Os socialistas estão a tentar convencer os eleitores de que as pessoas de esquerda são do PS, e Manuela Ferreira Leite está a ver se ninguém repara que Alberto João Jardim é do PSD
in: Visão
O leitor mais perspicaz já terá percebido a relação próxima que existe entre as listas do PS com candidatos de esquerda e o Hindenburg da Madeira, o zeppelin do PND que levou tiros de caçadeira em Chão da Lagoa. Infelizmente, porém, só uma pequena parte dos meus leitores é perspicaz - de outro modo, não seriam meus leitores. E é por isso que, por muito fastidioso que isso possa ser para os meus leitores mais perspicazes, me vejo obrigado a explicar aos menos perspicazes a razão pela qual as listas do PS e o zeppelin da Madeira são factos que devem ser analisados em conjunto.
Eu resumo os factos: Manuela Ferreira Leite contraiu uma conveniente gripe, e por isso ficou impedida de ir à ilha em que a propaganda dos partidos da oposição é abatida a tiro. Os assessores da presidente do PSD esclareceram que ela não sofria de gripe A, mas parece evidente que estamos perante um caso de gripe AJJ. Aos sintomas da gripe, junta uma espécie de alergia a Alberto João Jardim, que também é muito incomodativa. Quanto ao PS, está a formar listas de candidatos à Assembleia da República com gente que não é do PS. Ou seja, os socialistas estão a tentar convencer os eleitores de que as pessoas de esquerda são do PS, e Manuela Ferreira Leite está a ver se ninguém repara que Alberto João Jardim é do PSD.
A tarefa de Manuela Ferreira Leite será, provavelmente, mais difícil. Sobretudo porque tem sido tentada por quase todos os presidentes do PSD, sempre sem grande sucesso. Já a tarefa do PS, é sazonal. A mais curiosa característica do PS será, talvez, esta: quando está na oposição é um partido de esquerda, quando está no governo transforma-se no PSD. Habitualmente, por isso, a escolha dos eleitores faz-se entre o PSD normal e o PSD do Largo do Rato.
A estratégia do PS é interessante sobretudo porquanto dificulta o trabalho do PSD: quando estão no governo, os sociais-democratas enfrentam um opositor feroz que considera vergonhosas as suas políticas; quando está na oposição, o PSD tem de inventar discordâncias com um governo que é extremamente parecido com o seu.
O problema das listas do PS é que parecem desenhadas para compor a bancada socialista quando está na oposição. É verdade que, somados, os partidos à esquerda no PS tiveram, nas últimas eleições, mais de 20% dos votos, e é natural que os socialistas queiram recuperar alguns desses eleitores. Mas, na eventualidade mais ou menos remota de o PS ganhar as legislativas, terá a bancada parlamentar minada por gente que não costuma apoiar o PSD do Largo do Rato. Um putativo governo do PS terá maioria nas urnas, mas não no seu grupo parlamentar. Lá divertido vai ser.
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