in, Sol de Esquerda
«Não entregarás a seu senhor o escravo que se tiver refugiado junto de ti, fugindo dele. Ficará contigo, entre os teus, no lugar que escolher numa das tuas cidades, onde lhe parecer bem» (1).
Lembram-se? Não? Então aqui vai outra: «Quando um forasteiro residir junto de ti, não o oprimas. Considerarás o forasteiro como um do teu povo e o amarás como a ti mesmo, pois forasteiros fostes na terra do Egipto» (2).
Estas citações do Velho Testamento deviam ter sido inscritas a ouro na cabecinha de cada um de nós. Para que quem estivesse em frente nunca esquecesse. Escrevo com amargura, porque amargo foi aquele fim de manhã em Estrasburgo, onde uma maioria de deputados, na sua quase totalidade cristãos esquecidos, votaram a mais vergonhosa directiva de que me lembro desde que me sento naquele Parlamento.
Vergonha, sem tirar nem pôr. Quando uma lei admite a detenção de um ser humano até 18 meses, sem ter sido condenado ou ter cometido qualquer crime, senão o de procurar melhorar a sua vida e a dos seus, é porque algo de muito grave apodreceu nesta Europa e nas nossas cabeças.
Quando essa mesma lei admite idêntico tratamento para menores, acompanhados ou não, já nem de vergonha, mas de pura desonra se trata. Acusem-me de moralista à vontade. Porque se houve momento em que política e moral se dissociaram sem apelo nem agravo – este foi um deles.
Por isso, tomem lá com outra citação: «Porque tive fome e vós não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber. Fui forasteiro e não me recolhestes. Estive nu e não me vestistes, doente e preso e não me visitastes. Então… eles responderão: ‘Senhor, quando é que te vimos com fome ou com sede, forasteiro ou nu, doente ou preso e não Te servimos?’ E Ele responderá: ‘…todas as vezes que o deixastes de fazer a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer» (3).
(1) Deuterónimo 23. 16,17;(2) Levítico 19,33; (3) Mateus 25. 42-45
Não sou cristão, e sei que peco, porque lanço sobre os responsáveis da directiva com o que mais os pode incomodar, se é que ainda algo os incomoda, para lá da sua vidinha e das mordomias do poder.
Para que se saiba – e não sou de queixas – os responsáveis por esta regressão em matéria de valores fundamentais têm nome. Foram os governos da União, todos sem excepção; a comissão Barroso; e uma maioria de deputados onde se encontraram a extrema-direita, a direita, os liberais e ainda 49 socialistas em cega obediência aos respectivos governos.
Esta gente decide sobre a vida dos outros como se estivesse no Olimpo. Esta semana trouxe outro exemplo desta arrogância fatal: ao contrário do que fizeram com o Tratado Constitucional, após o chumbo francês e holandês, os governos decidiram prosseguir com as ratificações em resposta ao ‘Não’ irlandês. E ainda dizem que não há filhos e enteados. Melhor ainda, querem que a Irlanda faça novo referendo. Eles, que tudo fizeram para os impedir nos seus países. Falta-lhes em vergonha o que lhes sobra em descaramento.
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