segunda-feira, maio 07, 2012

Houve dias em que não quisemos ser felizes

Houve dias em que não quisemos ser felizes.
Impusemo-nos uma tristeza com estilo, uma melancolia importada de terras longínquas e cinzentas. Ouvíamos ecos de cidades industriais, cantados pelos novos mártires. “Here are the young men”, diziam. E estranhamente, éramos nós esses jovens, aparentemente com o peso do mundo às costas, vestidos de gabardinas que nos identificavam como pessoas esclarecidas. Eu sei. Eu estive lá.
Foi neste quadro que nasceu a Sétima Legião. Primeiro, um improvável power trio que conquistou um segundo lugar num anónimo concurso de música moderna.
Depois, pouco depois, um colectivo que rasgou as molduras em que os quiseram enclausurar e arrastaram consigo toda a novíssima música portuguesa.
Esta colecção de canções traz alguns dos sinais. Dos primeiros tempos ingénuos e generosos (mas nem por isso menos geniais) de “Glória” (1982) ou “O Canto e o Gelo” e “Manto Branco” (1984) a “Monção” (1988) foi longo o caminho percorrido por este grupo de amigos. E ainda há tempo para recordar os hinos (“Sete Mares”, “Por quem não esqueci”) e saborear os dois inéditos – curiosamente com um travo saudavelmente nostálgico.
No fim, o segredo da Sétima Legião ainda continua por desvendar. A única coisa que sabemos é que o tempo não irá roubar estas canções.

Nuno Miguel Guedes
2000
in A história da Sétima Legião – canções 1983-2000

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