quinta-feira, outubro 16, 2008

O Juízo Universal

Manuel António Pina, in JN


Afinal o fim do mundo não começou no buraco negro que o Grande Colisor de Hadrões ia gerar algures na Suíça, começou no buraco negro gerado na Wall Street pela colisão das expectativas dos especuladores financeiros com a realidade, que está a engolir bancos e países, boas intenções e intenções nem por isso, teorias económicas e terceiras vias políticas.

Já se sabia desde "Il Giudizio Universal", de Sica, que as pessoas reagem de diferentes modos ao Dilúvio: há quem compre a alma, quem compre galochas, quem venda guarda-chuvas e quem aproveite os últimos minutos em orgias apocalípticas nos andares altos. Os executivos da AIG são deste tipo. Mal receberam 85 mil milhões dos contribuintes para manter a empresa (a quem milhares de americanos confiaram os seus fundos de pensões) à tona, juntaram-se num fim-de-semana num "resort" de luxo da Califórnia onde investiram 440 mil dólares em jantaradas e spa. Segundo a ABC News, boa parte do investimento foi aplicado em manicures e pedicures. Provavelmente para embonecar a "mão invisível" que se diz que auto-regula o mercado. E, já agora, o pé.

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