do cigarro no avião deu polémica. Não era caso para menos: Sócrates foi visitar um dirigente sul-americano meio maluco, que manda fechar as estações de televisão que o criticam e chama Hitler a toda a gente, incluindo a pessoas com quem o primeiro-ministro tem boas relações. Até aqui, tudo bem. Mas põe-se a fumar a bordo? Realmente, é um escândalo. Para resolver o problema, Sócrates anunciou uma medida de grande alcance político: disse que ia deixar de fumar. Chamem-me cínico, mas parece-me que estamos na presença de mais uma promessa não cumprida. Se ele pretende cumprir as promessas por ordem, só deixará de fumar depois de criar os tais 150 mil empregos.
A Tabaqueira bem pode continuar a enrolar cigarros, que não fica sem este cliente. Por outro lado, tendo em conta que, deixando de fumar, Sócrates viverá mais tempo, não sei se a medida será benéfica para o País. Nesse sentido, é possível que não seja uma promessa, mas sim uma ameaça.
Não se pense, contudo, que o caso é desprovido de significado político. Ser apanhado a fumar dentro de um avião foi das atitudes mais populares que José Sócrates já tomou. Conhecendo o povo português, será difícil encontrar alguém que não tenha passado a simpatizar mais com ele.
O homem violou uma lei que ele mesmo inventou. O Sócrates, esse malandro, aprovou uma lei chata para os fumadores, mas o Sócrates, esse companheiro, transgrediu-a logo que pôde. O Sócrates, o nosso Sócrates, mostrou-lhes como é. Passou-lhes a perna. Se eles julgam que nos controlam, estão muito enganados. Bem podem fazer leis a proibir a malta: enquanto nós tivermos uma cortina para fumar à socapa, ninguém nos apanha. O primeiro-ministro José Sócrates é, no fundo, um tuga. Sabe-a toda, o bandido.
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