quarta-feira, março 25, 2009

Os super-heróis

Manuel António Pina
in, JN


Na Tailândia, um menino autista de oito anos que se isolara na varanda de um 3.º andar e aparentemente fazia tenção de se suicidar foi salvo por um bombeiro que, sabendo quanto ele gostava de super-heróis, se vestiu de Homem-Aranha. "Parece incrível, mas o menino lançou-se-lhe nos braços assim que o viu", relatou o sargento Virat Boonsadao.

O autismo é uma doença terrível, causadora de grande sofrimento, segundo se supõe (sabe-se ainda muito pouco) provocado por uma insuportável e permanente tensão ao nível das meninges. Fazer deste caso, comovente, uma alegoria pode parecer cruel. Mas interrogo-me se os povos, como os indivíduos, não podem também ser "autistas", se o alheamento, os interesses limitados, o défice de atenção e a incapacidade de resposta ao que, a nível social e político, se passa à sua volta, acompanhados do gesto repetitivo de votar sempre nos mesmos partidos, não serão características de uma cultura autista. Povos assim lançam-se facilmente nos braços do primeiro bombeiro que, vestido de super-herói, lhes aparece pela frente. Basta ver as sondagens.

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